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Com Brexit, Ilhas Malvinas miram comércio com Brasil

28/03/2017 15h19

Território ultramarino britânico teme perder acesso ao mercado comum europeu, maior destino de suas exportações, e planeja se voltar para os vizinhos, principalmente o Brasil.A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) deverá desencadear um novo cenário para as Ilhas Malvinas. Com o Brexit, o território ultramarino britânico localizado no Atlântico Sul poderá perder a vantagem de exportar para o mercado comum europeu sem tarifas ou cotas, e o Brasil poderá passar a ser um dos países a serem priorizados no comércio exterior.A União Europeia é o principal destino das exportações das ilhas, que chegam a 222 milhões de dólares por ano, sendo o peixe o principal produto. Estima-se que 70% do Produto Interno Bruto (PIB) das Ilhas Malvinas dependa do acesso ao mercado europeu.O Brexit não foi uma decisão apoiada pelos kelpers – como são chamados os moradores das ilhas – e, agora, eles têm que se arrumar com a situação. As Ilhas Malvinas – governadas por Londres, mas reivindicadas pela Argentina – esperam que muitos dos atuais privilégios comerciais sobrevivam ao Brexit."Estamos em contato com Londres para assegurar que nossos interesses sejam protegidos após o Brexit", declarou Michael Poole, membro da Assembleia Legislativa das Ilhas Malvinas. "Nosso principal objetivo é ver a continuidade do comércio livre de cotas e de tarifas com os 27 países [restantes] da União Europeia."O legislador afirma que vê claramente grandes mercados na América do Sul, com os quais as ilhas gostariam de fazer comércio. "Nosso foco seria o Brasil, pois o país tem lacunas em sua produção. Acreditamos que poderíamos desempenhar um pequeno papel no preenchimento dessas lacunas, particularmente em relação às exportações de carne", explicou.A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse que, mesmo que o Reino Unido esteja saindo da União Europeia, ela buscará o melhor acesso possível ao mercado comum europeu, embora Londres não esteja necessariamente numa posição mais forte nas negociações do que Bruxelas.Tema soberania pode voltar à tonaPoole diz que o governo das ilhas quer promover uma política de boa vizinhança com todos os países da região e expandir os laços econômicos sempre que possível. Mas a questão da soberania pode sofrer um revés adicional com o Brexit."Até agora, os países europeus têm apoiado a posição britânica sobre as Ilhas Malvinas, porque elas são reconhecidas como um território ultramarino do Reino Unido nos tratados da União Europeia. Mas eles tampouco querem criar problemas na relação com a Argentina", afirma Vicente Berasategui, ex-embaixador da Argentina em Londres e integrante do Conselho Argentino para as Relações Internacionais (Cari).O Brexit poderia enfraquecer um pouco o apoio europeu a Londres na questão das Malvinas, argumentou o especialista argentino. "Eles perceberão que não precisarão mais mostrar esse nível de compromisso, e isso terá consequências", afirmou. Ele ressalva, no entanto, que o Reino Unido é um país poderoso, dentro ou fora da União Europeia.Depois do referendo, o presidente argentino, Mauricio Macri, destacou que "com ou sem Brexit, a reivindicação pelas Malvinas não vai mudar nunca". "Estamos esperando que algum dia possamos nos sentar numa mesa de negociações para poder dialogar o tema com profundidade", acrescentou.As relações entre Buenos Aires e Londres registraram uma melhora desde a posse de Macri, em dezembro de 2015, e o acordo para identificar os restos de soldados argentinos mortos no conflito armado de 1982 e que estão enterrados nas Malvinas. Também foi fechado um entendimento para avançar com voos diretos entre as ilhas e o território continental argentino.Em abril de 1982, a ditadura que governava a Argentina tentou recuperar o arquipélago localizado a cerca de 400 quilômetros da costa do país. O conflito, que durou pouco mais de dois meses, até a rendição argentina, custou a vida de 649 argentinos, 255 militares britânicos e três civis moradores das ilhas.Em 2013, os kelpers realizaram um referendo no qual a imensa maioria de seus habitantes votou a favor de continuar sendo um território ultramarino do Reino Unido.FC/dpa