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Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico que conseguiu a vitória mais expressiva dos conservadores em 30 anos e lidera o país no Brexit

Primeiro-ministro, Boris Johnson, liderou os conservadores na mais ampla vitória em mais de 30 anos - BBC
Primeiro-ministro, Boris Johnson, liderou os conservadores na mais ampla vitória em mais de 30 anos Imagem: BBC

13/12/2019 06h17

Após convocar novas eleições gerais, Johnson conseguiu ampla maioria que garante aos conservadores um governo independente de coalizões

Na liderança do Partido Conservador britânico desde a renúncia de Theresa May, em julho deste ano, Boris Johnson, com sua retórica de campanha em defesa do Brexit, conseguiu significativa vitória sobre os trabalhistas, a principal força de oposição nas eleições gerais realizadas nesta quinta-feira.

O partido de Johnson assegurou 365 cadeiras de um total de 650 no parlamento. Até então, os conservadores tinham apenas 317 cadeiras, um número que não garantia a maioria absoluta de 326 cadeiras. Para assegurar governabilidade, o partido teve que recorrer a uma coalizão com o Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês) da Irlanda do Norte.

Com apenas 203 cadeiras, o Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn, amargou expressiva derrota nas urnas perdendo para os conservadores importantes e tradicionais redutos eleitorais.

Esta foi a quarta vez em que o país foi às urnas em quatro anos. Desde 2015, ocorreram três eleições-gerais e o plebiscito sobre o Brexit.

As eleições desta quinta-feira estavam previstas para ocorrer apenas em 2022, porque, em teoria, os britânicos só vão às urnas a cada cinco anos para formar um novo Parlamento e, por consequência, escolher o primeiro-ministro que governará o país.

A última vez que isso havia ocorrido foi em 2017. Naquele ano, a então premiê, Theresa May, fez uma aposta ao antecipar as eleições para tentar ampliar sua maioria parlamentar em meio às tentativas de aprovar um acordo para o Brexit.

No entanto, May sofreu um revés, e sua legenda, o Partido Conservador, saiu das urnas sem maioria no Parlamento e, mesmo tendo sido o mais votado, foi obrigado a fazer uma aliança com o Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês) para poder governar.

Neste ano, o pleito foi novamente antecipado, por iniciativa de Johnson e com o aval do Parlamento, em uma tentativa de acabar com o impasse sobre a saída do Reino Unido da UE, que foi o principal tema desta eleição entre os britânicos e nos debates entre os candidatos.

Johnson é defensor do Brexit e prometeu, durante a campanha para suceder May como líder conservador e premiê britânico, implementá-lo o mais rapidamente possível.

Quase três anos e meio depois que o Reino Unido aprovou o Brexit, ele ainda não se concretizou. A data limite original era 29 de março de 2019. Mas, como um acordo de saída não foi aprovado no Parlamento a tempo, o prazo foi adiado para 31 de outubro. Agora, está previsto para 31 de janeiro de 2020, a menos que seja fechado um acordo antes.

A crise política que permeia o Brexit já derrubou dois premiês: além de May, o também conservador David Cameron, que havia prometido realizar o plebiscito apesar de ser contra a saída do bloco e renunciou após o resultado pró-Brexit.

Antes da eleições, Johnson não tinha o apoio de parlamentares suficientes para aprovar facilmente novas leis e sofreu consecutivas derrotas legislativas em seus planos para tirar o Reino Unido da UE.

Johnson havia tentado por duas vezes antecipar as eleições, primeiro em setembro e depois em outubro, mas sua proposta foi rejeitada em ambas as ocasiões pelo Parlamento, que também contrariou o premiê ao aprovar uma lei que impede um Brexit sem acordo e obrigou Johnson a pedir um adiamento do prazo caso não conseguisse aprovar um acordo até 19 de outubro, o que de fato ocorreu.

Somente após a UE formalizar o adiamento do Brexit que Johnson conseguiu aprovar seu pedido de eleições antecipadas. A expectativa do premiê era ampliar o número de assentos ocupados pelos conservadores e, assim, conseguir mais facilmente colocar em prática seus planos para a saída do bloco.

Durante a campanha, o premiê se comprometeu a concretizar o Brexit até 31 de janeiro, enquanto seu principal oponente, Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista, prometeu "resolver a questão do Brexit" em seis meses, renegociando o acordo fechado por Johnson com a UE e submeter os novos termos a votação popular.

Após a confirmação da derrota, Corbyn anunciou que não pretende mais liderar os trabalhistas em outra eleição geral, mas não anunciou sua renúncia à liderança do partido como muitos esperavam.

Do jornalismo à política

Johnson é conhecido por seu cabelo desgrenhado, algumas gafes, frases polêmicas e o gosto pelos holofotes, ao mesmo tempo em que é popular entre uma parcela relevante do Partido Conservador. Segundo analistas da política britânica, há tempos ele almeja o cargo de premiê.

Johnson nasceu em Nova York, em 1964, e até pouco tempo tinha dupla nacionalidade britânico-americana. Segundo a agência France Presse, sua irmã Rachel dizia que desde criança ele queria ser "o rei do mundo".

Já na Inglaterra, Johnson estudou em Eton, centenária e prestigiosa escola privada, e depois na Universidade Oxford - percurso tradicional entre personagens da elite política britânica.

Na universidade, integrou, junto a David Cameron, o famigerado Bullingdon Club, um antigo clube exclusivo para estudantes homens - em geral, ricos -, conhecido por suas festas regadas a bebida e confusão.

Johnson começou sua vida profissional como jornalista do periódico The Times, de onde foi demitido após ter sido acusado de inventar uma frase de um entrevistado. Ele se tornou conhecido no meio jornalístico como correspondente em Bruxelas do jornal The Daily Telegraph.

Ele entrou definitivamente para o cenário político em 2001, quando foi eleito parlamentar. Três anos depois, foi demitido de um alto posto na hierarquia do Partido Conservador por ter supostamente mentido a respeito de um caso extraconjugal.

Mas foi reeleito para o cargo no ano seguinte e, em 2008, conquistou o posto de prefeito de Londres, que ocuparia por oito anos. A essa altura, já era nacionalmente conhecido.

Johnson voltou ao Parlamento em 2015, eleito por um subúrbio do noroeste de Londres. No plebiscito de 2016, a respeito da permanência do Reino Unido na UE, Johnson foi umas das principais figuras políticas a apoiar o voto pró-Brexit, que acabaria sendo vitorioso.

Com a saída do premiê David Cameron, Johnson foi um dos cotados a assumir o governo em 2016, mas acabou sendo passado para trás depois de perder o apoio de seu coordenador de campanha, Michael Gove, que questionou sua capacidade de liderança.

O posto acabou ficando com Theresa May, e Johnson se tornou secretário das Relações Exteriores.

Brexit

Boris Johnson foi uma figura de destaque na campanha a favor do Brexit durante o referendo em 2016.

Ele ficou conhecido por seus ataques à União Europeia - e muitos o acusaram de "exagerar" ou mesmo "mentir" nos seus ataques ao bloco e sua defesa dos supostos benefícios do Brexit.

O episódio mais polêmico desse período foi quando afirmou que o Reino Unido enviava 350 milhões de libras (cerca de R$ 1,6 bilhão) por semana à UE. Mas críticos apontaram na época que o número estava errado, uma vez que não levou em conta o montante que é devolvido pela UE, ou mesmo quanto desse dinheiro era gasto posteriormente no Reino Unido.

Johnson foi chanceler por dois anos e deixou o posto depois de vários desentendimentos com May por conta do Brexit.

Em junho de 2018, por exemplo, ele declarou que a então premiê precisava mostrar "mais coragem" nas negociações com a UE - e, nisso, contou com apoio explícito do presidente americano, Donald Trump, que mais tarde disse que Johnson faria um "grande trabalho como premiê" e daria um jeito no que chamou de "desastre" de May no Brexit.

Johnson disse durante a campanha para suceder May que se fosse escolhido premiê, se comprometeria com o prazo do Brexit de 31 de outubro, mesmo na ausência de um acordo com o bloco europeu - o temido cenário do "Brexit sem acordo", a saída unilateral sem acordo do bloco, que traria consigo várias incertezas e colocaria em xeque a relação do Reino Unido e dos britânicos com a Europa.

"Caso contrário, enfrentaremos uma catastrófica perda de confiança na política", declarou então.

Ele também disse que se recusaria a pagar a "conta" do Brexit - uma soma de 39 bilhões de libras (R$ 181 bilhões) que a UE exige como compensação - a não ser que sejam oferecidos termos de negociação mais favoráveis ao Reino Unido.

Entre as falas mais polêmicas e criticadas de sua carreira política estão a vez em que se referiu a homossexuais como "bumboys" (bum, em inglês, é usado para se referir tanto às nádegas quanto a "vagabundos") e quando declarou que muçulmanas usando o véu que deixa só os olhos à vista se assemelhavam a "caixas de correio".

Johnson acabaria vencendo a disputa e assumindo o posto de premiê após uma votação realizada entre membros do Partido Conservador, vencendo o então chanceler Jeremy Hunt, o único político que havia restado na briga pelo cargo, após rodadas anteriores de votações entre parlamentares da legenda.