Qual é a força do radicalismo de esquerda na Europa?
Tumultos em Hamburgo chamam a atenção para a capacidade de organização e ação dos radicais de esquerda. Só na Alemanha, há quase 30 mil, dos quais 8.500 são considerados propensos à violência.
Atos de violência, tumultos e saques de supermercados aconteceram em Hamburgo no fim de semana (07-08/07), à margem da cúpula do G20, deixando um número desconhecido de feridos e causando revolta entre os moradores da cidade. A violência também chamou a atenção para o radicalismo de esquerda, um fenômeno menos estudado que o extremismo de direita.
Quantos radicais de esquerda há na Europa?
Não há um número exato, pois os pesquisadores se dedicam muito mais ao extremismo de direita do que ao de esquerda. Como os acontecimentos em Hamburgo demonstraram, há uma rede de radicais de esquerda na Europa, cujas atividades têm pelo menos um certo grau de coordenação. Mas a Europol afirma não ter estimativas do número de pessoas envolvidas.
O último relatório do Ministério do Interior da Alemanha estima que, em 2016, havia 28,5 mil extremistas de esquerda no país, sendo 8.500 são violentos. O extremismo de esquerda existe em toda a Europa, e países como a Itália, a Grécia e a Suécia têm subculturas de esquerda radical no mínimo tão destacadas quanto a alemã. Registra-se violência de extrema esquerda também em cidades ricas como Zurique e Berna, na Suíça.
Há um aumento da violência de extrema esquerda na Europa?
Há sinais de que sim. O relatório mais recente da Europol sobre terrorismo mostra um "forte aumento" do número de ataques terroristas de extrema esquerda e anarquistas entre 2015 e 2016, apesar de observar que a "capacidade operacional dos grupos permanece baixa".
Isso coincide com dados do Ministério alemão do Interior, segundo os quais o número de extremistas de esquerda violentos na Alemanha aumentou em 10% em 2016, apesar de os atos de violência terem se reduzido. Os números de 2017 deverão ser maiores devido aos incidentes em Hamburgo.
É importante notar que os grupos de extrema esquerda não são todos igualmente propensos à violência. A Europol conclui que "grupos e indivíduos anarquistas tendem a ser mais violentos do que integrantes de movimentos de extrema esquerda".
Quantos tipos de extremismo de esquerda existem?
Há uma enorme variedade de grupos em operação na Europa, mas especialistas distinguem três categorias: comunistas que seguem a doutrina de Karl Marx e Vladimir Lenin; anarquistas; e os assim chamados autonomistas, que costumam estar ligados a prédios abandonados ocupados (squats), como o Rote Flora, em Hamburgo, ou o Christiana, em Copenhague. O governo alemão registra uma queda no número de comunistas, enquanto os outros dois grupos têm crescido. O governo também culpa os radicais autonomistas pela maior parte da violência.
Alguns movimentos radicais de extrema esquerda se definem pela oposição e atos de defesa contra grupos radicais de direita, como a Frente Revolucionária, na Suécia, e a Conspiração das Células de Fogo, na Grécia.
O que une os grupos radicais de esquerda, segundo o governo alemão, é a "rejeição ao sistema capitalista como um todo". O governo acrescenta que esses grupos definem capitalismo não somente como um sistema econômico, mas como algo mais complexo, que inclui desigualdade social, "destruição" de espaços de moradia nas cidades, extremismo de direita, racismo e depredação ambiental.
Entretanto muitos participantes dos tumultos violentos de Hamburgo podem também ser chamados de "turistas do tumulto", interessados apenas na destruição pura e simples. Uma consulta informal feita pela edição alemã da revista Vice, antes da cúpula, revelou que muitos manifestantes desconheciam os dados mais básicos sobre o G20.
Que tipos de crimes os radicais de esquerda cometem?
Os mais variados, de pichação a homicídio. Membros da Conspiração das Células de Fogo, por exemplo, são suspeitos de envolvimento na morte de dois seguidores do partido de extrema direita grego Aurora Dourada em 2013, e o grupo reivindicou o envio de uma carta-bomba ao ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble. A Frente Revolucionária, da Suécia publicou vídeos na internet de mascarados destruindo com um machado o que, segundo o grupo, era a residência de um radical de direita.
Mas nem todos os atos de violência ultraesquerdista são tão extremos, ressalta a Europol. "Na Alemanha, grupos anarquistas executaram vários incêndios criminosos em 2016, tendo como alvos sobretudo carros de particulares e viaturas policiais. Na Bélgica ocorreram casos semelhantes, com incêndios de carros e antenas de telefonia celular. Na Grécia e Itália, acredita-se que anarquistas estejam por trás de um número de ataques incendiários contra veículos e patrimônio, bem como em bancos."
O governo alemão conclui que os radicais de extrema esquerda estão se tornando mais violentos. Nos últimos cinco anos, cresceu consideravelmente a aceitação e a intensidade da violência na cena de extrema esquerda. Isso vale especialmente para aquela voltada contra a polícia e inimigos políticos (principalmente extremistas de direita reais ou supostos)."
A violência de extrema esquerda se concentra sobretudo nas grandes cidades e ocorre com frequência à margem de eventos como as reuniões do G20. "Extremistas de esquerda e anarquistas continuam tirando vantagem de manifestações legais para iniciar ataques violentos contra patrimônio público e forças de segurança", afirma a Europol.
Quais são as consequências da violência durante a cúpula do G20?
O efeito imediato é que a população europeia está muito mais atenta para a violência cometida por radicais de esquerda do que antes da cúpula. Políticos das duas maiores legendas políticos da Alemanha, a conservadora União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social-Democrata (SPD), defenderam a criação de uma lista europeia de extremistas de esquerda.
A Europol afirma, contudo, já existir um mecanismo para criar essa lista: seu projeto Dolphin permite a troca de informações sobre todos os crimes políticos graves, tanto de extrema direita como de extrema esquerda, que afetem dois ou mais países-membros da União Europeia.
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