Japão aposta em fraldas sujas para gerar energia limpa
Japão aposta em fraldas sujas para gerar energia limpa - Com o envelhecimento da população mundial, cresce o mercado para fraldas descartáveis - e o lixo que elas produzem. Diversas companhias japonesas pesquisam técnicas para reciclá-las.De fraldas usadas a combustível limpo para gerar eletricidade em 24 horas: essa era a visão de Yukihiro Kimura em 2004. Seis anos mais tarde, sua companhia criava a primeira máquina para fazer exatamente isso.
"O impulso foi quando entendi que fraldas eram tratadas como lixo para ser incinerado. Isso significava que eu podia usá-las como combustível. Essa ideia levou ao desenvolvimento do projeto", conta à DW o diretor executivo da Super Faiths.
Os processadores da empresa são capazes de transformar em pelotas de combustível cinzentas e quase inodoras as fraldas de adultos provenientes de hospitais, residências e lares para idosos. Suas máquinas, denominadas SFD Systems, têm capacidade diária para tratar cerca de 600 quilos de peças, gerando suficiente energia para alimentar um lâmpada por quatro dias seguidos.
As fraldas descartáveis são submetidas a laceração intensa, fermentação, secagem e a um processo de aquecimento que mata as bactérias remanescentes. As pelotas são então empregadas em caldeiras de biomassa para aquecer água ou gerar eletricidade.
Envelhecimento faz mercado de fraldas prosperar
A população japonesa é uma das que envelhecem mais rápido no mundo. Segundo projeções das Nações Unidas, até 2050 um em cada seis habitantes do planeta terá mais de 65 anos. Em contrapartida, Tóquio calcula, já em 2033, uma proporção de um para três. E até 2060, 40% do país deverá ser de idosos.
Isso explica a prosperidade do mercado de fraldas para adultos. Em 2018, o mercado global para produtos relacionados à incontinência foi avaliado em 9 bilhões de dólares, e a firma americana de pesquisas Fortune Business Insights projeta um crescimento de 7% ao ano para o setor, alcançando quase 20 bilhões de dólares até 2026.
Atualmente o Japão produz cerca de 23,5 bilhões de fraldas de papel por ano, dos quais 8,4 bilhões se destinam a adultos em lares e instituições médicas, como mostra um estudo de 2020.
A maioria das fraldas das residências é coletada e incinerada pelas autoridades locais, perfazendo de 6% a 7% do lixo domiciliar combustível. As dos estabelecimentos de cuidados especiais e hospitais são eliminadas por companhias especiais. O estudo também constatou que fabricar as fraldas com papel reciclado pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 39%, comparado com a aterragem ou incineração.
Reciclagem contra CO2
Num país que tem como meta reduzir a zero suas emissões de CO2, até 2050, as companhias japonesas são instadas a buscar novas tecnologias para geração de eletricidade sustentável. O governo está também considerando elevar os incentivos financeiros a esse tipo de investimento.
Uma das líderes de mercado em fraldas para adultos, a Unicharm, desenvolveu uma tecnologia para reciclar as peças. Seu protótipo processa 550 toneladas de fraldas descartáveis por ano. O produto final é polpa, o material usado para o revestimento de papel. Essas fraldas descartáveis deverão chegar ao mercado em 2022.
A Unicharm informa que "a unidade de reciclagem é capaz de recuperar centenas de quilos de polpa de alta qualidade a partir de quatro toneladas de fraldas usadas. Calcula que isso reduzirá os gases-estufa em 30% ou mais, comparado com a incineração".
A companhia também reutiliza a água usada para limpar e separar as fraldas. A água que sobra é então filtrada para gerar energia elétrica, numa célula de combustível microbiana que converte a matéria orgânica diretamente em eletricidade. A fabricante está cooperando com as municipalidades de Tóquio na coleta de fraldas descartadas de lares de idosos e creches.
Outras soluções para fraldas descartadas
A localização dos processadores é crucial para limitar as emissões de CO2, frisa Jeffrey Scott Cross, professor do Departamento de Ciência e Engenharia Transdisciplinar da Escola da Meio Ambiente e Sociedade do Instituto Tecnológico de Tóquio.
"Dado que fraldas usadas fazem volume, a fim de reduzir os custos de coleta e transporte até o local de reciclagem seria bom o equipamento estar localizado de forma central, ou perto dos hospitais ou centros de cuidados geriátricos, onde há muitas fraldas."
A Total Care System, também japonesa, construiu já em 2005 um sistema para reciclagem de fraldas empregando solubilização hídrica. A polpa assim gerada pode ser usada como matéria-prima em construções, enquanto o plástico separado vira combustível sólido, sendo aquecido com ar ou vapor para produzir diesel e gasolina. Oitenta por cento da água envolvida é reutilizada.
A companhia informa que processa 4.439 toneladas de fraldas usadas a cada ano, economizando assim 1.220 de toneladas em emissões de CO2, ou 40% do que resultaria da incineração.
Quanto ao potencial e eficácia dessa tecnologia para reduzir os gases de efeito estufa, Cross observa: "Reciclar as fraldas descartadas para extrair polpa e substâncias químicas seria mais ecológico, mas depende da energia total – a eletricidade e gás consumidos – e dos materiais para reciclar os componentes ou produzir pelotas de combustível."
Assim, "se as fraldas usam polpa derivada de madeira, queimar as pelotas criadas para gerar eletricidade não elevaria as emissões líquidas de CO2, dependendo da fonte de energia usada para produzir o combustível", conclui o professor do Instituto Tecnológico de Tóquio.
Ele classifica como uma "abordagem holística" a iniciativa das firmas japonesas de desenvolver e otimizar tecnologias de reciclagem para fraldas descartáveis, e de gerar energia verde.
Autor: Chermaine Lee
"O impulso foi quando entendi que fraldas eram tratadas como lixo para ser incinerado. Isso significava que eu podia usá-las como combustível. Essa ideia levou ao desenvolvimento do projeto", conta à DW o diretor executivo da Super Faiths.
Os processadores da empresa são capazes de transformar em pelotas de combustível cinzentas e quase inodoras as fraldas de adultos provenientes de hospitais, residências e lares para idosos. Suas máquinas, denominadas SFD Systems, têm capacidade diária para tratar cerca de 600 quilos de peças, gerando suficiente energia para alimentar um lâmpada por quatro dias seguidos.
As fraldas descartáveis são submetidas a laceração intensa, fermentação, secagem e a um processo de aquecimento que mata as bactérias remanescentes. As pelotas são então empregadas em caldeiras de biomassa para aquecer água ou gerar eletricidade.
Envelhecimento faz mercado de fraldas prosperar
A população japonesa é uma das que envelhecem mais rápido no mundo. Segundo projeções das Nações Unidas, até 2050 um em cada seis habitantes do planeta terá mais de 65 anos. Em contrapartida, Tóquio calcula, já em 2033, uma proporção de um para três. E até 2060, 40% do país deverá ser de idosos.
Isso explica a prosperidade do mercado de fraldas para adultos. Em 2018, o mercado global para produtos relacionados à incontinência foi avaliado em 9 bilhões de dólares, e a firma americana de pesquisas Fortune Business Insights projeta um crescimento de 7% ao ano para o setor, alcançando quase 20 bilhões de dólares até 2026.
Atualmente o Japão produz cerca de 23,5 bilhões de fraldas de papel por ano, dos quais 8,4 bilhões se destinam a adultos em lares e instituições médicas, como mostra um estudo de 2020.
A maioria das fraldas das residências é coletada e incinerada pelas autoridades locais, perfazendo de 6% a 7% do lixo domiciliar combustível. As dos estabelecimentos de cuidados especiais e hospitais são eliminadas por companhias especiais. O estudo também constatou que fabricar as fraldas com papel reciclado pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 39%, comparado com a aterragem ou incineração.
Reciclagem contra CO2
Num país que tem como meta reduzir a zero suas emissões de CO2, até 2050, as companhias japonesas são instadas a buscar novas tecnologias para geração de eletricidade sustentável. O governo está também considerando elevar os incentivos financeiros a esse tipo de investimento.
Uma das líderes de mercado em fraldas para adultos, a Unicharm, desenvolveu uma tecnologia para reciclar as peças. Seu protótipo processa 550 toneladas de fraldas descartáveis por ano. O produto final é polpa, o material usado para o revestimento de papel. Essas fraldas descartáveis deverão chegar ao mercado em 2022.
A Unicharm informa que "a unidade de reciclagem é capaz de recuperar centenas de quilos de polpa de alta qualidade a partir de quatro toneladas de fraldas usadas. Calcula que isso reduzirá os gases-estufa em 30% ou mais, comparado com a incineração".
A companhia também reutiliza a água usada para limpar e separar as fraldas. A água que sobra é então filtrada para gerar energia elétrica, numa célula de combustível microbiana que converte a matéria orgânica diretamente em eletricidade. A fabricante está cooperando com as municipalidades de Tóquio na coleta de fraldas descartadas de lares de idosos e creches.
Outras soluções para fraldas descartadas
A localização dos processadores é crucial para limitar as emissões de CO2, frisa Jeffrey Scott Cross, professor do Departamento de Ciência e Engenharia Transdisciplinar da Escola da Meio Ambiente e Sociedade do Instituto Tecnológico de Tóquio.
"Dado que fraldas usadas fazem volume, a fim de reduzir os custos de coleta e transporte até o local de reciclagem seria bom o equipamento estar localizado de forma central, ou perto dos hospitais ou centros de cuidados geriátricos, onde há muitas fraldas."
A Total Care System, também japonesa, construiu já em 2005 um sistema para reciclagem de fraldas empregando solubilização hídrica. A polpa assim gerada pode ser usada como matéria-prima em construções, enquanto o plástico separado vira combustível sólido, sendo aquecido com ar ou vapor para produzir diesel e gasolina. Oitenta por cento da água envolvida é reutilizada.
A companhia informa que processa 4.439 toneladas de fraldas usadas a cada ano, economizando assim 1.220 de toneladas em emissões de CO2, ou 40% do que resultaria da incineração.
Quanto ao potencial e eficácia dessa tecnologia para reduzir os gases de efeito estufa, Cross observa: "Reciclar as fraldas descartadas para extrair polpa e substâncias químicas seria mais ecológico, mas depende da energia total – a eletricidade e gás consumidos – e dos materiais para reciclar os componentes ou produzir pelotas de combustível."
Assim, "se as fraldas usam polpa derivada de madeira, queimar as pelotas criadas para gerar eletricidade não elevaria as emissões líquidas de CO2, dependendo da fonte de energia usada para produzir o combustível", conclui o professor do Instituto Tecnológico de Tóquio.
Ele classifica como uma "abordagem holística" a iniciativa das firmas japonesas de desenvolver e otimizar tecnologias de reciclagem para fraldas descartáveis, e de gerar energia verde.
Autor: Chermaine Lee
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.