Suspeito de atentado em Berlim era monitorado e escancara falha na política de asilo
Tunisiano Anis Amri foi vigiado por promotores e esteve prestes a ser deportado
A caçada internacional ao principal suspeito no ataque com caminhão a uma feira de Natal em Berlim gerou questionamentos e a ira da opinião pública da Alemanha nesta quinta-feira (22). Muitas pessoas se perguntam como foi possível Anis Amri evitar a prisão e a deportação, embora estivesse no radar das agências de segurança da Alemanha.
"As autoridades o tinham na mira, e mesmo assim ele conseguiu desaparecer", estampou a revista Der Spiegel em seu portal online.
As autoridades alemãs revelaram, na quarta-feira, que já vinham investigando o tunisiano de 24 anos meses antes do ataque. A polícia até mesmo o manteve detido durante um dia e sob vigilância durante seis meses, de março a setembro, antes de interromper a operação.
"Ele chegou a ficar numa cela para deportação, mas teve que ser liberado no dia seguinte", disse Stephan Mayer, porta-voz para assuntos domésticos dos partido CDU e CSU no Parlamento alemão, à emissora local RBB nesta quinta-feira. Ele acrescentou que o caso mostra onde estão as falhas nas políticas de refúgio da Alemanha e recomendou que a detenção para deportação seja prolongada.
Documentos de identidade que aparentemente pertencem a Amri foram encontrados na cabine do motorista do caminhão que avançou contra a multidão na feira de Natal da praça Breitscheidplatz, nesta segunda-feira. O ataque deixou 12 mortos e 48 feridos, dos quais 14 permanecem em condição crítica.
O grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do atentado, o pior dos últimos anos na Alemanha. De acordo com informações do jornal americano The New York Times, Amri se comunicou com o EI pelo menos uma vez, pesquisou na internet como construir explosivos e constava numa lista de pessoas proibidas de voar para os Estados Unidos.
Buscas em abrigo de refugiados
Na manhã desta quinta-feira, a polícia vasculhou um abrigo de refugiados na cidade de Emmerich, no oeste do país, onde o suspeito teria morado antes de se mudar para Berlim. Cerca de cem policiais, incluindo unidades especiais, estiveram envolvidos na operação, que durou várias horas. As autoridades não revelaram detalhes sobre o resultado das buscas.
A Procuradoria Federal da Alemanha ofereceu, nesta quarta-feira, 100 mil euros de recompensa por informações que levem à captura de Anis Amri. Eles alertaram que o tunisiano é perigoso e pode estar armado.
Pista falsa foi perda de tempo
Muitas pessoas na Alemanha também se perguntam como Amri conseguiu fugir da cena do crime na segunda-feira. O jornal alemão Süddeutsche Zeitung criticou as autoridades por perder tempo ao se concentrar no suspeito paquistanês logo após o ataque, o que revelou ser uma pista falsa. "Levou tempo antes de a polícia federal se voltar para Amri como suspeito."
Na quarta-feira, veio a público que o tunisiano, que teve seu pedido de refúgio negado, tinha ligação com o islamismo radical na Alemanha e usou seis nomes e três nacionalidades. Ele também conseguiu evitar a deportação devido a entraves burocráticos com a Tunísia, que negou durante muito tempo que ele fosse cidadão tunisiano. Os documento necessários para a deportação de Amri chegaram às autoridades alemãs nesta quarta-feira, dois dias depois do atentado e no mesmo dia em que a polícia de toda a Europa começou a procurar por ele.
"As pessoas estão indignadas e ansiosas com razão, pelo fato de uma pessoa como essa poder andar livremente por aí, trocar continuamente de identidade e o sistema legal não ser capaz de lidar com isso", disse Rainer Wendt, chefe do sindicato dos policiais.
Merkel sob crítica
As falhas de segurança levaram a uma nova onda de críticas à chanceler federal alemã, Angela Merkel, por sua liberal política de refugiados, que levou à chegada de aproximadamente 800 mil pessoas em 2015.
A entrada em grandes proporções de pessoas fugindo da guerra e da miséria no Oriente Médio e na África inflou a popularidade do partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), que acusa Merkel de colocar o país em risco.
Membros do próprio partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), criticaram o que veem como deficiências perigosas do atual sistema. "Em todo o país há um grande número de refugiados sobre os quais não sabemos o nome ou de onde vieram. E isso oferece potencialmente um grande de risco para a segurança", disse Klaus Bouillon, membro da CDU e secretário do Interior do estado de Sarre.
Vítima israelense identificada
Uma mulher israelense que estava desaparecida em Berlim foi identificada como uma das vítimas do ataque à feira de Natal, segundo confirmou o porta-voz do Ministério do Exterior de Israel nesta quinta-feira.
Ela foi identificada como Dalia Elyakim e, segundo o Ministério, estava visitando a capital alemã com o marido, Rami. Ele ficou gravemente ferido no ataque e continua hospitalizado, mas, segundo o portal de notícias ynet, não corre mais risco de morrer.
Além de Elyakim, a segunda vítima estrangeira é o motorista polonês cujo caminhão foi sequestrado para a realização do atentado. Ele foi encontrado mortos a tiros na cabine do veículo, com marcas de facadas no corpo.
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