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A surpreendente identidade das aves gigantes desenhadas no chão em Nazca, no Peru

As aves gigantes desenhadas no chão em Nazca, no Peru - Getty Images
As aves gigantes desenhadas no chão em Nazca, no Peru Imagem: Getty Images

21/06/2019 08h28

Cientistas japoneses descobriram que hipóteses anteriores sobre a identidade das espécies desenhadas há 2 mil anos estavam erradas.

Elas são tão grandes que sua beleza só pode ser apreciada do ar. As enigmáticas linhas e geoglifos de Nazca, a cerca de 400 quilômetros de Lima, no Peru, foram entalhadas no chão há cerca de dois mil anos por sociedades pré-incas.

Os desenhos, que podem medir mais de 250 metros, foram feitos entre 400 a.C. e 1000 d.C., através da remoção de pedras da superfície marrom-avermelhada do deserto Nazca, expondo o subsolo cinza amarelo.

As figuras estão localizadas em uma área de aproximadamente 450 quilômetros quadrados - e muitas são representações geométricas de animais e plantas.

Um novo estudo conduzido por cientistas japoneses desvendou um dos vários mistérios que cercam as figuras: a identidade de algumas das aves gigantes.

Detalhes anatômicos

Os pesquisadores usaram uma abordagem ornitológica (ramo da biologia que estuda os pássaros) para analisar os desenhos.

"Até agora, as aves dos geoglifos haviam sido identificadas com base em impressões gerais ou em algumas características morfológicas", afirma Masaki Eda, pesquisador do Museu da Universidade de Hokkaido, no Japão.

"Mas analisamos em detalhes as formas e tamanhos relativos aos bicos, cabeças, pescoços, corpos, asas, rabos e patas. E comparamos esses dados com os de aves modernas no Peru."

Takeshi Yamasaki, do Instituto de Ornitologia Yamashina, e Masato Sakai, da Universidade Yamagata, também participaram do estudo.

Os cientistas analisaram com base no enfoque ornitológico 16 dos mais de 2 mil desenhos presentes em Nazca.

E a análise ornitológica revelou que as hipóteses anteriores sobre a identidade das aves estavam erradas.

Eda e seus colegas reclassificaram como um colibri-eremita um pássaro que até então havia sido identificado genericamente como beija-flor.

A análise reclassificou a ave como um colibri-eremita. O pássaro até então havia sido identificado genericamente como beija-flor - Getty - Getty
A análise reclassificou a ave como um colibri-eremita. O pássaro até então havia sido identificado genericamente como beija-flor
Imagem: Getty

E duas figuras que haviam sido catalogadas como uma ave-guanera e um pássaro não identificado são, em ambos os casos, pelicanos, de acordo com o estudo publicado na revista científica Journal of Archaeological Science: Reports.

Segundo os pesquisadores, outros desenhos que podem ser de condores ou flamingos não apresentam características ornitológicas suficientes para validar essa identificação e são muito diferentes das aves modernas.

Aves exóticas

A identificação das aves gera novos enigmas.

Embora as espécies desenhadas existam no Peru, elas só são encontradas em regiões distantes de Nazca.

Os colibris-eremitas, por exemplo, são uma espécie de beija-flor que vive em florestas nas encostas orientais da Cordilheira dos Andes e no norte, próximo ao Equador.

Os pelicanos, por sua vez, vivem ao longo da costa.

"Os habitantes de Nazca poderiam ter visto pelicanos enquanto procuravam comida na costa", supõe Eda.

"Nossa pesquisa mostra que os autores desses geoglifos desenharam pássaros exóticos, e não aves locais".

"E talvez isso seja uma pista para entender no futuro por que eles fizeram esses desenhos."

Até hoje, o significado das linhas de Nazca, consideradas Patrimônio Mundial da Humanidade, é desconhecido.

Alguns pesquisadores consideram que se trata de um calendário. Outros alegam que era um observatório astronômico. Já os mais ousados afirmam que as linhas eram formas de comunicação com extraterrestres.

Os cientistas esperam identificar mais espécies usando restos mortais de pássaros escavados em Nazca e desenhos em cerâmica do mesmo período.