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A hondurenha acusada de chefiar uma das principais quadrilhas de tráfico das Américas

Redação - BBC News Mundo

17/05/2022 16h42

O governo norte-americano havia oferecido uma recompensa de US$ 5 milhões em troca de informações que levasse à captura de Herlinda Bobadilla, conhecida como La Chinda

Parece um efeito dominó: uma vez que o primeiro é derrubado, muitos dos possíveis atores da trama do narcotráfico em Honduras começam a cair um após o outro.

Primeiro foi Juan Antonio Hernández, que, em 2020, foi considerado culpado por tráfico de drogas e armas.

Tony, como é apelidado, era irmão do então presidente do país centro-americano, Juan Orlando Hernández - acusado dos mesmos crimes e extraditado para os Estados Unidos.

Neste domingo (15/5), foram divulgadas imagens da prisão de Herlinda Bobadilla, conhecida como La Chinda. O governo norte-americano havia oferecido uma recompensa de US$ 5 milhões (R$ 25 milhões) em troca de informações que levasse à sua captura.

Ela é considerada a líder do clã Montes Bobadilla, acusado de controlar a região do Caribe hondurenho. Por meio de suas ligações com cartéis de drogas na Colômbia e no México, o grupo teria conseguido embarcar milhares de quilos de cocaína para os Estados Unidos.

Durante a operação, um de seus filhos, Tito Montes, morreu. Outro, Juan Carlos, teria conseguido fugir e segue como procurado pelas autoridades.

Herlinda tem 61 anos e foi algemada e transferida em um helicóptero da polícia a partir da região de Colón, onde foi capturada, até a capital Tegucigalpa. Sua imagem levantou várias questões sobre sua identidade.

"A verdade é que a presença de mulheres dentro das organizações do narcotráfico é muito mais comum do que parece, o que acontece é que elas não são tão visíveis devido ao machismo que se exerce no mundo das drogas", disse Deborah Bonello, editora para América Latina da Vice World News, à BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC).

"Muitos esperam ver uma eversão feminina do [traficante mexicano] 'El Chapo' ao falar de mulheres no tráfico de drogas, quando na verdade elas estão exercendo outros cargos de grande poder e responsabilidade, mas com pouca visibilidade", acrescenta.

Quem é "La Chinda" e como ela conseguiu se tornar a líder de um dos principais cartéis de drogas da América Central?

Raízes colombianas

O clã Montes Bobadilla tem suas origens na Colômbia, com ligações ao famoso mas agora extinto Cartel de Cali.

Pedro García Montes, hondurenho encarregado de pagamentos e outros negócios, trabalhava para o cartel. Ao desenvolver este trabalho, ele começou a criar zonas de carga, descarga e transporte de drogas na área caribenha de seu país.

Com o tempo, o negócio cresceu. Em 2004, García Montes foi assassinado em Cartagena e o controle dessas operações em Honduras foi assumido por um de seus parentes, Alex Adán Montes Bobadilla.

Então, para ajudá-lo a fortalecer sua posição dentro do clã, Alex Adán decidiu trazer uma parente de confiança: Herlinda Bobadilla.

La Chinda nasceu em outubro de 1961 na cidade de Macuelizo, a cerca de 290 quilômetros de Tegucigalpa, mas morava com a família na região de Colón, no norte do país, onde se concentravam as operações do clã.

Segundo as autoridades hondurenhas, Herlinda se casou com Alejandro Montes Alvarenga e os dois tiveram seis filhos. Três deles - Alejandro (mais conhecido como Tito), José Carlos e Noé - se envolveram totalmente no trabalho para o grupo criminoso.

Ela teria colaborado ativamente em várias operações internas do clã na região de Colón.

Autoridades hondurenhas apontam que Herlinda Bobadilla é proprietária de dezenas de casas no município de Limón, área de influência do clã.

O portal jornalístico Insight Crime afirma que esta região hondurenha é estratégica para o transporte da droga dos cartéis sul-americanos, especialmente da Colômbia. De Honduras vai para a Guatemala, onde é recolhida pelos cartéis mexicanos, que finalmente colocam o produto no mercado norte-americano.

Em 2014, houve uma mudança de comando após a morte de Alex Adán na prisão. Noé Montes Bobadilla, terceiro filho de Herlinda, assumiu como chefe, mas foi capturado em 2017 e extraditado para os EUA dois anos depois.

Este é o momento, segundo as autoridades norte-americanas, em que ela, juntamente com os filhos Tito e José Carlos, assume a liderança do clã. Herlinda aumenta as operações de transporte, segundo documentos do governo hondurenho, e desenvolve o plantio de folhas de coca para produzir seus próprios carregamentos.

"Seus papéis de liderança na organização de tráfico de drogas Montes Bobadilla cresceram significativamente desde a prisão em 2017 e a extradição para os Estados Unidos do terceiro filho de Herlinda, Noé Montes Bobadilla", disse o comunicado do Departamento de Estado de maio deste ano. Foram oferecidos US$ 5 milhões de recompensa relacionada a cada um dos três líderes do clã.

Expansão e perseguição

Embora tenha sido após a captura de Noé e sua posterior extradição que Herlinda Bobadilla (também conhecida como Erlinda Montes Bobadilla) foi promovida à liderança, o governo dos EUA já estava atrás dela há tempos.

Em 2015, um tribunal dos EUA no Estado da Virgínia acusou ela e seus filhos de transportar cocaína e outros crimes relacionados ao tráfico de drogas.

É aí que começa uma perseguição direta ao clã. Em 2017, Noé foi capturado, mas também teve início um processo de cassação de domínio nas propriedades de Herlinda Bobadilla em Honduras.

Cerca de 40 propriedades, localizadas principalmente na província de Colón, foram então confiscadas pelo governo hondurenho.

Mas o passo definitivo foi dado no dia 2 de maio, com a oferta de US$ 5 milhões para cada um dos membros da família, incluindo Herlinda.

O cerco se fechou neste fim de semana, quando, em uma grande operação, as forças especiais hondurenhas chegaram onde Herlinda estava com seus dois filhos, Tito e José Carlos.

De acordo com o relatório das autoridades, Tito morreu em meio a confrontos com as forças especiais, enquanto José Carlos conseguiu fugir.

As autoridades então procederam à captura de sua mãe, que foi algemada e enviada para a capital Tegucigalpa, onde enfrentaria acusações que iam de tráfico de drogas a corrupção e lavagem de dinheiro.

Mas, sobretudo, ela estará esperando para ser extraditada para os Estados Unidos, país onde está seu filho Noé, que cumpre pena de 39 anos de prisão.

Desde 2014, Honduras extraditou pelo menos 31 de seus cidadãos, desde membros do clã Montes Bobadilla até o ex-diretor da Polícia Nacional Juan Carlos Bonilla, que foi enviado aos EUA na semana passada sob a acusação de aceitar suborno para permitir o transporte de drogas dentro do país.


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