Oposição surpreende e vence primárias na Argentina com larga vantagem
Com maior parte das urnas apuradas, chapa de Alberto Fernández, que tem ex-presidente Cristina Kirchner como vice, teve 47,4% dos votos contra 32,3% para atual presidente do país, Mauricio Macri.
O candidato de oposição à presidência da Argentina, Alberto Fernández, venceu no domingo com larga vantagem as eleições primárias para a Presidência do país.
Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice em sua chapa, superou o atual presidente Mauricio Macri, candidato à reeleição.
Com 86% das urnas apuradas, a chapa de Fernández teve 47,4% dos votos contra 32,3% da de Macri.
O resultado ameaça as aspirações do presidente argentino de continuar à frente do país pelos próximos quatro anos.
Caso os números registrados nas primárias voltem a se repetir de fato na eleição, marcada para o próximo dia 27 de outubro, Fernández seria eleito em primeiro turno.
Para isso, ele precisa de mais de 45% dos votos ou mais de 40% e no mínimo 10 pontos percentuais de vantagem para o segundo colocado.
"Tivemos um mau resultado e isso nos obriga, a partir de amanhã, a redobrar nossos esforços para que, em outubro, obtenhamos o apoio necessário para continuar a mudança", disse Macri, reconhecendo sua derrota antes da divulgação dos primeiros resultados preliminares.
Já Fernández comemorou a vitória.
"A Argentina está dando à luz a outro país e, nesse país, o único trabalho que eu e Cristina temos é que os argentinos recuperem a felicidade que perderam", afirmou Fernández.
Corrida eleitoral
Em um clima de polarização eleitoral, os eleitores argentinos foram às urnas no domingo, 11 de agosto, para votar nas Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO).
Os principais candidatos eram o atual presidente argentino, Mauricio Macri, que tenta a reeleição, e Alberto Fernández, da oposição.
As PASO são a etapa prévia ao primeiro turno da eleição presidencial.
Cerca de 75% dos eleitores compareceram às urnas, segundo dados oficiais. O voto era obrigatório.
Fernández vinha liderando as pesquisas de boca de urna mais recentes.
A candidatura dele foi uma surpresa para o movimento peronista, já que a expectativa era que Kirchner, que comandou o país de 2007 a 2015, tentasse voltar à presidência.
No entanto, uma série de investigações de corrupção prejudicou os planos da ex-presidente.
A contagem final dos votos será divulgada pela Justiça Eleitoral a partir desta terça-feira, 13 de agosto.
As dez chapas de candidatos a presidente e vice-presidente, bem como as candidaturas a cargos parlamentares nacionais - em outubro, metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado serão renovadas - tinham que obter mais de 1,5% dos votos nas primárias para poder concorrer nas eleições gerais no dia 27 de outubro. O segundo turno, se necessário, ocorrerá em 24 de novembro.
As primárias foram criadas em 2009 com o objetivo de diminuir o número de candidaturas nas eleições.
A Argentina vive um período de forte crise econômica, com inflação alta, aumento nos índices de pobreza, queda no consumo e sinais incipientes de recuperação em alguns ramos da economia, a partir da colheita recorde do setor agrícola, definido por economistas como essencial para o país, e a retomada de vendas externas de produtos símbolos como a carne bovina e a conquista de novos mercados de exportações.
O debate eleitoral vem sendo pautado pela recessão no governo Macri e a herança econômica do kirchnerismo (2003-2015), que incluiu a falsificação de estatísticas, e as denúncias de corrupção envolvendo Cristina Kirchner, que tem uma série de processos na Justiça, e seus ex-auxiliares diretos, como o ex-vice-presidente Amado Boudou e o ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido, que estão presos.
Macri tem criticado o legado do kirchnerismo, enquanto Alberto Fernández e Cristina Kirchner, por outro lado, apontam para a escalada inflacionária e para a degradação social no atual governo.
Entenda como funcionam as eleições na Argentina
1. Votação
Os argentinos votaram em pré-candidatos de dez chapas eleitorais à presidência. Mas, como todas elas já definiram quem são seus representantes, a eleição estava sendo vista como uma espécie de primeiro turno ou uma ampla pesquisa eleitoral, como afirmaram os analistas e consultores políticos Raúl Aragón e Analía del Franco à BBC News Brasil.
Além de votar nos candidatos a presidente e vice, os eleitores votaram também nos candidatos a governadores das províncias onde as eleições são realizadas, como a de Buenos Aires, que é a maior do país e tem peso no resultado final. Também foram escolhidos os pré-candidatos a ocupar parte do Senado, deputados federais, deputados provinciais, vereadores e prefeitos, como o da cidade de Buenos Aires.
2. Importância das primárias
As primárias foram questionadas nesta eleição e dividiram opiniões dos analistas.
Para a diretora do Departamento de Ciência Política da Universidade de Buenos Aires, Elsa Llenderrozas, as primárias continuam sendo importantes no calendário eleitoral argentino. "Elas contribuem para que os partidos e as coalizões se organizem para o primeiro turno e permitem ao eleitor conhecer melhor cada candidato e suas propostas", disse.
Para a consultora política Analía del Franco, as primárias "movimentam o eleitorado" e "influenciam a participação e o resultado do primeiro e do segundo turno".
Aragón, no entanto, diz que "as primárias hoje não adiantam nada."
Nas pesquisas de opinião que realizou, o analista e consultor político Jorge Giacobbe disse que os eleitores mostraram "cansaço" em relação às primárias, já que os principais candidatos já foram definidos e o calendário eleitoral inclui uma espécie de três turnos (primárias, primeiro e segundo turno).
3. Apuração
Ao contrário do Brasil, onde o resultado é conhecido pouco depois do fechamento das urnas, na Argentina a votação e a apuração se parecem com os tempos em que não existiam urnas eletrônicas no território brasileiro.
Os fiscais dos partidos acompanham a apuração dos votos em cada uma das mais de 100 mil mesas espalhadas pelas escolas do país. Se estão de acordo com a contagem na mesa, eles assinam uma ata concordando com a contagem. As atas são enviadas ao Correio Argentino onde são computadas para o resultado provisório que, foi anunciado na noite de domingo.
4. Outros candidatos
A polarização entre as chapas de Macri e de Cristina eclipsou outras candidaturas, como a do ex-ministro da Economia do kirchnerismo, Roberto Lavagna - que chegou em terceiro e levou 8,3% dos votos de domingo.
Desde o início, ele tinha se mostrado contrário a disputar as primárias com outras pré-candidaturas de sua coalizão política, como apontam agora ex-aliados. Lavagna, por sua vez, repudiou a "polarização forçada" e, numa clara mensagem aos opositores Cristina e Macri, criticou o estancamento da economia argentina "que já leva oito anos" - quatro anos do segundo mandato da ex-presidente e os quatro anos do mandato macrista.
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