"Não podemos nos esconder atrás de um muro", diz Obama diante de multidão na Alemanha
Ao lado de Merkel e diante dezenas de milhares de pessoas durante congresso protestante em Berlim, ex-presidente americano pede que se lute contra tendências antidemocráticas no mundo.
O ex-presidente americano Barack Obama foi nesta quinta-feira (25/05) o convidado mais proeminente entre os mais de 100 mil presentes no Dia da Igreja Protestante em Berlim. Diante do Portão de Brandemburgo, onde teve recepção de popstar, ele participou de um debate com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, sobre o tema responsabilidade.
Após se referir a Merkel como uma de suas "parceiras preferidas" em seus oito anos na Casa Branca, Obama fez uma defesa de seu legado e dos valores liberal-democráticos apoiados, como ressaltou, tanto por Alemanha quanto por Estados Unidos.
"Neste novo mundo em que vivemos, não podemos nos isolar, não podemos nos esconder atrás de um muro", disse o ex-presidente americano. "Temos que pressionar contra essas tendências que violam direitos humanos, suprimem a democracia e restringem as liberdades individuais."
Obama sublinhou que a ajuda humanitária, a resolução de conflitos e a luta contra a mudança climática não são "caridade", senão um "investimento" no conforto nacional. Ele reconheceu ainda que a globalização, a tecnologia, a desigualdade e fenômenos como a crise dos refugiados geraram "medos" que precisam ser combatidos.
A Europa, lembrou, não viveu um período de maior paz e prosperidade do que nas últimas décadas, mas os sistemas devem ser renovados para lutar contra esses medos e é necessário defender os valores comuns frente a tendências contrárias aos direitos humanos, à democracia.
Merkel, por sua vez, fez referência à crise dos refugiados, quando em 2015 chegaram à Alemanha mais de um milhão de migrantes, e destacou a solidariedade e a empatia mostrada por milhões de alemães naquele momento.
Como Obama, a chanceler reconheceu a impossibilidade de alcançar 100% das metas políticas, mas destacou a importância de perseguir os objetivos que são considerados valiosos e lembrou a história da Alemanha dividida e reunificada.
"É preciso olhar para frente", afirmou a chanceler.
A festividade em Berlim é uma reunião de superlativos: 2.500 eventos, 30 mil colaboradores e convidados de todo o mundo celebram os 500 anos de Reforma Luterana e da cultura protestante do debate. Além de estrelas políticas como Merkel e Obama, líderes espirituais destacados, filantropos e estrelas pop pregam, oram, cantam e debatem em Berlim e Wittenberg.
Entre as personalidades mais conhecidas estão o arcebispo da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba; o imã Ahmed el-Tayeb, da Mesquita de al-Azhar, no Cairo; a esposa de Bill Gates, Melinda; o cantor e compositor alemão Max Giesinger; o climatologista Ottmar Edenhofer; o enviado especial da ONU Staffan de Mistura e o escritor israelense Amos Oz.
História
O Dia da Igreja Protestante, que se comemora a cada dois anos desde 1949, é ao mesmo tempo cosmopolita e tipicamente alemão. O encontro foi criado pelo político alemão Reinold von Thadden-Trieglaff, que, como membro da Igreja Confessional, resistiu ao regime de Adolf Hitler, atuando como presidente do Dia da Igreja Protestante até 1964.
"Fora a Igreja Confessional, a Igreja Luterana não desempenhou um papel muito glorioso sob o nazismo, em grande parte", diz a porta-voz do Dia da Igreja Protestante Sirkka Jendis. "Ativistas leigos disseram, por isso: 'É preciso criar um fórum e contribuir para que tal coisa não aconteça novamente.'"
O movimento protestante laico foi crescendo a partir da Semana Protestante de 1949, em Hannover. Ele passou a organizar regularmente encontros que se distanciavam intencionalmente da Igreja Luterana oficial.
"A amplitude de conteúdo e a relevância pública são algo único", sublinha a porta-voz. "Este Dia da Igreja pode se tornar político", avisa, fazendo referência aos numerosos debates programados para o encontro, sobre temas como migração, refugiados, guerra, tolerância e integração.
Pensadores protestantes e teólogos não só influenciaram o Dia da Igreja Protestante na Alemanha, mas também conferiram destaque internacional ao encontro. Por isso, os motivos da visita de Obama ao Dia da Igreja Protestante não são apenas o aniversário da Reforma e Martinho Lutero.
O ex-presidente dos Estados Unidos se sente ligado ao protestantismo também pelos escritos do teólogo teuto-americano Reinhold Niebuhr. Seu "realismo cristão", que prega a justiça na observância do bem comum e rejeita a arrogância nacional, foi considerado por Obama uma diretriz de sua presidência.
Na Alemanha, esse fórum protestante foi influenciado pelas presidências honorárias exercidas por políticos como o ex-ministro do Desenvolvimento Erhard Eppler e o ex-presidente Richard von Weizsäcker. Eppler foi um dos líderes do movimento pacifista nos anos 80, Weizsäcker tentou, como presidente da Alemanha reunificada, de 1984 a 1994, superar a divisão do país.
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