'Denúncia me salvou': vizinha relata perseguição de serial killer de AL
Em agosto de 2021, Ana (nome fictício) foi surpreendida com a inserção do seu número de WhatsApp em um grupo de pornografia intitulado "Putaria 100%." A inclusão a fez passar a receber contatos de diversos homens, que a procuravam com interesse em sexo.
Aos 24 anos à época, a jovem achou que se tratava de um erro. "Eu não tinha inimizade, então não tinha ninguém em mente que poderia ter raiva de mim para colocar meu nome desse jeito", diz.
Ela decidiu sair do grupo e bloqueou os contatos que falavam. Mas no dia seguinte, as inserções em grupos e procura por ela não cessavam.
Foi então que um detalhe chamou a atenção de Ana: um número com mesmo DDD de Alagoas, que estava nos grupos. Entre os contatos, havia números de todo o mundo,
Depois de dezenas de mensagens de pornografia, ela aproveitou a fala de um homem, que não enviou foto ou vídeo, e perguntou sobre quem teria passado o contato.
Ana recebeu um print desse homem: viu que era justamente esse número 82. Ele repassou o número salvo dela com o nome dela acompanhado de "puta vadia".
Ana procurou saber mais detalhes do número e viu que se tratava de Albino Santos de Lima, 42, o homem preso por ser o maior serial killer de Maceió, e que já confessou 8 mortes entre 2023 e 2024. Ele é suspeito de pelo menos mais 10 mortes.
O medo tomou conta de Ana, que morava em frente à casa de Albino e frequentava a mesma igreja que ele. Por essa relação religiosa, eles participavam de um mesmo grupo —onde Ana diz que ele pegou o seu contato.
Logo após reconhecer Albino, ela conta que teve falta de ar e ficou extremamente nervosa.
Ana procurou então a polícia e denunciou o caso, o que levou Albino a ser intimado. No depoimento, ele alegou que o celular dele teria sido clonado —o que não foi confirmado.
Na polícia, ele foi alertado para manter distância da jovem e da igreja. Apesar dele não ter entrado em contato depois da denúncia, Ana passou a viver com receio.
Durante todo esse tempo, eu ficava com medo quando passava algum carro, quando parava um carro na porta, com vidro fumê. Eu não compartilhava nem com os meus pais, mas eu ficava pensando: e se for alguém que ele mandou me matar? Isso fica na cabeça da pessoa e ainda assim me sentia culpada porque como eu posso me sentir tanto medo por um cara que nunca chegou perto de mim, que nunca me ameaçou diretamente?
Ana
Motivo da raiva
Ana afirma que, após saber que Albino foi quem a colocou no grupo, ela começou a ligar os fatos. Naquele mesmo dia que foi inserida no primeiro grupo, ele mandou uma mensagem privada no seu WhatsApp, sobre um evento que ocorreria na igreja, e ela ignorou.
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Quero receber"Mostrei até aos meus pais, estava claro que era para puxar assunto porque a informação que ele queria tinha no cartaz do evento. Eu ignorei", relata.
Além disso, ela conta que ele chegou a fazer menções a ela no grupo de WhatsApp da igreja, mas, que não eram respondidas.
Ana conta que Albino mantinha três perfis no Instagram, mas em nenhum usava seu nome real. "Eu bloqueei todos após isso", diz.
Nesses perfis, Albino postava mensagens de ódio contra o PT e de apoio a Israel, à Rússia e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em meio a isso, rotineiramente também postava figuras com frases religiosas.
Segundo a polícia, era pelo Instagram que Albino escolhia suas vítimas antes de monitorá-las e matá-las.
Após a prisão, o choque
Se antes a sensação era de medo, após a prisão e divulgação dos casos, a sensação de Ana foi de choque. "Foi horrível", define.
O detalhe que mais a impressionou foi que ela tem todos os perfis descritos pela polícia das vítimas: jovem, morena, bonita. Teoricamente, ela seria um alvo potencial. "Parecia até que eu estava vendo as séries policiais que eu gosto de assistir" relata.
Ana diz acreditar que o que a salvou foi o fato de ter denunciado à polícia e de ter tornado o caso público entre pessoas próximas. "Minha mãe, com medo que acontecesse algo, contou para todos os vizinhos possíveis porque se algo acontecesse, saberiam que foi ele. E o fato de eu ter o bloqueado, também impediu dele me monitorar."
Eu sempre dizia que uma hora iam descobrir algo muito grave dele, porque era nítido. Ele sempre foi muito esquisito, impossível não ver que tinha algo de errado.
Ana
Defesa: ele se sentia justiceiro
Em conversa com a coluna, o advogado de Albino, Geoberto Bernardo de Luna, afirmou que ele confessa oito mortes e diz que ele se sentia achava "um justiceiro, inspirado no ator Charles Bronson" e sua série de filmes "Desejo de matar." "Ele disse que matava porque eram traficantes envolvidos com droga", afirma.
A alegação, porém, já foi refutada pela polícia, que descarta essa ser a real motivação e acredita ser uma obsessão por mulheres com o perfil das vítimas.
Geoberto afirma que vai pedir um laudo psiquiátrico para saber a condição mental de Albino. "Se ele for doente, não pode ser punido, aí tem de ser internado em local próprio", diz.