Eleições na Hungria: Orbán enfrenta seu adversário mais difícil em 12 anos
Após 12 anos no poder, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, do partido conservador de direita Fidesz (União Cívica Húngara), tentará se reeleger em abril para mais oito anos de mandato. Mas seu governo conservador enfrenta um forte desafio de uma aliança de seis partidos da oposição.
Liderada pelo conservador independente Péter Márki-Zay, a sua aliança que vai da esquerda à direita visa derrubar o governo Orbán em 3 de abril. Pesquisas de opinião sugerem que a disputa será apertada.
Mas Orbán tem diversos tipos de vantagem. Seu governo domina a mídia e conta com enormes recursos financeiros: só seus gastos com anúncios nas redes sociais são três vezes maiores que os dos partidos da oposição.
Seu maior patrimônio é o próprio Viktor Orbán e sua reputação de ser invencível. Ele também deseja exportar "o modelo húngaro" de soberania nacional para toda a Europa e além.
Nesta semana, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) desembarca na Hungria para visita oficial em que se encontrará com Orbán.
Péter Márki-Zay: o opositor
Diferentemente de todos os outros adversários que fracassaram em derrubar Viktor Orbán ao longo dos anos, Péter Márki-Zay é um conservador.
A igreja de Santo Estêvão na cidade de Mako, no sul da Hungria, fica lotada em uma manhã de domingo. A congregação obedientemente usa máscaras, sempre cautelosa, mesmo com a pandemia na Hungria perdendo força.
Na parte de trás da igreja, Péter Márki-Zay senta-se o mais discretamente possível entre sua esposa e filha mais velha.
Com 49 anos, ele é nove anos mais novo que Orbán. É mais alto, mais em forma e tem ainda mais filhos — sete contra os cinco de Orban.
E enquanto Viktor Orbán habilmente consegue neutralizar as críticas que vêm da esquerda liberal, Marki-Zay o ataca em seu próprio campo, a direita. A alardeada defesa da nação por Obrán e seu partido Fidesz é uma mentira, ele sugere.
"Estou convencido de que ele não é um patriota", diz Marki-Zay. "Ele também não é cristão. Eles não têm princípios e valores nacionalistas ou religião. Eles são oportunistas. Orbán é o pragmatista supremo. Ele faria qualquer coisa para ficar no poder e enriquecer."
Péter Márki-Zay também é fortemente criticado pelo atual governo.
Desde que ele venceu as primárias da oposição no outono passado, o governo lançou uma campanha sem precedentes contra o político.
Cartazes em todas as esquinas e pequenos anúncios em vídeo no YouTube o retratam como "mini-Feri" — o fantoche do ex-primeiro-ministro socialista Ferenc Gyurcsany, cujo partido DK faz parte da coalizão de seis partidos que o apoia.
O contraste não poderia ser maior entre a grande equipe de Viktor Orbán e o líder da oposição, impulsionado por sua esposa e o conteúdo de mídia social produzido por seus filhos.
Enquanto isso, o Fidesz disseca cada comentário do opositor minar sua credibilidade. Ele é acusado de atacar mulheres, aposentados e insultar os eleitores do Fidesz.
Orbán: a praga das elites liberais
Orbán cresceu como menino humilde nas zonas rurais, mas hoje em dia convive com os ricos e poderosos.
O líder húngaro recentemente passou cinco horas com o presidente russo, Vladimir Putin.
Em março, os republicanos dos EUA realizarão sua conferência conservadora CPAC (Conservative Political Action Conference) anual na capital, Budapeste. Há rumores de que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, será o convidado de honra.
Orbán é amado por alguns fora da Hungria como um defensor dos "valores tradicionais" contra as "elites liberais".
"Nós pensamos de maneira diferente sobre o precioso legado de tradição da Europa", esbravejou ele, em um pronunciamento nacional em 12 de fevereiro. "Nós pensamos de maneira diferente sobre o futuro das nações e estados-nação; pensamos de maneira diferente sobre a globalização; e agora pensamos de maneira diferente sobre a família."
Quem vai ganhar no dia 3 de abril?
Agoston Mraz, da consultoria pró-governo Nezopont, prevê que o Fidesz conquistará 110 das 199 vagas no Parlamento (ficando abaixo das atuais 133). Ele sugere que apenas 200 mil pessoas ainda não se decidiram, em um universo de 8,3 milhões de eleitores.
No entanto, Márki-Zay cita uma pesquisa sugerindo que 53% dos húngaros querem uma mudança de governo. Ele diz que está tentando apelar para um terço dos eleitores — parcela que não estaria comprometida com o governo ou com a oposição.
Nas eleições de 2018, o Fidesz venceu com 2,8 milhões de votos contra 2,7 milhões de todos os partidos da oposição combinados, com uma participação de 70%.
Sete semanas antes desta eleição, o cenário ainda está completamente indefinido.
Em Mako, a campanha do Fidesz para minar o desafiante conservador parece estar surtindo efeito.
"Nós realmente não gostamos dele. Não seguimos a política, mas essas coisas que ele diz, como ele insulta os eleitores [nos afeta]", disse uma mulher à BBC no mercado de agricultores da cidade enquanto Márki-Zay conversava com eleitores.
"Não há tinta na Terra que possa imprimir o que penso sobre ele", disse um vendedor de queijos, enquanto o líder da oposição passava com sua esposa. "Sua retórica parece tão extrema, ele deveria estar mais bem preparado", disse outra pessoa.
Mas alguns no mercado o apoiam discretamente: "Ele tem um bom rosto e olhos claros. Vou votar nele", disse uma mulher que vendia botas de couro.
"Ele tem chance. Acreditamos nele. Porque ele é um homem educado", disse outro feirante.
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