As vacinas contra covid-19 em desenvolvimento no Brasil
As vacinas contra covid-19 em desenvolvimento no Brasil - Há mais de 20 imunizantes brasileiros em estudo, grande parte deles com financiamento do governo federal. Mas nenhum deles deve estar disponível ainda em 2021.O Brasil pode ter no futuro uma boa gama de imunizantes contra a covid-19 desenvolvidos por cientistas brasileiros à disposição do sistema de saúde. Conforme a DW Brasil apurou, todos ainda estão em fase preliminar – chamada de fase pré-clínica –, e nenhum deve estar disponível ainda neste ano: ou seja, o combate emergencial da pandemia deve mesmo ser feito com base em vacinas de tecnologia importada.
No entanto, considerando que há chance de a imunidade coletiva contra a covid-19 ainda não ser alcançada no Brasil neste ano e que a doença pode vir a ser uma doença sazonal e exigir, assim como a gripe, vacinação periódica da população, o país estaria mais bem preparado se conseguir desenvolver seus próprios imunizantes contra a doença.
No mais recente relatório sobre o tema divulgado pelo Ministério da Saúde, foram mencionados 16 projetos de pesquisa em andamento em instituições brasileiras – oito deles com financiamento total de R$ 7,8 milhões do governo federal, parte de um chamamento público lançado em abril do ano passado para apoiar iniciativas científicas e tecnológicas de combate à pandemia.
Constam no levantamento do ministério três projetos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), três do Instituto Butantan, sete da Universidade de São Paulo (USP) – um deles em parceria com uma empresa privada –, um da Universidade Federal de Viçosa, um da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em nota encaminhada à reportagem, a pasta informou ainda sobre outro projeto, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com investimento de R$ 2,4 milhões do governo federal. A DW Brasil levantou que há pelo menos outros cinco projetos em estudo no país, sendo quatro iniciativas do Instituto Butantan e uma da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
USP aposta em vacinas com alvos precisos
Uma das pesquisas mais avançadas para um imunizante brasileiro é a que vem sendo desenvolvida no Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da USP. Coordenada pelo médico Jorge Elias Kalil, a equipe busca uma vacina a ser aplicada por via nasal. "A ideia é que, pela instilação nasal, consigamos fortalecer o sistema imunológico onde o vírus mais ataca, que são as vias respiratórias", explica.
Kalil afirma que a aposta de sua equipe foi, "desde o início, ainda em março", pensar em um método diferente do convencional. "Sabíamos que as abordagens mais óbvias seriam feitas rapidamente por empresas muito ricas e nós não teríamos como competir. Então optamos por trabalhar em uma vacina com alvos mais precisos", diz.
"Usamos sistemas de bioinformática e nanopartículas com composições distintas que se ajudam", detalha. O médico explica que elas são resistentes e, como vetores do antígeno, podem induzir uma resposta local.
Outra solução, desenvolvida pela empresa Farmacore – em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP –, também se baseia em uma nanopartícula com uma proteína recombinante. "É de fácil produção, baixo risco biológico, sem necessidade de áreas de alto nível de biossegurança para produção", diz a presidente da companhia, Helena Faccioli Lopes.
Os estudos pré-clínicos estão na fase final e, em breve, o dossiê deve ser submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que sejam iniciados os testes clínicos. Segundo Lopes, há expectativa de que o imunizante induza "memória imunológica de longa duração".
"A previsão é que os ensaios clínicos em humanos tenham início neste semestre. Após isso, a vacina deve estar disponível para uso emergencial no período de nove a 12 meses", estima.
Butantan investe em vacinas mais potentes
Enquanto o Instituto Butantan está no centro dos holofotes por conta da parceria com o laboratório chinês Sinovac para o desenvolvimento da Coronavac, primeiro imunizante aplicado no Brasil, equipes de cientistas da entidade trabalham em sete tipos diferentes de vacina contra a covid-19.
Conforme conta o farmacêutico bioquímico Renato Mancini Astray, há trabalhos "na área de vacinas recombinantes de BCG ou influenza, além de uma vacina recombinante que está em testes pré-clínicos, mas a técnica e o parceiro são confidenciais".
"Dentre as iniciativas locais temos abordagens de produção de proteína recombinante do Sars-Cov-2 expressa em bactérias ou leveduras, produção de VLP [virus like particle] em células de inseto e produção de antígeno […] por processamento computacional", exemplifica.
Astray confirma que a estratégia adotada por essas equipes é "propor vacinas de segunda geração mais potentes [que as atualmente aprovadas] e possivelmente de maior cobertura que as vacinas emergenciais”. Ele lembra, contudo, que tais imunizantes não têm nem ainda previsão de ficarem prontos. "Com bons resultados, teríamos a possibilidade de entrar em estudos clínicos em 2022”, ressalta.
Estruturas já existentes
Astray avalia que as vacinas desenvolvidas em caráter emergencial para o combate à covid-19 só tiveram um processo acelerado porque se basearam em estruturas já existentes de pesquisa e de produção.
"Já existia um caminho construído para sua produção. Isso é o que chamamos de plataforma", afirma. "Essas plataformas são fundamentais para uma resposta rápida [a uma epidemia] e para um país ter soberania na produção de suas vacinas."
"No Brasil, não há sequer uma plataforma estruturada do início ao fim. Então, considero que, em vista da grande quantidade de candidatos vacinais em testes clínicos e fases mais avançadas de desenvolvimento, o melhor alvo dos projetos de vacina contra Sars-Cov-2 no Brasil deveria ser estabelecer plataformas do Sars-Cov-3, 4, 5, 6… e outros vírus [que possam surgir], em caráter emergencial", considera. Afinal, uma das lições desta pandemia é que um bom planejamento é essencial.
Autor: Edison Veiga
No entanto, considerando que há chance de a imunidade coletiva contra a covid-19 ainda não ser alcançada no Brasil neste ano e que a doença pode vir a ser uma doença sazonal e exigir, assim como a gripe, vacinação periódica da população, o país estaria mais bem preparado se conseguir desenvolver seus próprios imunizantes contra a doença.
No mais recente relatório sobre o tema divulgado pelo Ministério da Saúde, foram mencionados 16 projetos de pesquisa em andamento em instituições brasileiras – oito deles com financiamento total de R$ 7,8 milhões do governo federal, parte de um chamamento público lançado em abril do ano passado para apoiar iniciativas científicas e tecnológicas de combate à pandemia.
Constam no levantamento do ministério três projetos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), três do Instituto Butantan, sete da Universidade de São Paulo (USP) – um deles em parceria com uma empresa privada –, um da Universidade Federal de Viçosa, um da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em nota encaminhada à reportagem, a pasta informou ainda sobre outro projeto, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com investimento de R$ 2,4 milhões do governo federal. A DW Brasil levantou que há pelo menos outros cinco projetos em estudo no país, sendo quatro iniciativas do Instituto Butantan e uma da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
USP aposta em vacinas com alvos precisos
Uma das pesquisas mais avançadas para um imunizante brasileiro é a que vem sendo desenvolvida no Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da USP. Coordenada pelo médico Jorge Elias Kalil, a equipe busca uma vacina a ser aplicada por via nasal. "A ideia é que, pela instilação nasal, consigamos fortalecer o sistema imunológico onde o vírus mais ataca, que são as vias respiratórias", explica.
Kalil afirma que a aposta de sua equipe foi, "desde o início, ainda em março", pensar em um método diferente do convencional. "Sabíamos que as abordagens mais óbvias seriam feitas rapidamente por empresas muito ricas e nós não teríamos como competir. Então optamos por trabalhar em uma vacina com alvos mais precisos", diz.
"Usamos sistemas de bioinformática e nanopartículas com composições distintas que se ajudam", detalha. O médico explica que elas são resistentes e, como vetores do antígeno, podem induzir uma resposta local.
Outra solução, desenvolvida pela empresa Farmacore – em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP –, também se baseia em uma nanopartícula com uma proteína recombinante. "É de fácil produção, baixo risco biológico, sem necessidade de áreas de alto nível de biossegurança para produção", diz a presidente da companhia, Helena Faccioli Lopes.
Os estudos pré-clínicos estão na fase final e, em breve, o dossiê deve ser submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que sejam iniciados os testes clínicos. Segundo Lopes, há expectativa de que o imunizante induza "memória imunológica de longa duração".
"A previsão é que os ensaios clínicos em humanos tenham início neste semestre. Após isso, a vacina deve estar disponível para uso emergencial no período de nove a 12 meses", estima.
Butantan investe em vacinas mais potentes
Enquanto o Instituto Butantan está no centro dos holofotes por conta da parceria com o laboratório chinês Sinovac para o desenvolvimento da Coronavac, primeiro imunizante aplicado no Brasil, equipes de cientistas da entidade trabalham em sete tipos diferentes de vacina contra a covid-19.
Conforme conta o farmacêutico bioquímico Renato Mancini Astray, há trabalhos "na área de vacinas recombinantes de BCG ou influenza, além de uma vacina recombinante que está em testes pré-clínicos, mas a técnica e o parceiro são confidenciais".
"Dentre as iniciativas locais temos abordagens de produção de proteína recombinante do Sars-Cov-2 expressa em bactérias ou leveduras, produção de VLP [virus like particle] em células de inseto e produção de antígeno […] por processamento computacional", exemplifica.
Astray confirma que a estratégia adotada por essas equipes é "propor vacinas de segunda geração mais potentes [que as atualmente aprovadas] e possivelmente de maior cobertura que as vacinas emergenciais”. Ele lembra, contudo, que tais imunizantes não têm nem ainda previsão de ficarem prontos. "Com bons resultados, teríamos a possibilidade de entrar em estudos clínicos em 2022”, ressalta.
Estruturas já existentes
Astray avalia que as vacinas desenvolvidas em caráter emergencial para o combate à covid-19 só tiveram um processo acelerado porque se basearam em estruturas já existentes de pesquisa e de produção.
"Já existia um caminho construído para sua produção. Isso é o que chamamos de plataforma", afirma. "Essas plataformas são fundamentais para uma resposta rápida [a uma epidemia] e para um país ter soberania na produção de suas vacinas."
"No Brasil, não há sequer uma plataforma estruturada do início ao fim. Então, considero que, em vista da grande quantidade de candidatos vacinais em testes clínicos e fases mais avançadas de desenvolvimento, o melhor alvo dos projetos de vacina contra Sars-Cov-2 no Brasil deveria ser estabelecer plataformas do Sars-Cov-3, 4, 5, 6… e outros vírus [que possam surgir], em caráter emergencial", considera. Afinal, uma das lições desta pandemia é que um bom planejamento é essencial.
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