O desertores militares da Venezuela
Muitos soldados venezuelanos não aguentaram mais reprimir parentes e amigos com violência e fugiram para o exterior. Sem trabalho, são forçados a mendigar. Mas voltar é impensável: na terra natal, a prisão os aguarda.Jackssel Mujica tem bons motivos de dar as costas para seu país natal. "Se eu voltar para a Venezuela, vou para a prisão por dez anos." Como integrante da Guarda Nacional Bolivariana, ele participou da repressão aos protestos no país, muitas vezes com violência e gás lacrimogêneo. Mas diz que não aguentava mais as ordens: entre os manifestantes estavam parentes e amigos seus, "e eles todos protestavam porque estavam passando fome".
Agora, da Colômbia, o desertor de 28 anos procura ajudar sua família e amigos, enviando-lhes 10 mil pesos quase diariamente. Embora no novo país o equivalente a três dólares mal dê para pagar uma refeição, na Venezuela a quantia cobre as necessidades diárias de toda uma família.
Há seis meses ele vive na cidade de Ipiales, no sudoeste colombiano, a apenas cinco quilômetros da fronteira com o Equador. No entanto não conseguiu encontrar trabalho e tem que mendigar à beira da estrada, portando um cartaz e explicando aos transeuntes e motoristas sua difícil situação.
Desse jeito o ex-soldado se vira, juntamente com o primo Yiron e outros compatriotas. Cada um deles tem que conseguir entre cinco e seis dólares, dia após dia, a fim de pagar por alojamento e comida.
Nos últimos meses, até 4 mil venezuelanos cruzaram a fronteira da Colômbia e para o Equador, em grande parte para não morrer de fome. Muitos tentam ajudar suas famílias a partir do exterior, enviando-lhes dinheiro.
A maioria pretendia seguir em direção ao sul, para o Peru ou o Chile, mas desde que o Equador restringiu a passagem, muitos ficam retidos na Colômbia, pois sem passaporte não podem entrar legalmente no país vizinho. Apesar de a Colômbia tê-los recebido, eles não se sentem bem-vindos.
"Muitos tratam a gente que nem lixo", comenta o ex-advogado Álvaro Terán. Ele vende café numa garrafa térmica e arepas, os pães de milho típicos venezuelanos. Ao contar sobre a vida passada, não consegue conter as lágrimas: "Nós tínhamos tudo, uma casa na praia, carros novos, até um barco para pescar." Nada disso sobrou.
Seu irmão também desertou das Forças Armadas venezuelanas, foi para o Brasil e depois seguiu para a Colômbia. E assim foi parar em Ipiales com a esposa e uma filha. A segunda filha ainda se encontra na Venezuela e acaba de ter um bebê.
Os olhos de Álvaro se umedecem novamente. "Daqui a um mês eu volto, para conhecer o meu neto. Nem que seja a última coisa que eu faça na vida", promete. E trata de vender logo o café que ainda resta, antes que fique frio.
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp |
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Agora, da Colômbia, o desertor de 28 anos procura ajudar sua família e amigos, enviando-lhes 10 mil pesos quase diariamente. Embora no novo país o equivalente a três dólares mal dê para pagar uma refeição, na Venezuela a quantia cobre as necessidades diárias de toda uma família.
Há seis meses ele vive na cidade de Ipiales, no sudoeste colombiano, a apenas cinco quilômetros da fronteira com o Equador. No entanto não conseguiu encontrar trabalho e tem que mendigar à beira da estrada, portando um cartaz e explicando aos transeuntes e motoristas sua difícil situação.
Desse jeito o ex-soldado se vira, juntamente com o primo Yiron e outros compatriotas. Cada um deles tem que conseguir entre cinco e seis dólares, dia após dia, a fim de pagar por alojamento e comida.
Nos últimos meses, até 4 mil venezuelanos cruzaram a fronteira da Colômbia e para o Equador, em grande parte para não morrer de fome. Muitos tentam ajudar suas famílias a partir do exterior, enviando-lhes dinheiro.
A maioria pretendia seguir em direção ao sul, para o Peru ou o Chile, mas desde que o Equador restringiu a passagem, muitos ficam retidos na Colômbia, pois sem passaporte não podem entrar legalmente no país vizinho. Apesar de a Colômbia tê-los recebido, eles não se sentem bem-vindos.
"Muitos tratam a gente que nem lixo", comenta o ex-advogado Álvaro Terán. Ele vende café numa garrafa térmica e arepas, os pães de milho típicos venezuelanos. Ao contar sobre a vida passada, não consegue conter as lágrimas: "Nós tínhamos tudo, uma casa na praia, carros novos, até um barco para pescar." Nada disso sobrou.
Seu irmão também desertou das Forças Armadas venezuelanas, foi para o Brasil e depois seguiu para a Colômbia. E assim foi parar em Ipiales com a esposa e uma filha. A segunda filha ainda se encontra na Venezuela e acaba de ter um bebê.
Os olhos de Álvaro se umedecem novamente. "Daqui a um mês eu volto, para conhecer o meu neto. Nem que seja a última coisa que eu faça na vida", promete. E trata de vender logo o café que ainda resta, antes que fique frio.
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