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Bolsonaro quer revogar decreto ambiental no RJ e criar "Cancún brasileira"

O presidente da república Jair Bolsonaro durante o encontro com sua Alteza Real, Mohammed bin Salman, Príncipe Herdeiro do Reino da Arábia Saudita. Foto: José Dias/PR - José Dias/PR
O presidente da república Jair Bolsonaro durante o encontro com sua Alteza Real, Mohammed bin Salman, Príncipe Herdeiro do Reino da Arábia Saudita. Foto: José Dias/PR Imagem: José Dias/PR

Ricardo Senra

Enviado da BBC News Brasil a Riade (Arábia Saudita)

29/10/2019 19h40

O presidente Jair Bolsonaro afirmou hoje que pretende usar recursos do fundo soberano da Arábia Saudita para criar um balneário na baía de Angra dos Reis (RJ) repleto de resorts inspirado em Cancún, no México.

O brasileiro jantou nesta terça-feira com o rei Abdullah II, da Jordânia, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o assessor especial e genro de Donald Trump, Jared Kushner, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, na última noite de seu giro pela Ásia e pelo Oriente médio, em Riade, capital saudita.

"Eu propus ao príncipe herdeiro investimento na baía de Angra para nós a transformarmos numa Cancún. Depois de uma explanação, ele falou que está pronto para investir na baía de Angra. Mas isso passa por um projeto para revogar um decreto ambiental", disse o presidente, que referia-se ao decreto que criou a Estação Ecológica de Tamoios, em 1990, assinado pelo então presidente José Sarney. A área corresponde a uma unidade de conservação federal de proteção integral e ocupa 5,7% da Baía da Ilha Grande.

Na região, onde estão segundo o governo pelo menos 10 espécies marinhas em extinção, não são permitidas atividades como mergulho, navegação, construções e pesca. A revogação depende do Congresso Nacional.

Os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disseram mais cedo nesta terça-feira que o fundo soberano saudita, o Fundo de Investimento Público (PIF), decidiu "investir por conta de US$ 10 bilhões no Brasil". Nenhum investimento específico foi anunciado, nem foram definidas datas ou prazos para o início dos aportes.

Depois, o presidente brasileiro disse que "foi confirmado o investimento de US$ 10 bilhões no Brasil".

Pela segunda vez no dia, em meio a polêmica sobre um vídeo divulgado por ele, o presidente se absteve de falar com os jornalistas nesta terça-feira após ser questionado sobre as criticas feitas pelo ministro Celso de Mello.

A declaração do decano do STF se referia a um vídeo publicado no perfil pessoal do presidente no Twitter que mostrava um leão associado ao nome do presidente e um grupo de hienas associadas ao STF, a jornais e televisões, órgãos como a ONU, a OAB e a CUT, e partidos como o PT, PSDB e o PSL, que vive um racha com o presidente, eleito pela sigla. O vídeo foi apagado em seguida.

"Torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma 'hiena' culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores", disse Celso de Mello, em nota.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente pediu desculpas pelo vídeo.

Empolgação e amizade

Bolsonaro disse ainda que os sauditas "estão muito empolgados com o nosso país".

Na manhã desta terça, o presidente disse ter afinidade com o principe herdeiro saudita —acusado pela CIA de participar do assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi na embaixada saudita na Turquia. O príncipe nega participação no crime.

Nesta terça-feira, Bolsonaro voltou a reforçar a intimidade com o nobre saudita: "Inclusive, criou-se uma amizade entre nós que não é de agora e nos faz ficar mais abertos a conversar (sobre) esse tipo de negócio", disse.

'Países dinâmicos'

Segundo Ernesto Araújo, o CEO do banco Goldman Sachs, em audiência com Bolsonaro nesta terça-feira, disse que "Brasil e Arábia Saudita são os certamente os dois países mais dinâmicos para receber investimentos".

Brasil e Arábia Saudita também vão anunciar, segundo os ministros, um acordo recíproco para simplificar o acesso a vistos de turismo e negócios.

Atualmente válidos por até um ano, eles terão validade máxima de cinco anos, se o acordo for de fato concretizado. Também serão possíveis múltiplas entradas, algo hoje vedado dos dois lados. O custo, hoje superior a mil dólares, deve cair para 80 dólares, segundo o Itamaraty.

Em sua visita, Bolsonaro esteve pelo menos duas vezes com o príncipe Mohammed bin Salman, herdeiro do trono do Reino da Arábia Saudita.