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Banda russa Pussy Riot faz turnê europeia em apoio à Ucrânia
Banda russa Pussy Riot faz turnê europeia em apoio à Ucrânia - Conhecidas por protestar contra Putin e serem presas por isso, ativistas do grupo farão shows pela Europa para arrecadar fundos para Ucrânia. Para cofundadora do coletivo, regime russo precisa da guerra para sobreviver.O coletivo de artistas Pussy Riot quer provocar e protestar contra o sistema político russo. Sua marca registrada: as balaclavas coloridas. Seu inimigo: Vladimir Putin.
"Não há perspectiva para a Rússia com Putin, este homem louco que poderia iniciar uma guerra nuclear com o apertar de um botão", diz a cofundadora da banda Maria Alyokhina, em entrevista à DW. "Ele deve ser preso imediatamente e levado a julgamento."
Putin precisa de uma guerra permanente, acrescenta: "O regime não quer a paz. As pessoas devem estar permanentemente ocupadas com a sobrevivência. O Estado precisa da guerra, construiu tudo sobre ela, não pode viver sem ela."
Ela não quer acreditar nas estatísticas que apontam que 80% dos russos apoiam a guerra. Ela está convencida de que "as pessoas não estão dizendo a verdade, pois temos uma lei que proíbe chamar esta guerra de guerra".
Maria Alyokhina conseguiu recentemente fugir da Rússia. Ela descreveu as circunstâncias de sua fuga ao jornal New York Times. Colocada sob prisão domiciliar pelas autoridades russas, ela escapou com a ajuda de um truque: disfarçada de funcionária de um serviço de entrega de comida. Um amigo a levou então para a fronteira da União Europeia, em Belarus. Mas ali seu passaporte foi confiscado, já que ela estava na lista de procurados pela Rússia.
Maria Alyokhina não tem medo da liderança russa. "Como eu poderia ter medo deles? Parecem um enorme demônio, mas por dentro são muito desorganizados, corruptos e estúpidos." Segundo a ativista do Pussy Riot, somente depois de alguns dias as autoridades notaram que ela havia deixado o país.
Turnê da banda começa em Berlim
Graças ao artista performático islandês e amigo Ragnar Kjartansson, ela conseguiu documentos e pôde entrar na Lituânia. Na capital, Vilnius, vários membros do Pussy Riot se reuniram e começaram a ensaiar para uma turnê europeia, que começa em Berlim nesta quinta-feira (12/05).
"Pussy Riot está em lugares diferentes, na Rússia e no exterior", diz Maria Alyokhina. "Não posso dizer quantos membros temos." Não é uma associação. Se você faz o ativismo Pussy Riot, você pertence ao Pussy Riot. Se vocês querem fazer algo com o Pussy Riot, façam-no!"
As ativistas manifestam solidariedade com a Ucrânia. Somente em fevereiro, elas leiloaram NFTs de uma foto da bandeira azul e amarela do país invadido pela Rússia. A venda das ações virtuais levantou 3 milhões de dólares nas primeiras 24 horas, que o Pussy Riot doou à Come Back Alive, organização não governamental que ajuda soldados ucranianos com equipamento técnico, como dispositivos de visão noturna e câmaras de imagem térmica. Os lucros dos shows da turnê do grupo também devem ir para a Ucrânia.
Fundado em 2011, o Pussy Riot lutou inicialmente pelos direitos das mulheres e da comunidade gay com apresentações de guerrilha punk rock no metrô ou em frente ao Kremlin, protestando contra todas as formas de opressão.
No início de 2012, integrantes do coletivo denunciaram os estreitos laços da Igreja Ortodoxa russa com o líder do Kremlin, Vladimir Putin, na Catedral do Cristo Salvador em Moscou. A reação do Kremlin não tardou: apesar dos protestos internacionais, Maria Alyokhina e Nadezhda Tolokonnikova, os rostos públicos do grupo, foram condenadas a dois anos num campo penal na Sibéria por "hooliganismo por ódio religioso".
Vigilância permanente
No entanto, não se deixaram silenciar: com greves de fome, elas protestaram contra maus-tratos e assédio na prisão, e escreveram cartas descrevendo as condições desumanas a que estavam submetidas.
Libertadas devido a uma anistia no final de 2013, elas declararam que passariam a defender os direitos dos presos no país. Elas conclamaram por solidariedade aos prisioneiros punidos por imporem resistência contra o regime de Putin. Ambas fundaram também a Mediazona, um projeto de mídia que foca criticamente o sistema penal e judicial da Rússia, e a ONG Zona de Justiça, que organiza ajuda jurídica para prisioneiros.
No exterior, suas ações lhes trazem muito reconhecimento: elas se apresentam de Londres a Berlim, de Madri a Nova York − e até mesmo no Parlamento Europeu, onde Nadezhda Tolokonnikova e Maria Alyokhina exigiram sanções contra Moscou em 2014. Mas, em seu próprio país, elas praticamente não são percebidas, a não ser pelos agentes de Putin.
Em 2014, quando receberam o Prêmio Hannah Arendt por seu engajamento, elas falaram à DW sobre vigilância permanente, de homens que as observavam e agiam de forma suspeita.
Rússia aperta o cerco
A repressão à liberdade de expressão está se tornando cada vez mais extrema na Rússia. Na maioria das vezes, a atenção da mídia em relação ao Pussy Riot é baixa, os canais estatais leais ao regime silenciam sobre o grupo ou informam sobre suas sentenças de prisão.
Mas o coletivo de artistas está mudando sua forma de protesto. São pequenas alfinetadas que repetidamente levam membros do Pussy Riot à prisão. Agora homens também fazem parte do grupo.
Maria Alyokhina estava sentada em um bistrô francês após um show, quando quatro ativistas correram pelo gramado na segunda metade da final da Copa do Mundo de 2018 em Moscou. Elas foram presas ainda no estádio. Em sua página oficial no Facebook, o Pussy Riot se distanciou do ato e exigiu que o governo russo libertasse os prisioneiros políticos. E publicou uma canção sobre um "policial amigável": é um "sonho utópico de uma realidade política alternativa", escreveu o grupo.
No aniversário de Putin em 7 de outubro de 2020, integrantes do grupo hastearam bandeiras do arco-íris nos prédios do governo em Moscou.
Em meados de 2021, pouco antes das eleições da Duma na Rússia, vários membros do Pussy Riot fugiram para a vizinha Geórgia por causa da escalada das represálias. Quem ficou no país foi colocado sob prisão domiciliar, condenado a multas ou prisão, e declarado agente estrangeiro.
Maria Alyokhina já esteve sob prisão domiciliar várias vezes. Seus apelos para manifestações a favor do oposicionista preso Alexei Navalny, em setembro de 2021, renderam-lhe um ano de restrição maciça à liberdade. Agora, ela também deixou a Rússia. Sua companheira de luta Nadezhda Tolokonnikova vive nos Estados Unidos.
Apesar da crescente pressão, o coletivo quer continuar a se rebelar contra a Rússia de Putin. O projeto Riot Days, com o qual o coletivo está agora em turnê, é baseado no livro homônimo de Maria Alyokhina. Nele, ela fala de suas experiências com o Pussy Riot, da vida em um campo de prisioneiros e da luta sem fim contra a opressão. Sons eletrônicos, rap e música ao vivo contam uma história impressionante de resistência, repressão e revolução num cruzamento de concertos, manifestações e teatro. Uma coisa fica mais do que clara: o Pussy Riot ama sua pátria. Mas, aos olhos de muitos russos, são traidoras.
Autor: Suzanne Cords, Julia Hitz
"Não há perspectiva para a Rússia com Putin, este homem louco que poderia iniciar uma guerra nuclear com o apertar de um botão", diz a cofundadora da banda Maria Alyokhina, em entrevista à DW. "Ele deve ser preso imediatamente e levado a julgamento."
Putin precisa de uma guerra permanente, acrescenta: "O regime não quer a paz. As pessoas devem estar permanentemente ocupadas com a sobrevivência. O Estado precisa da guerra, construiu tudo sobre ela, não pode viver sem ela."
Ela não quer acreditar nas estatísticas que apontam que 80% dos russos apoiam a guerra. Ela está convencida de que "as pessoas não estão dizendo a verdade, pois temos uma lei que proíbe chamar esta guerra de guerra".
Maria Alyokhina conseguiu recentemente fugir da Rússia. Ela descreveu as circunstâncias de sua fuga ao jornal New York Times. Colocada sob prisão domiciliar pelas autoridades russas, ela escapou com a ajuda de um truque: disfarçada de funcionária de um serviço de entrega de comida. Um amigo a levou então para a fronteira da União Europeia, em Belarus. Mas ali seu passaporte foi confiscado, já que ela estava na lista de procurados pela Rússia.
Maria Alyokhina não tem medo da liderança russa. "Como eu poderia ter medo deles? Parecem um enorme demônio, mas por dentro são muito desorganizados, corruptos e estúpidos." Segundo a ativista do Pussy Riot, somente depois de alguns dias as autoridades notaram que ela havia deixado o país.
Turnê da banda começa em Berlim
Graças ao artista performático islandês e amigo Ragnar Kjartansson, ela conseguiu documentos e pôde entrar na Lituânia. Na capital, Vilnius, vários membros do Pussy Riot se reuniram e começaram a ensaiar para uma turnê europeia, que começa em Berlim nesta quinta-feira (12/05).
"Pussy Riot está em lugares diferentes, na Rússia e no exterior", diz Maria Alyokhina. "Não posso dizer quantos membros temos." Não é uma associação. Se você faz o ativismo Pussy Riot, você pertence ao Pussy Riot. Se vocês querem fazer algo com o Pussy Riot, façam-no!"
As ativistas manifestam solidariedade com a Ucrânia. Somente em fevereiro, elas leiloaram NFTs de uma foto da bandeira azul e amarela do país invadido pela Rússia. A venda das ações virtuais levantou 3 milhões de dólares nas primeiras 24 horas, que o Pussy Riot doou à Come Back Alive, organização não governamental que ajuda soldados ucranianos com equipamento técnico, como dispositivos de visão noturna e câmaras de imagem térmica. Os lucros dos shows da turnê do grupo também devem ir para a Ucrânia.
Fundado em 2011, o Pussy Riot lutou inicialmente pelos direitos das mulheres e da comunidade gay com apresentações de guerrilha punk rock no metrô ou em frente ao Kremlin, protestando contra todas as formas de opressão.
No início de 2012, integrantes do coletivo denunciaram os estreitos laços da Igreja Ortodoxa russa com o líder do Kremlin, Vladimir Putin, na Catedral do Cristo Salvador em Moscou. A reação do Kremlin não tardou: apesar dos protestos internacionais, Maria Alyokhina e Nadezhda Tolokonnikova, os rostos públicos do grupo, foram condenadas a dois anos num campo penal na Sibéria por "hooliganismo por ódio religioso".
Vigilância permanente
No entanto, não se deixaram silenciar: com greves de fome, elas protestaram contra maus-tratos e assédio na prisão, e escreveram cartas descrevendo as condições desumanas a que estavam submetidas.
Libertadas devido a uma anistia no final de 2013, elas declararam que passariam a defender os direitos dos presos no país. Elas conclamaram por solidariedade aos prisioneiros punidos por imporem resistência contra o regime de Putin. Ambas fundaram também a Mediazona, um projeto de mídia que foca criticamente o sistema penal e judicial da Rússia, e a ONG Zona de Justiça, que organiza ajuda jurídica para prisioneiros.
No exterior, suas ações lhes trazem muito reconhecimento: elas se apresentam de Londres a Berlim, de Madri a Nova York − e até mesmo no Parlamento Europeu, onde Nadezhda Tolokonnikova e Maria Alyokhina exigiram sanções contra Moscou em 2014. Mas, em seu próprio país, elas praticamente não são percebidas, a não ser pelos agentes de Putin.
Em 2014, quando receberam o Prêmio Hannah Arendt por seu engajamento, elas falaram à DW sobre vigilância permanente, de homens que as observavam e agiam de forma suspeita.
Rússia aperta o cerco
A repressão à liberdade de expressão está se tornando cada vez mais extrema na Rússia. Na maioria das vezes, a atenção da mídia em relação ao Pussy Riot é baixa, os canais estatais leais ao regime silenciam sobre o grupo ou informam sobre suas sentenças de prisão.
Mas o coletivo de artistas está mudando sua forma de protesto. São pequenas alfinetadas que repetidamente levam membros do Pussy Riot à prisão. Agora homens também fazem parte do grupo.
Maria Alyokhina estava sentada em um bistrô francês após um show, quando quatro ativistas correram pelo gramado na segunda metade da final da Copa do Mundo de 2018 em Moscou. Elas foram presas ainda no estádio. Em sua página oficial no Facebook, o Pussy Riot se distanciou do ato e exigiu que o governo russo libertasse os prisioneiros políticos. E publicou uma canção sobre um "policial amigável": é um "sonho utópico de uma realidade política alternativa", escreveu o grupo.
No aniversário de Putin em 7 de outubro de 2020, integrantes do grupo hastearam bandeiras do arco-íris nos prédios do governo em Moscou.
Em meados de 2021, pouco antes das eleições da Duma na Rússia, vários membros do Pussy Riot fugiram para a vizinha Geórgia por causa da escalada das represálias. Quem ficou no país foi colocado sob prisão domiciliar, condenado a multas ou prisão, e declarado agente estrangeiro.
Maria Alyokhina já esteve sob prisão domiciliar várias vezes. Seus apelos para manifestações a favor do oposicionista preso Alexei Navalny, em setembro de 2021, renderam-lhe um ano de restrição maciça à liberdade. Agora, ela também deixou a Rússia. Sua companheira de luta Nadezhda Tolokonnikova vive nos Estados Unidos.
Apesar da crescente pressão, o coletivo quer continuar a se rebelar contra a Rússia de Putin. O projeto Riot Days, com o qual o coletivo está agora em turnê, é baseado no livro homônimo de Maria Alyokhina. Nele, ela fala de suas experiências com o Pussy Riot, da vida em um campo de prisioneiros e da luta sem fim contra a opressão. Sons eletrônicos, rap e música ao vivo contam uma história impressionante de resistência, repressão e revolução num cruzamento de concertos, manifestações e teatro. Uma coisa fica mais do que clara: o Pussy Riot ama sua pátria. Mas, aos olhos de muitos russos, são traidoras.
Autor: Suzanne Cords, Julia Hitz
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