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O Brasil na imprensa alemã (16/03)

16/03/2022 12h18

O Brasil na imprensa alemã (16/03) - Possível intervenção do governo Bolsonaro na política de preços da Petrobras, posição do Brasil em relação a Putin e aumento do preço do café foram tema na mídia alemã.Frankfurter Allgemeine Zeitung – Como a guerra pressiona Bolsonaro no Brasil (10/03)

Uma intervenção na política de preços da estatal petrolífera Petrobras estava fora de questão até agora para o governo brasileiro. Ainda no ano passado, o presidente Jair Bolsonaro se manifestou explicitamente contra essa medida. A crise causada pela guerra na Ucrânia e a campanha eleitoral devem provocar, porém, uma reviravolta. Na segunda-feira, Bolsonaro trouxe à tona a ideia de congelar os preços da gasolina. Fontes do governo confirmaram as discussões sobre a questão.

No entanto, ainda não há uma posição oficial do governo. Há discordâncias sobre como proceder. Porém, é muito provável que a Petrobras sirva de instrumento para o governo no decorrer da crise. [...]

O preço da gasolina é um tema constante no Brasil há meses. Quase tudo é transportado por estradas na maior economia da América Latina. Um aumento no preço do petróleo, como o que o mundo vive atualmente, resulta em pressões inflacionárias imediatas e muito mais fortes do que já é o caso no Brasil e em outros países da região. Atrás da reviravolta de Bolsonaro não estão apenas considerações econômicas, mas também políticas.

Bolsonaro disputará a reeleição em outubro. Os preços persistentemente altos da gasolina e a inflação podem servir de munição na campanha eleitoral [...] Com uma intervenção na política de preços da Petrobras, Bolsonaro se alinha à posição de Lula e da esquerda [...]

O governo do PT foi acusado na época de usar a Petrobras como ferramenta para controlar a inflação, por não repassar para a bomba de gasolina os aumentos de preços do mercado mundial. Após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, sob um novo comando, a empresa passou a ajustar os preços de acordo com o mercado mundial. O Ministério da Economia se esquiva de uma intervenção na política de preços. O ministro da Economia, Paulo Guedes, que se colocou à disposição para participar de um segundo governo de Bolsonaro, não deve se colocar no caminho do presidente.

As empresas de energia que operam no Brasil criticaram as intenções do governo. Preços artificiais prejudicariam o abastecimento e inibiriam investimentos no setor, alertou o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás [...] A princípio, investidores consideram a intervenção do governo na política de preços da Petrobras um mau sinal, mas apontam que muito depende se se trata de uma medida temporária ou de uma intervenção mais profunda.

Der Tagesspiegel – Os fiéis de Putin (14/03)

Apesar do ataque à Ucrânia, Vladimir Putin ainda tem um punhado de apoiadores. Quem permanece leal Moscou – e por quê? [...]

Como me sinto em relação à Rússia e sua ofensiva? Para Jair Bolsonaro, a resposta a essa pergunta é delicada. Por um lado, o presidente brasileiro vê em Putin um correligionário, que, como ele, investe na autocracia e despreza a democracia [...] O Brasil depende, sobretudo, do fornecimento de fertilizantes. E é por isso que Jair Bolsonaro não quer azedar de jeito nenhum a relação com Vladimir Putin.

Por outro lado, o chefe de Estado brasileiro não pode se dar ao luxo de ofender o Ocidente com sua postura excessivamente demonstrativa pró-Moscou. Os EUA, principalmente, exigem que Bolsonaro se distancie claramente de Putin e de sua invasão da Ucrânia. No início, o Brasil, como membro do Conselho de Segurança da ONU [onde ocupa um assento não permanente], estava relutante em condenar a agressão russa. No final, o país votou a favor de uma resolução neste sentido. [...]

Entretanto, Bolsonaro declarou pouco depois: "Não tomaremos partido, continuaremos a ser neutros e ajudar em tudo o que for possível". Isso não soa como uma confrontação com Moscou.

Neues Deutschland – Café fica cada vez mais caro (10/03)

O preço do grão de café verde subiu ininterruptamente nos últimos 16 meses [...] Com a demanda ainda menor do que no início da pandemia, o aumento é causado pela oferta: há dois anos o Brasil enfrenta uma seca. No quarto trimestre de 2021, as exportações do principal fornecedor de grãos de café arábica foram um quarto menores do que no ano anterior [...]

O tamanho dos estoques no Brasil é, no entanto, desconhecido. Nicolas Rueda, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, assegura que eles são "suficientes para atender a demanda local e internacional". Um problema seria, no entanto, o atual gargalo no transporte de contêineres. "Todo o processo logístico está desequilibrado e levará muito tempo para se recuperar totalmente", afirmou Rueda à agência de notícias Bloomberg [...]

O quanto os cafeicultores se beneficiam com o aumento de preços é difícil de estimar. Três quartos do café vêm de fazendas relativamente pequenas, e apenas um quarto, de grandes plantações [...] Para os pequenos produtores, há poucos compradores. Apenas cinco atacadistas adquirem um terço da produção mundial. A maioria deles está sediada na Suíça [...]

A concentração também é alta entre os torrefadores: os dez maiores reúnem mais de um terço da participação de mercado. Entre eles estão nomes conhecidos como Nestlé, Jacobs, Starbucks, Lavazza, Melitta e Tchibo [...]

Comerciantes e torrefadores acumulam as maiores margens. Consumidores gastam entre 200 bilhões e 250 bilhões de dólares por ano em café. Desse total, os países de origem do grão recebem cerca de 20 bilhões de dólares, e os cafeicultores, ainda menos.