Opinião: Eslováquia diz "não" a populismo e nacionalismo
Ao eleger uma progressista liberal como presidente, eslovacos se opõem ao modelo Orbán, de demagogia, manipulação e baixaria retórica. Um sinal forte, capaz de provocar uma guinada política na região, opina Keno Verseck.Ainda poucos meses atrás, Zuzana ?aputová era uma desconhecida para a maioria de seus compatriotas. Quando começou a se destacar nas pesquisas de opinião, no início de 2019, os políticos governistas passaram a difamá-la: "candidata de orientação não normal", "produto do marketing da mídia", "garota inexperiente".
No entanto, agora a advogada, ativista dos direitos cidadãos e novata da política de 45 anos de fato conseguiu: ela é a nova presidente da Eslováquia, como primeira mulher no cargo na história do país, tendo obtido 60% dos votos, cerca de 20 pontos porcentuais a mais do que seu concorrente, Maroš Šef?ovi?, o comissário da União Europeia para a Saúde.
Um ano após a morte do jornalista investigativo Ján Kuciak e sua noiva Martina Kušnírová, essa vitória é um sinal claro de que a esmagadora maioria do eleitorado exige uma guinada decisiva em direção a "um país decente", segundo reza o slogan dos ativistas civis.
Assim como na primeira rodada do pleito, duas semanas atrás, ?aputová agradeceu a seus eleitores não apenas em eslovaco, mas também nas línguas minoritárias do país, inclusive o húngaro e o romani – um ato absolutamente inédito na política nacional.
E comentou sua vitória com modéstia, sem triunfalismos, dizendo-se feliz por ter vencido de uma maneira que muitos na arena política eslovaca criam impraticável: sem retórica agressiva, sem golpes baixos verbais e, acima de tudo, sem apelar para o populismo.
Com isso, a nova presidente da Eslováquia constitui uma decidida antítese aos numerosos políticos populista-demagógico-nacionalistas da região, exemplificados sobretudo pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. No entanto ela não é única política dessa ordem, mas antes encarna uma tendência frequentemente ignorada não só fora do Centro e Sul da Europa, como também, em parte, nos próprios Estados da região.
Zuzana ?aputová representa a assim chamada "política progressista", uma tendência reformista liberal de esquerda de alguns países europeus centrais e meridionais, cujos adeptos vêm tentando se organizar e angariar apoio amplo. Eles reivindicam não apenas mais Estado de direito, transparência e boa governança, como os liberais clássicos, mas igualmente mais justiça social e solidariedade social abrangente.
Estes são temas em grande parte negligenciados nas últimas três décadas, na região. Pesquisas de opinião na maioria de seus países mostram que os cidadãos não consideram seus maiores problemas a imigração ou uma União Europeia supostamente agindo de forma imperialista – como sugerem Orbán e outros demagogos –, mas sim a corrupção dos governantes, má administração e política social falha.
Ao ser eleita, Zuzana ?aputová tornou-se o exemplo mais forte da política progressiva na região. Enquanto advogada e ativista, há muito ela provou ter fôlego longo para a luta contra as estruturas mafiosas. E em sua campanha mostrou-se capaz de mobilizar os cidadãos para a própria agenda.
É fato que na Eslováquia o cargo presidencial não está atrelado a muitas prerrogativas, mas a voz da nova presidente terá peso grande. Se ela conseguir concretizar pelo menos uma parte de seus planos políticos e sociais, isso constituiria um sinal considerável para toda a Europa Central e Meridional, podendo resultar numa reviravolta, com a renúncia ao modelo Orbán.
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No entanto, agora a advogada, ativista dos direitos cidadãos e novata da política de 45 anos de fato conseguiu: ela é a nova presidente da Eslováquia, como primeira mulher no cargo na história do país, tendo obtido 60% dos votos, cerca de 20 pontos porcentuais a mais do que seu concorrente, Maroš Šef?ovi?, o comissário da União Europeia para a Saúde.
Um ano após a morte do jornalista investigativo Ján Kuciak e sua noiva Martina Kušnírová, essa vitória é um sinal claro de que a esmagadora maioria do eleitorado exige uma guinada decisiva em direção a "um país decente", segundo reza o slogan dos ativistas civis.
Assim como na primeira rodada do pleito, duas semanas atrás, ?aputová agradeceu a seus eleitores não apenas em eslovaco, mas também nas línguas minoritárias do país, inclusive o húngaro e o romani – um ato absolutamente inédito na política nacional.
E comentou sua vitória com modéstia, sem triunfalismos, dizendo-se feliz por ter vencido de uma maneira que muitos na arena política eslovaca criam impraticável: sem retórica agressiva, sem golpes baixos verbais e, acima de tudo, sem apelar para o populismo.
Com isso, a nova presidente da Eslováquia constitui uma decidida antítese aos numerosos políticos populista-demagógico-nacionalistas da região, exemplificados sobretudo pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. No entanto ela não é única política dessa ordem, mas antes encarna uma tendência frequentemente ignorada não só fora do Centro e Sul da Europa, como também, em parte, nos próprios Estados da região.
Zuzana ?aputová representa a assim chamada "política progressista", uma tendência reformista liberal de esquerda de alguns países europeus centrais e meridionais, cujos adeptos vêm tentando se organizar e angariar apoio amplo. Eles reivindicam não apenas mais Estado de direito, transparência e boa governança, como os liberais clássicos, mas igualmente mais justiça social e solidariedade social abrangente.
Estes são temas em grande parte negligenciados nas últimas três décadas, na região. Pesquisas de opinião na maioria de seus países mostram que os cidadãos não consideram seus maiores problemas a imigração ou uma União Europeia supostamente agindo de forma imperialista – como sugerem Orbán e outros demagogos –, mas sim a corrupção dos governantes, má administração e política social falha.
Ao ser eleita, Zuzana ?aputová tornou-se o exemplo mais forte da política progressiva na região. Enquanto advogada e ativista, há muito ela provou ter fôlego longo para a luta contra as estruturas mafiosas. E em sua campanha mostrou-se capaz de mobilizar os cidadãos para a própria agenda.
É fato que na Eslováquia o cargo presidencial não está atrelado a muitas prerrogativas, mas a voz da nova presidente terá peso grande. Se ela conseguir concretizar pelo menos uma parte de seus planos políticos e sociais, isso constituiria um sinal considerável para toda a Europa Central e Meridional, podendo resultar numa reviravolta, com a renúncia ao modelo Orbán.
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