Quem era a mulher-bomba de Saint-Denis?
Segundo autoridades, Hasna Ait Boulahcen, explodiu a si mesma em operação antiterrorismo em Paris. Prima do suposto mentor dos ataques do dia 13, jovem teria trocado a vida de festas pelo radicalismo há seis meses.
O nome de Hasna entrou nos noticiários globais na madrugada de quarta-feira (18), quando a polícia francesa conduziu uma operação antiterrorismo num apartamento em Saint-Denis, no norte de Paris, onde Abaaoud se escondia.
"Onde está seu amigo? Onde está?", grita um policial das forças especiais francesas, em vídeo feito por vizinhos. Uma voz feminina e estridente responde: "Ele não é meu amigo!". A palavra "copain", em francês, também pode significar namorado, mas não se sabe em que sentido ela foi usada.
Em seguida à conversa, várias explosões são ouvidas. Segundo a polícia, a jovem morreu ao ativar um cinto de explosivos preso ao corpo. O primo, Abaaoud, também foi morto durante a operação, segundo François Molins, procurador da República de Paris.
Em entrevista à agência de notícias AFP, a mãe e o irmão de Hasna dizem ter reconhecido imediatamente sua voz ao ouvir a gravação. Nesta sexta-feira, autoridades francesas revelaram ter encontrado um passaporte com o nome da jovem no local da operação.
"Ela era instável"
O irmão, que pediu para não ser identificado, afirma que Hasna se radicalizou há cerca de seis meses. Primeiro passou a usar o jilbab, vestimenta muçulmana que deixa apenas o rosto à mostra, e depois adotou o niqab, que revela apenas os olhos.
"Ela era instável. Criou sua própria bolha", revela o irmão à AFP. "Ela não tinha o objetivo de estudar a religião, eu nunca a vi sequer abrindo o Alcorão". Para a mãe, com quem Hasna morava até algumas semanas atrás no bairro de Aulnay-sous-Bois, tratou-se de uma "lavagem cerebral".
A rápida transformação da jovem de 26 anos chamou atenção dos vizinhos. Sofiane, que também mora em Aulnay-sous-Bois, diz que Hasna tinha "o dom de tagarelar" e era "um pouco louca". "Ela podia aparecer subitamente na sua frente e começar a cantar um rap."
A surpresa pela mudança também ocorreu em Creutzwald, cidade no leste da França, próxima à fronteira da Alemanha, onde mora o pai de Hasna. Jerome, que diz ser um amigo de longa data, descreve a jovem como uma "bon vivant", que gostava de usar chapéus e botas de cowboy - o que lhe rendeu o apelido de "cowgirl". Segundo o amigo, ela "bebia e ocasionalmente fumava nas saídas à noite".
O pai é um muçulmano devoto, que deixou Paris para trabalhar na montadora Peugeot. Acredita-se que, atualmente, ele está no Marrocos e que, por isso, não foi encontrado na cidade.
Infância e adolescência turbulentas
Boulahcen nasceu em agosto de 1989 na França, e teve uma infância turbulenta. Entre os oito e os 15 anos de idade, viveu num lar adotivo, época em que era "feliz e floresceu", segundo depoimentos do irmão. "No início, tudo correu bem", conta a mãe adotiva de Hasna, que também pediu anonimato. "Ela era uma criança como qualquer outra", embora pouco carinhosa.
Mais tarde, as coisas mudaram. A mãe adotiva, que chorou ao ver a foto de Hasna na mídia, relembra um episódio em que a filha "aplaudiu em frente à televisão": os ataques terroristas contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. Na ocasião, ela tinha 12 anos.
A adolescência foi ainda mais complicada. Segundo a mãe, Hasna passou a ter ataques de raiva e costumava fugir de casa durante a noite. Aos 15 anos, ela abandonou definitivamente a casa da família adotiva.
Fontes próximas à investigação dos atos terroristas em Paris afirmam que a jovem, no passado, já foi investigada por crimes relacionados ao tráfico de drogas. Mais recentemente, de acordo com o irmão, ela "passava o tempo todo no smartphone", em redes sociais como Facebook e o WhatsApp.
Segundo a imprensa da Bélgica, Hasna não escondia em seu perfil no Facebook a admiração por Hayat Boumeddiene, viúva de Amedy Coulibaly, Ele foi responsável por quatro mortes num mercado judaico em Paris na época do atentado contra o jornal Charlie Hebdo, em janeiro deste ano.
O irmão conta que, há três semanas, ela decidiu morar com um amigo em Drancy, cidade a poucos quilômetros de Aulnay-sous-Bois. "Daí, na quarta-feira, eu liguei minha televisão e soube que ela tinha se matado".
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