Ativistas tentam renomear ruas que homenageiam colonizadores em Berlim
Os nomes Lüderitzstrasse, Nachtigallplatz e Petersallee soam como endereços perfeitamente comuns de Berlim, na Alemanha. À primeira vista, nenhum deles parece ser capaz de gerar controvérsias.
Em Petersallee, por exemplo, blocos de apartamentos se alinham à rua localizada no bairro de Wedding. A tinta começa a descascar nas paredes de um quiosque - que não parece que abrirá suas portas tão cedo. Moradores passeiam com seus cães durante depois de uma chuva.
Mnyaka Sururu Mboro não se incomoda com o visual da Petersalle - mas o nome da rua o deixa indignado. "Carl Peters foi um homem tão brutal", diz. "Eu não consigo entender como algumas pessoas têm orgulho de existir uma rua em homenagem a ele neste bairro."
Para Mboro, que nasceu na Tanzânia, Carl Peters (1856-1918) é um nome familiar - ele foi um dos maiores responsáveis pela fundação da África Oriental Alemã, uma ex-colônia que incluía o território da atual Tanzânia. Peters tinha uma reputação marcada pela brutalidade e pela tortura de civis.
Um passado colonial pouco conhecido
Mboro quer dar a Petersallee um nome completamente diferente. Ele e outros ativistas mantêm uma associação chamada Berlin Postkolonial (Berlim pós-colonial), que há anos luta pela renomeação de três ruas da região conhecida como "bairro africano", em Wedding.
Além de Petersalle, os outros endereços são Lüderitzstrasse, que leva o nome de Adolf Lüderitz, fundador da colônia Sudoeste Africano Alemão, atual Namíbia, e Nachtigallplatz, em homenagem ao explorador Gustav Nachtigall, que viajou a várias regiões da África, como Chade e Darfur.
"Muitas pessoas que moram aqui não sabem o que esses nomes significam", afirma o historiador Christian Kopp, da Berlin Postkolonial. Além de renomear essas três avenidas, Kopp deseja que a população se conscientize sobre a conotação histórica de outros nomes de ruas, como Togostrasse e Kamerunstrasse.
O "bairro africano" de Berlim carrega os nomes de vários colonizadores e também de colônias que a Alemanha possuía na África.
Antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, foi nesse bairro que o comerciante de animais Carl Hagenbeck planejava abrir um zoológico destinado a exibir animais africanos, além de pessoas nativas das então colônias alemãs. Depois da guerra, a Alemanha perdeu suas colônias, mas os nomes das ruas permaneceram.
"Berlim tem problemas maiores"
Muitos moradores não concordam com a gravidade da questão. "Eu não era nem nascido quando Peters esteve na África. Nós não temos problemas maiores do que nomes de rua?", diz um morador ao entrar em seu carro na Petersallee. "Não podemos deixar o passado para trás? Não temos nada que ver com esses colonialistas", afirma uma senhora enquanto aguarda o ônibus.
Pessoas com opiniões semelhantes formaram uma associação para se opor à renomeação dos endereços. Em 2011, seus membros recolheram mais de 1.500 assinaturas de moradores que são a favor de se manter os nomes coloniais.
"Esses nomes pertencem à nossa comunidade, ao nosso bairro, à nossa cultura", argumenta o presidente da associação, Johann Ganz. Ele vive no "bairro africano" desde 1972.
"Endereços deviam homenagear africanos"
Há algum tempo, a associação de Ganz propôs manter os endereços, mas alterar a referência. Petersallee, por exemplo, deixaria de ser uma homenagem ao colonialista Carl Peters e passaria a ser ao teólogo Hans Peters.
A associação espera que, dessa forma, seja possível desfazer o impasse. "Nós queremos que a paz e o sossego retornem ao nosso bairro", explica Ganz.
Os ativistas da Berlin Postkolonial, porém, continuam inflexíveis. "Há milhares de ruas em Berlim, mas não conhecemos nenhuma que homenageie uma pessoa africana. Isso precisa mudar", diz Kopp.
Quem resolverá o impasse é a assembleia distrital local, que precisa decidir se altera ou não os nomes das ruas Petersallee, Lüderitzstraße e Nachtigallplatz. Mas, com eleições previstas para setembro, o futuro desses endereços deve permanecer sem resposta ainda por alguns meses.
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