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Míssil hipersônico russo acelera corrida armamentista

7.out.2015 - Navio russo lança míssil no mar Cáspio - Russian Defense Ministry Press Service/AP)
7.out.2015 - Navio russo lança míssil no mar Cáspio Imagem: Russian Defense Ministry Press Service/AP)

Nicolas Martin

30/03/2017 11h09

O míssil hipersônico de velocidade de 7.400 km/h planejado pela Rússia é considerado um "grande avanço tecnológico", que poderia tornar as defesas antiaéreas ocidentais "obsoletas", afirma o analista Tim Ripley, da revista especializada em defesa "Jane's Defence Weekly".

Se a nova tecnologia do míssil antinavio for bem-sucedida, o Zircon será capaz de cobrir uma distância de 250 quilômetros em apenas 2,5 minutos – tão rápido que o torna quase imune de ser interceptado pela tecnologia convencional.

"Isso vai reduzir muito o tempo de reação que eles [unidades militares ocidentais] têm para implementar suas próprias defesas e contramedidas", explica Ripley.

A agência de notícias russa Interfax citou no mês passado uma fonte familiarizada com o projeto Zircon, que está sendo desenvolvido há vários anos. O míssil de 5 toneladas será testado provavelmente pela primeira vez nesta primavera europeia, a partir de uma plataforma no mar.

O teste será realizado antes da data original, prevista para 2018. A imprensa russa afirma que o míssil poderá estar totalmente operacional até o final da década.

Porta-aviões expostos

A aceleração nos testes do Zircon acontece em meio ao ponto mais baixo nas relações entre Ocidente e Moscou desde a Guerra Fria, alimentado pela crise na Ucrânia, guerra na Síria e suposta interferência da Rússia na política ocidental – incluindo as eleições presidenciais nos EUA.

Vários jornais britânicos relataram nos últimos dias o desenvolvimento do Zircon, alertando que a arma faria com que os mais sofisticados navios de guerra dos EUA e Reino Unido – incluindo os porta-aviões – ficassem mais vulneráveis a um ataque.

Os novos porta-aviões HMS Queen Elizabeth e HMS Prince of Wales, por exemplo, que devem entrar em serviço em 2020, só conseguem parar mísseis que viajam em torno da metade da velocidade do Zircon, lembra o jornal britânico "The Independent".

Os navios de guerra custaram ao governo britânico 7 bilhões de libras (8,1 bilhões de euros), e a última arma hipersônica da Rússia poderia transformá-los em um dos maiores elefantes brancos militares de todos os tempos.

O Zircon pode ser programado durante o voo para buscar e atacar seu alvo, e poderia percorrer uma distância de até 500 quilômetros, de acordo com a mídia russa.

Ripley, autor de vários livros sobre conflitos militares e tecnologia, conta que a capacidade do míssil hipersônico Zircon pode incluir ataques terrestres, fazendo com que as cidades europeias fiquem vulneráveis aos ataques russos.

Os EUA desenvolvem suas próprias armas hipersônicas, mas ainda não acredita-se que eles estejam próximos do início da produção.

EUA atrás de Rússia e China

No ano passado, um relatório da Academia Nacional de Ciências dos EUA concluiu que Washington estava ficando atrás da Rússia e da China na corrida por armas hipersônicas. O documento pediu mais investimentos em mísseis que viajam, quase indetectáveis, a velocidades Mach 5 (a razão entre a velocidade do objeto e a do som) ou mais rápido.

"No domínio público, o Ocidente parece estar bastante atrasado", declara Ripley. "Mas isso não significa que não exista nenhum projeto supersecreto sendo executado pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Darpa)."

Estima-se que o Darpa, agência criada por Eisenhower em 1958 para conter a ameaça soviética, tenha um orçamento de 3 bilhões de dólares anuais para desenvolver tecnologias emergentes para o uso do Exército dos EUA.

Ripley acredita que o Ocidente tem razão em se preocupar com os avanços militares da Rússia, alertando que uma nova corrida armamentista é inevitável.

"Estamos novamente num período de possível paridade militar. Recentemente, a Rússia utilizou armas na Ucrânia, Crimeia e Síria que estão certamente no mesmo nível de seus equivalentes americanos e britânicos, incluindo mísseis de cruzeiro lançados de submarinos", explica.

Citando o fato de Donald Trump, presidente dos EUA, ter ordenado recentemente uma alta de 9,4% no gasto militar – ou 54 bilhões de dólares – Ripley observa para ver se os líderes europeus seguirão o exemplo.

Nos últimos meses, Washington aumentou a pressão sobre a Alemanha para investir mais do seu superávit orçamentário em gastos militares. No início deste mês, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, prometeu a Trump que seu governo trabalharia para atingir a meta da Otan de investimento de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa até 2025.

Mas, ao mesmo tempo em que Alemanha e França ficaram irritadas com a retórica de Washington sobre a relevância da Otan no século 21, o governo em Berlim rejeita realizar um aumento drástico de seus gastos para alcançar a meta da Aliança Atlântica. Para isso, teria que elevar em um terço seu atual orçamento em defesa, fixado em 36 bilhões para 2017.

"Essa é a coisa para se observar agora, se a Europa realmente intensificará e começará a investir em armas e equipamentos para fazer frente aos mais recentes produtos vindos de Rússia, China e Índia", opina Ripley.