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Opinião: Libertação da piloto é boa notícia e nada mais

Bernd Johann

25/05/2016 14h13

Soltura de Savchenko não marca nenhuma virada no conflito no Leste da Ucrânia e não deve desviar a atenção internacional do elevado número de mortos e detentos, afirma o chefe da redação ucraniana, Bernd Johann.

A piloto Nadezhda Savchenko está livre. Para ela, um martírio terrível chegou ao fim. Ela passou quase dois anos sob o jugo russo, depois de ter sido supostamente levada da região do Donbas para a Rússia em junho de 2014. Savchenko estava diante de uma pena de 22 anos de prisão, depois de um veredicto escandaloso num julgamento que deixou de fora o primado do Direito. Agora, ela finalmente volta ao seu país.

Um final feliz também para a disputa em torno dos dois militares russos Alexander Alexandrov e Yevgeny Yerofeyev, que também haviam sido capturados durante os combates no Donbas. Na Ucrânia, eles foram processados pelo apoio ao terrorismo e à guerra. Eles aguardavam uma longa pena de prisão após a condenação perante um tribunal em Kiev.

Finalmente algo acontece entre a Rússia e a Ucrânia no campo político. É a primeira notícia realmente boa neste ano no impasse em torno do conflito na Crimeia e no Leste da Ucrânia: houve finalmente uma troca de prisioneiros proeminentes. Mas, por outro lado, a guerra no Donbas está longe de uma solução política - apesar de todos os esforços internacionais de mediação, levados à frente principalmente por Alemanha e França. Mas também esta semana foram registradas mortes na guerra não declarada da Rússia contra a Ucrânia.

Essa guerra já custou a vida de mais de 9 mil pessoas, civis em sua maioria. Centenas ainda são mantidas prisioneiras. As negociações no grupo de contato para a Ucrânia sobre as respectivas libertações já se encontram há meses num beco sem saída. A libertação de Savchenko e dos dois russos não deve desviar a atenção de quantas pessoas ainda são reféns do conflito russo-ucraniano. O prisioneiro mais célebre num cárcere russo é o cineasta ucraniano Oleh Senzov. Da mesma forma que Savchenko, ele foi condenado por um tribunal de Moscou num julgamento de fachada. Quando ele e outros prisioneiros serão finalmente libertados?

Savchenko e os dois russos simbolizam como pessoas são massacradas em favor de interesses governamentais. As libertações deles não marcam nenhuma virada. Até por razões humanitárias, elas já deveriam ter acontecido há muito mais tempo. Mas eles se tornaram peças de um acordo político de dimensões possivelmente desconhecidas. Aparentemente, Alexandrov e Yerofeyev se encontravam no Donbas por ordem do serviço de inteligência russo GRU. Por esse motivo, o Kremlin nunca demonstrou apoio oficial aos dois homens.

Até hoje, Moscou nega qualquer responsabilidade pelo conflito. Só quando a liderança do Kremlin assumir responsabilidade por sua guerra não declarada contra a Ucrânia será possível chegar a um verdadeiro ponto de virada. E só então será lógico que o Ocidente repense suas sanções contra a liderança em Moscou. A libertação de Savchenko não é mais do que um pequeno sinal de que o Kremlin deseja se livrar de alguns percalços políticos.

E a Ucrânia? Para a maioria dos ucranianos, Savchenko é uma heroína que defendeu bravamente a sua pátria contra a agressão russa. Seu retrato já se encontra pendurado há meses na tribuna do Parlamento ucraniano. Para o presidente Petro Poroshenko, a libertação da piloto é um sucesso político importante, do qual ele necessitava com urgência, dois anos após sua eleição. Mas a libertação não é uma prova de que ele esteja finalmente disposto a apoiar na íntegra as impopulares negociações de paz de Minsk.