As falhas das autoridades antiterrorismo em Bruxelas
Falhas operacionais, problemas de comunicação, reações tardias e pistas ignoradas - tudo isso veio à tona nos dias que sucederam os atentados terroristas de 22 de março em Bruxelas. Mais de uma semana após os ataques, esses pontos viraram alvo de severas críticas, tanto dentro como fora da Bélgica.
Entenda algumas controvérsias em torno das recentes investigações antiterroristas.
O alerta da Turquia sobre El Bakraoui
Ibrahim El Bakraoui, um dos homens-bomba do aeroporto de Bruxelas, já tinha passagem pela polícia. Em 2010, ele foi condenado por atirar num policial belga enquanto tentava fugir de um assalto a mão armada. Um dia após os ataques, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou que o terrorista deveria estar atrás das grades naquele 22 de março.
A Turquia deportou El Bakraoui, que nasceu na Bélgica, no dia 14 de julho de 2015, após capturá-lo na fronteira com a Síria. Na ocasião, Ancara informou tanto as autoridades belgas quanto as holandesas sobre a deportação, já que o rapaz pediu para ser enviado a Amsterdã - voltando para Bruxelas por terra mais tarde.
A nota formal de deportação foi divulgada pela Holanda, mas o documento não traz maiores revelações, uma vez que qualquer outra informação substancial de inteligência, se houver, deve ser reportada separadamente.
Essa não foi a única violação de El Bakraoui aos termos de sua liberação antecipada da prisão. Ele também parou de pagar pelos danos gerados ao policial que feriu durante o assalto.
O irmão de Ibrahim, Khalid El Bakraoui, autor do ataque ao metrô de Bruxelas, também tinha ficha criminal. O jovem foi preso portando um fuzil e, em 2011, condenado por roubo de carro.
O ministro holandês da Justiça, Ard van der Steur, afirmou que investigadores americanos alertaram a Holanda sobre o histórico terrorista dos irmãos El Bakraoui uma semana antes dos atentados. Não está claro, porém, se a Bélgica também foi alertada pelos EUA.
Primeiramente, ele atribuiu a dica ao FBI, mas nesta quarta-feira (30/03) corrigiu a informação dizendo que, na verdade, foi a unidade de inteligência da Polícia de Nova York que deu o alerta. Van der Steur disse ainda que a questão foi discutida no dia seguinte com autoridades belgas - algo que a polícia federal da Bélgica nega ter ocorrido.
A "guerra" interna da polícia belga
As práticas policiais descentralizadas da Bélgica bilíngue ganharam fama internacional na semana que sucedeu os atentados. Um dos pontos mais criticados é a demora para capturar Salah Abdeslam - que acabou sendo detido no distrito de Molenbeek, em Bruxelas, perto da residência da sua família, praticamente embaixo do nariz das autoridades belgas.
Durante os meses de busca por Abdeslam - um dos autores dos ataques de Paris -, uma pista importante parece ter sido ignorada em Mechelen, ao norte de Bruxelas.
Em dezembro de 2015, a polícia local recebeu informações sobre um possível cúmplice de Abdeslam, Abid Aberkat. Em 18 de março deste ano, os dois seriam encontrados juntos dentro de um apartamento em Bruxelas, que estava registrado em nome da mãe de Aberkat - um endereço que as autoridades belgas conheciam há meses.
A polícia de Mechelen afirmou que a fonte não era considerada confiável, mas reconheceu ter cometido um erro. O líder da oposição no parlamento belga, por sua vez, atribuiu a falha de comunicação a uma "guerra" interna entre as agências policiais locais e nacionais do país.
As críticas também alegam que Abdeslam deveria ter sido questionado mais intensamente após sua captura, ocorrida quatro dias antes dos atentados em Bruxelas. Nesse período, o terrorista foi formalmente interrogado durante apenas uma hora, e especificamente sobre os ataques de novembro em Paris. Segundo seu advogado, Abdeslam falou ainda menos após o 22 de março.
O apartamento em Schaerbeek
Acredita-se que os responsáveis pelo atentado na capital belga fabricaram suas bombas no número 4 da rua Max Roos, no bairro de Schaerbeek. Além do apartamento ocupado por eles, no último andar, o prédio estava praticamente vazio, pois seria reformado após uma mudança de proprietário.
Nas buscas no apartamento após os atentados, os investigadores encontraram detonadores, 15 quilogramas de explosivos prontos para serem usados, além de mais materiais para fabricação de bombas, sugerindo que o grupo tinha outros ataques em mente.
Mais tarde, um vizinho do prédio declarou que já havia informado a polícia sobre atividades suspeitas no apartamento. De acordo com o novo proprietário do edifício, a polícia belga não descartou essa pista, mas nunca fez de fato buscas no imóvel.
Uma importante lei da Bélgica foi alterada no rescaldo dos ataques: agora, a polícia tem permissão para fazer buscas em residências entre as 21h e as 5h.
Reação tardia aos ataques no aeroporto?
Também vieram à tona questões sobre as atitudes tomadas pelas autoridades imediatamente após a primeira bomba ser explodida no aeroporto internacional de Zaventem, às 8h do horário local.
O governo decidiu somente uma hora mais tarde que interromperia as operações do metrô de Bruxelas. A empresa que opera o transporte público, no entanto, disse que não recebeu qualquer ordem para fechar as portas antes da bomba explodir na estação de Maelbeek, às 9h10, mais de uma hora depois do primeiro ataque.
Enquanto isso, os serviços ferroviários da cidade continuaram operando até meia hora depois da explosão no metrô.
O mistério em torno do "homem de chapéu"
Mais de uma semana depois dos ataques, os investigadores ainda tentam identificar o "homem de chapéu". Nas imagens de uma câmera de segurança do aeroporto, ele aparece ao lado dos dois outros suspeitos, momentos antes das explosões.
Inicialmente, a polícia divulgou que ele seria Najim Laachraoui, que mais tarde foi identificado como um dos homens-bomba do aeroporto.
Dias depois, a Bélgica prenderia Faycal Cheffou, acreditando ser o rapaz foragido. Cheffou, por sua vez, foi liberado após apresentar um álibi - ele alega que estava em casa na manhã de 22 de março, e registros telefônicos confirmam sua história, segundo a polícia. Enquanto isso, as buscas continuam.
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