Fim da guerra entre Etiópia e Eritreia
Países vizinhos encerram estado de guerra e retomam relações diplomáticas. Desenvolvimento de portos eritreus é de interesse da Etiópia, uma das economias que mais crescem na África.Etiópia e Eritreia assinaram nesta segunda-feira (09/07) uma "declaração de paz e de amizade" na capital etíope, Asmara, confirmando o fim do estado de guerra que existia entre os dois países há duas décadas.
Segundo o governo eritreu, o acordo se apoia em cinco pilares e foi assinado pelo presidente eritreu, Isaías Afewerki, e o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ao final de uma reunião, a primeira entre governantes da Etiópia e da Eritreia em 20 anos.
Os líderes destacaram o início de uma era de paz e amizade e que ambos os países trabalharão para promover uma cooperação próxima nas áreas política, econômica, social, cultural e de segurança.
"Concordamos com a retomada do tráfego aéreo e marítimo, a movimentação de pessoas entre os dois países e a reabertura de embaixadas", declarou Ahmed, depois das conversações com Afewerki. O acordo também permitirá aos cidadãos dos dois países se mudar e trabalhar nos territórios de ambos, destacou.
Além disso, serão implementadas decisões fronteiriças, justamente o ponto que acabou com as relações diplomáticas assinadas em 2000 no Acordo de Argel, quando a Etiópia se negou a ceder à Eritreia a cidade de Badme.
A aproximação inclui a reabertura das linhas aéreas e das ligações telefônicas entre os dois países e prevê também o desenvolvimento conjunto dos portos eritreus, uma das prioridades de Ahmed desde que chegou ao poder. Ele planeja reativar a Marinha do país e já havia negociado para isso com outros países da região, como Somália e Djibuti.
Pano de fundo econômico
Especialistas afirmam que a economia dos dois países será beneficiada com a decisão, pois os enormes recursos utilizados para a segurança de fronteiras poderão agora ser usados na construção de infraestrutura e escolas.
Ainda mais importante, do ponto de vista econômico, é o acordo para desenvolver os portos eritreus, o que dará à Etiópia, uma das economias que mais crescem na África e que não tem acesso ao mar, um importante ponto de escoamento de produtos pelo Mar Vermelho.
A Etiópia está apostando nas indústrias têxtil e de bens de consumo e construiu parques industriais que atraíram grandes nomes internacionais, como a americana PVH, a Velocity Apparelz Companies, de Dubai, e a chinesa Jiangsu Sunshine Group.
Além disso, o país está atraindo investimentos estrangeiros em agricultura e se tornando um dos principais produtores de flores para a Europa. Porém, as exportações etíopes dependem hoje de portos no Djibouti, um pequeno país vizinho. Como consequência, roupas fabricadas na Etiópia levam 44 dias para chegar à Europa, contra 28 dias da produção de Bangladesh e 21 dias da China. O acordo com a Eritreia pode aliviar esse gargalo.
Do outro lado, o governo de Afewerki é notoriamente isolacionista, mas os problemas na economia – que levam milhares de jovens a deixar o país todos os anos, a maioria rumo à Europa – e a perspectiva de alívio em sanções internacionais poderão servir de incentivo para que ele se mantenha no acordo.
Independência e guerra
Antiga província etíope no Mar Vermelho, a Eritreia declarou sua independência em 1993, depois de expulsar as tropas etíopes dos seus territórios em 1991, pondo fim a três décadas de guerra.
Porém, os dois países romperam ligações diplomáticas no início de um conflito de fronteiras entre 1998 e 2000, que deixou cerca de 80 mil mortos. As relações mantiveram-se tensas depois de a Etiópia ter se recusado a ceder à Eritreia um território fronteiriço disputado entre os dois países, apesar da decisão nesse sentido de uma comissão internacional independente apoiada pelas Nações Unidas, em 2002.
O Acordo de Argel, assinado em 2000 para concordar as linhas fronteiriças, estipulava que as duas partes aceitem a decisão da Comissão de Fronteira da Eritreia e a Etiópia como final e vinculativa.
No entanto, quando esta comissão decidiu conceder à Eritreia a cidade de Badme, epicentro da guerra, a Etiópia se retirou do compromisso, e o então primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, afirmou que só aceitaria esse decisão "a princípio".
Desde então as relações entre esses dois países do Chifre da África não haviam avançado. Essa situação mudou apenas com a chegada de Ahmed ao poder, em abril.
O Acordo de Argel é impopular na Etiópia, onde muitos cidadãos se sentem traídos pelo governo depois que o país ganhou a guerra com a Eritreia, na qual o próprio Ahmed combateu como membro de uma unidade do Exército.
AS/efe/lusa/afp/rtr
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Segundo o governo eritreu, o acordo se apoia em cinco pilares e foi assinado pelo presidente eritreu, Isaías Afewerki, e o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ao final de uma reunião, a primeira entre governantes da Etiópia e da Eritreia em 20 anos.
Os líderes destacaram o início de uma era de paz e amizade e que ambos os países trabalharão para promover uma cooperação próxima nas áreas política, econômica, social, cultural e de segurança.
"Concordamos com a retomada do tráfego aéreo e marítimo, a movimentação de pessoas entre os dois países e a reabertura de embaixadas", declarou Ahmed, depois das conversações com Afewerki. O acordo também permitirá aos cidadãos dos dois países se mudar e trabalhar nos territórios de ambos, destacou.
Além disso, serão implementadas decisões fronteiriças, justamente o ponto que acabou com as relações diplomáticas assinadas em 2000 no Acordo de Argel, quando a Etiópia se negou a ceder à Eritreia a cidade de Badme.
A aproximação inclui a reabertura das linhas aéreas e das ligações telefônicas entre os dois países e prevê também o desenvolvimento conjunto dos portos eritreus, uma das prioridades de Ahmed desde que chegou ao poder. Ele planeja reativar a Marinha do país e já havia negociado para isso com outros países da região, como Somália e Djibuti.
Pano de fundo econômico
Especialistas afirmam que a economia dos dois países será beneficiada com a decisão, pois os enormes recursos utilizados para a segurança de fronteiras poderão agora ser usados na construção de infraestrutura e escolas.
Ainda mais importante, do ponto de vista econômico, é o acordo para desenvolver os portos eritreus, o que dará à Etiópia, uma das economias que mais crescem na África e que não tem acesso ao mar, um importante ponto de escoamento de produtos pelo Mar Vermelho.
A Etiópia está apostando nas indústrias têxtil e de bens de consumo e construiu parques industriais que atraíram grandes nomes internacionais, como a americana PVH, a Velocity Apparelz Companies, de Dubai, e a chinesa Jiangsu Sunshine Group.
Além disso, o país está atraindo investimentos estrangeiros em agricultura e se tornando um dos principais produtores de flores para a Europa. Porém, as exportações etíopes dependem hoje de portos no Djibouti, um pequeno país vizinho. Como consequência, roupas fabricadas na Etiópia levam 44 dias para chegar à Europa, contra 28 dias da produção de Bangladesh e 21 dias da China. O acordo com a Eritreia pode aliviar esse gargalo.
Do outro lado, o governo de Afewerki é notoriamente isolacionista, mas os problemas na economia – que levam milhares de jovens a deixar o país todos os anos, a maioria rumo à Europa – e a perspectiva de alívio em sanções internacionais poderão servir de incentivo para que ele se mantenha no acordo.
Independência e guerra
Antiga província etíope no Mar Vermelho, a Eritreia declarou sua independência em 1993, depois de expulsar as tropas etíopes dos seus territórios em 1991, pondo fim a três décadas de guerra.
Porém, os dois países romperam ligações diplomáticas no início de um conflito de fronteiras entre 1998 e 2000, que deixou cerca de 80 mil mortos. As relações mantiveram-se tensas depois de a Etiópia ter se recusado a ceder à Eritreia um território fronteiriço disputado entre os dois países, apesar da decisão nesse sentido de uma comissão internacional independente apoiada pelas Nações Unidas, em 2002.
O Acordo de Argel, assinado em 2000 para concordar as linhas fronteiriças, estipulava que as duas partes aceitem a decisão da Comissão de Fronteira da Eritreia e a Etiópia como final e vinculativa.
No entanto, quando esta comissão decidiu conceder à Eritreia a cidade de Badme, epicentro da guerra, a Etiópia se retirou do compromisso, e o então primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, afirmou que só aceitaria esse decisão "a princípio".
Desde então as relações entre esses dois países do Chifre da África não haviam avançado. Essa situação mudou apenas com a chegada de Ahmed ao poder, em abril.
O Acordo de Argel é impopular na Etiópia, onde muitos cidadãos se sentem traídos pelo governo depois que o país ganhou a guerra com a Eritreia, na qual o próprio Ahmed combateu como membro de uma unidade do Exército.
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