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Por que a série "Round 6" da Netflix é um sucesso

Christine Lehnen

08/10/2021 10h19

Por que a série "Round 6" da Netflix é um sucesso - Na série sul-coreana, personagens com problemas financeiros disputam jogos infantis que ficam cada vez mais brutais - e até fatais. Sucesso é mais uma mostra da qualidade do cinema coreano.Que a indústria cinematográfica da Coreia do Sul tem muito a oferecer já é sabido, o mais tardar desde o sucesso do Oscar Parasita (2019), do diretor Bong Joon-ho, que também venceu o Festival de Cinema de Cannes, o mais importante do mundo. Agora é a vez de uma série sul-coreana da Netflix ficar famosa mundialmente: telespectadores do mundo todo estão vidrados em Round 6 (título original: Ojing-eo Geim – literalmente "Jogo da lula"), de Hwang Dong-hyuk.

A trama: portadores de problemas financeiros disputam o grande prêmio de um game show. Para ficarem multimilionários, precisam participar de brincadeiras infantis cada vez mais brutais, e que podem ser fatais.

No primeiro episódio, meninos estão jogando o "jogo da lula" num parquinho. Duas equipes competem com o objetivo de fazer os atacantes pisarem na pequena área chamada "cabeça da lula". No entanto, caso sejam empurrados pelos defensores para fora das linhas que formam a lula, eles estão "mortos".

Após essa cena de abertura, acompanha-se o protagonista Seong Gi-hun (interpretado com grande entusiasmo pelo excelente Lee Jung-jae) através de sua vida miserável na Seul de hoje. Ele é apresentado como um fracassado que ainda mora com a mãe e praticamente não tem renda própria. Abandonado pela esposa, não tem condições de cuidar da filha e sequer de lhe dar um presente de aniversário. Para completar, deve uma grande quantia a criminosos dispostos a cobrá-la à força.



O que teria tudo para ser deprimente é contado de forma bem-humorada. Sobretudo o olhar atento para a insensatez humana, suas pequenas e grandes fraquezas e o rápido entusiasmo de Seong Gi-hun tornam esta parte da série bem divertida.

É inegável, porém, que ele se encontra numa situação desesperadora: sua ex-mulher quer se mudar para os Estados Unidos com a filha e o novo marido. Para recuperar a custódia da menina, Seong precisa desesperadamente de dinheiro.

Começam os jogos mortais

Até aqui, a impressão é de se estar assistindo a uma cômica mistura do sucesso sul-coreano Parasita com uma típica produção de Hollywood sobre um péssimo pai de família.

Mas já na segunda metade do primeiro episódio, o tom de Round 6 muda dramaticamente: numa estação de metrô, Seong é abordado por um homem de terno. Numa cena impressionante, ele permite que o desconhecido lhe dê um tapa na cara em troca de 100 mil wons (cerca de 460 reais). O homem então o convida para participar de um "jogo" que pode lhe render muito dinheiro.



Seong Gi-hun aceita o convite, e em seguida se encontra nas instalações de Round 6. Ao todo, 456 participantes fazem fileiras para disputar seis jogos; no final, poderão ganhar 45,6 bilhões de wons (210 mil reais). Para isso, precisam participar de brincadeiras infantis como a vista no início da série. Só que com resultado fatal: quem perder, é fuzilado na hora.

Mostra da qualidade do cinema coreano

A série segue, portanto, a tradição de best-sellers mundiais, como O Senhor das Moscas (1954), do Nobel da Literatura britânico William Golding; Battle Royale (1999), do japonês K?shun Takami; e Jogos Vorazes (2008), de Suzanne Collins, que também envolvem lutas pela sobrevivência através de jogos. Round 6 também se baseia em reality shows de TV da década de 1990, sobretudo no famoso Castelo de Takeshi (1986-1990), cujos participantes tinham que executar tarefas ridículas e aparentemente perigosas para no fim invadir o Castelo de Takeshi e voltar para casa com o prêmio.



Na segunda metade do primeiro episódio, Round 6 passa a explorar plenamente os pontos fortes do cinema sul-coreano, com seu gosto pela estilização, o absurdo e o fantástico, a proximidade com os videogames e a coragem de olhar para a decadência humana. A série não hesita em mostrar a violência ou o ridículo de seus próprios personagens, e suspense é o que não falta.

Finalmente, uma série que vicia

Acima de tudo, Round 6 é extremamente empolgante. A vontade de assistir imediatamente ao próximo episódio é o que garante o sucesso de plataformas de streaming como a Netflix.

O jogo da série traz consigo uma interessante regra que a distingue de seus antecessores, como Jogos Vorazes ou O Senhor das Moscas: se a maioria dos jogadores decidir abandonar o jogo, ele é imediatamente encerrado. Por outro lado, porém, aí ninguém leva o prêmio.

Tanto personagens quanto o público são confrontados com a questão de até onde estão dispostos a ir por dinheiro – e o quanto a sociedade capitalista submete os indivíduos a situações que os conduzem à violência. Os participantes de Round 6 não estão presos numa ilha deserta, nem são vítimas de uma ditadura: eles podem acabar com o jogo mortal a qualquer momento.

Processo por tráfego de dados excessivo

Atualmente entre os programas da Netflix mais assistidos em mais de 90 países, inclusive o Brasil, a emocionante e multifacetada série pode até superar as quotas de audiência do romance Bridgerton, sucesso anterior da gigante do streaming, encenado numa corte britânica fictícia do início do século 19.

A elevada audiência criou uma situação curiosa: o provedor de internet SK Broadband, da Coreia do Sul, quer agora que a Netflix compartilhe os custos do aumento do tráfego de rede. Como o aumento supostamente se deve ao lançamento da série, a Netflix está agora sendo intimada a pagar pelos serviços adicionais de manutenção da rede.

É pouco provável que os telespectadores estejam interessados ??nessa disputa. Antes de tudo, eles querem mesmo é saber se a Netflix vai lançar uma segunda temporada em breve.

Todos os episódios da primeira temporada de Round 6 estão disponíveis na Netflix desde 17 de setembro de 2021.


Autor: Christine Lehnen