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Alemanha lembra deportação de judeus para campos nazistas

Volker Witting

18/10/2021 15h28

Alemanha lembra deportação de judeus para campos nazistas - Há 80 anos, começava na estação de Grunewald o transporte sistemático de judeus para o leste - e consequentemente para a morte. Em cerimônia, presidente diz que antissemitismo nunca mais deve ter lugar na sociedade alemãNesta segunda-feira (18/10) ensolarada de outono europeu, o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier depositou uma rosa branca no memorial Plataforma 17, na estação ferroviária Grunewald, em Berlim, pela esperança e contra o esquecimento das milhões de vítimas do nazismo. Há 80 anos, os nazistas deportaram os primeiros judeus desta estação de trem para os campos de concentração nazista – e para a incerteza, privação de direitos, sofrimento e morte.

Há uma década, as vítimas são homenageadas sempre no dia 18 de outubro no memorial Plataforma 17. "Nós temos momentos e lugares – como o dia de hoje e este local aqui – para que elas [as vítimas] não sejam esquecidas, para que seu destino, sofrimento e a morte das vítimas, bem como as atrocidades dos algozes e seus ajudantes sejam lembrados", afirmou o presidente alemão.

Franz e Petra Michalski estão sentados na primeira fila e vestidos completamente de preto. Há anos, eles não perdem este dia de homenagem. Eles são convidados de honra, testemunhas contemporâneas e vítimas do Holocausto.

"Neste dia pensamos em amigos e parentes, pessoas que conhecíamos e que ainda conseguiram fugir ou foram deportadas. E também naquelas que já se suicidaram", afirma Petra Michalski. Ela também fala por seu marido, Franz Michalski, de 87 anos, que não consegue mais se expressar tão bem devido a um derrame cerebral. Quando menino, ele escapou por pouco de nazistas no último minuto – e, portanto, da morte certa.



Em vagões de gado para o campo de concentração

A deportação sistemática de judeus da Alemanha para o Leste começou no outono europeu de 1941, meses antes da Conferência de Wannsee, onde o assassinato sistemático e a sangue frio de judeus foi meticulosamente planejado.

Nos documentos oficiais dos nazistas sobre as deportações, eles descrevem a medida eufemisticamente como "reassentamento", "evacuação" ou "transferência". Na verdade, as pessoas eram levadas ao encontro da morte, aos guetos e aos campos de concentração pela então companhia ferroviária alemã, a Deutsche Reichsbahn.

No início, eles foram transportados em vagões velhos que haviam sido descartados pela Reichsbahn; mais tarde, em vagões superlotados usados para transportar gado.

O primeiro transporte de Berlim deixou a estação de trem Grunewald em 18 de outubro de 1941, a partir da plataforma 17. Eram 1.089 crianças, mulheres e homens que foram deportados de lá para a então cidade de Litzmannstadt (em polonês, ?ód?). Mais de 50 mil judeus foram "levados" a partir de três estações de trem em Berlim e se tornaram vítimas do nazismo.

"Isso não deve acontecer nunca mais"

Franz Michalski é uma testemunha ocular: sobreviveu ao Holocausto e à fuga dos nazistas. Enquanto puder, ele quer contar sobre suas experiências em escolas, conferências e entrevistas. A reportagem da DW se encontra com o casal em seu apartamento localizado em Friedenau, em Berlim. A esposa Petra que dá os detalhes sobre a vida do marido.

Franz Michalski é filho de mãe judia e pai católico. Sua mãe, Lilli, se converteu ao catolicismo antes do casamento. No entanto, quando seu filho Franz nasceu em Breslau (em polonês, Wroc?aw), em 1934, ele era – de acordo com a doutrina racial cínica dos nazistas – uma criança de um "casamento misto".

A família é rica, e seus membros se tornam cada vez mais vítimas de discriminação: no trabalho, nas lojas e no jardim de infância. E exatamente no dia do 10º aniversário de Franz Michalski, a Gestapo, a polícia secreta do nazismo, está à porta da casa para prender a família e deportá-la. Eles, porém, conseguem escapar nos últimos minutos. A partir daí, é o início de uma longa odisseia pela República Tcheca, Áustria, pelo estado alemão da Saxônia até Berlim, onde a família sobrevive com sorte e por ter muitos ajudantes.



Os ajudantes e heróis silenciosos

Durante a entrevista, Franz Michalski subitamente dá um pulo. Ele retira um livreto – sobre sua história e sobrevivência – que ele mesmo escreveu da prateleira. "Quando a Gestapo tocou a campainha..." E então ele rapidamente abre a página 89 do livreto – muito mais importante para ele do que falar sobre seu livro é a lista de nomes que está nessa página. Logo acima está escrito: "Meus heróis silenciosos": seis nomes que ele nunca vai esquecer e que salvaram a vida dele e de sua família em fuga.

Entre os nomes está o de Erna Scharf, a babá dos Michalskis, que acolhia ocasionalmente Franz e seu irmão em sua casa. Gerda Mez, colega de trabalho do pai de Franz, organizava clandestinamente viagens para a família. Um policial disse a eles que a Gestapo em breve iria invadir o apartamento – e é graças a ele que a família Michalski conseguiu escapar a tempo.

Em 2012, Erna Scharf e Gerda Mez foram homenageadas postumamente como "Justas entre as Nações" pelo Yad Vashem, memorial do Holocausto em Jerusalém. "Você não precisa ter estudado. Você tem que ter um coração caloroso e amor pelas pessoas. Tem que ser esperto para poder ajudar os outros, e foi isso que nossos ajudantes fizeram. Essa é uma das razões pelas quais simplesmente caminhamos até a plataforma 17 para nos lembrar dos ajudantes silenciosos", diz Petra Michalski, que sabe exatamente como os ajudantes são importantes na vida de seu marido.

"Acontece de forma contínua!"

"Queremos enfrentar o antissemitismo", diz o casal Michalski. Logo depois, eles contam sobre um de seus netos que foi vítima de um ataque antissemita há quatro anos. O jovem, que tinha 14 anos na época, foi estrangulado e espancado, e uma execução foi simulada tudo por causa de sua fé judaica. O caso ganhou repercussão internacional.

É também por causa de tais casos que o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, faz um alerta urgente no memorial Plataforma 17: "Nunca mais o antissemitismo deve ter lugar em nossa sociedade. Nunca mais o pensamento e a ação antissemita devem permanecer sem oposição e reação pública", frisa.

A família Michalski tem ouvido com frequência tais palavras ou similares durante discursos deste tipo. E eles têm acompanhado de perto o fato de que o número de ataques antissemitas tem aumentado nos últimos meses e anos. Com um toque de resignação, eles afirmam: "[A discriminação e o terror nazista] nunca mais deveriam acontecer de novo. Mas acreditamos que eles não cessarão, porque desde que a humanidade existe, isso acontece sempre de novo".


Autor: Volker Witting