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Israel concentra tropas para potencial invasão de Gaza

Conflito entre Israel e Hamas entrou no 5º dia com novos ataques na Faixa da Gaza Imagem: REUTERS/Mohammed Salem - 09.out.2023

11/10/2023 08h20Atualizada em 11/10/2023 11h26

As Forças Armadas de Israel têm concentrado milhares de tropas nos arredores da Faixa de Gaza, o enclave palestino de onde partiram os terroristas do Hamas que massacraram mais de mil israelenses no fim de semana, indicando uma potencial invasão iminente por terra do território palestino.

Desde o último sábado, dia da ofensiva terrorista surpresa do Hamas, Israel já realizou mais de 2 mil operações aéreas retaliatórias contra alvos em Gaza. Cerca de 300 ocorreram só na última noite. O brigadeiro Omer Tishler, chefe do Estado-Maior da Força Aérea de Israel, afirmou que caças estão atacando a Faixa de Gaza numa "escala sem precedentes".

Autoridades de saúde de Gaza afirmaram nesta quarta-feira (11/10) que os intensos ataques aéreos retaliatórios de Israel já deixaram mais de mil palestinos mortos e mais de 4.000 feridos no enclave. Regiões inteiras da Cidade de Gaza, principal área urbana do enclave, foram reduzida a ruínas.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 200 mil habitantes da Faixa de Gaza, que tem população de pouco mais de 2 milhões, fugiram de suas casas.

Nesta terça-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, falando a soldados concentrados perto de Gaza, disse: "O Hamas queria promover uma mudança e terá uma. O que existia em Gaza não existirá mais".

"Iniciamos a ofensiva pelo ar e, mais tarde, também atacaremos pelo solo. Estamos na ofensiva. Ela só vai se intensificar", disse, nas declarações mais explícitas até o momento de que Israel se prepara para uma invasão por terra de Gaza. Desde o ataque do Hamas, Israel também convocou mais de 300 mil reservistas.

Escala das atrocidades do Hamas começa a ficar mais clara

As falas de Gallant ocorrem quando começa a ficar mais clara a escala das atrocidades cometidas pelo grupo fundamentalista Hamas contra israelenses no último fim de semana, conforme tropas de Israel recuperam o controle de áreas tomadas pelos terroristas.

O último balanço aponta que a ofensiva do Hamas resultou no massacre de pelo menos 1.200 pessoas em território israelense, incluindo crianças, mulheres e idosos. Os números têm subido constantemente desde sábado, com a descoberta de mais corpos e buscas em comunidades que foram ocupadas pelo Hamas.

Mais de cem corpos foram encontrados no kibutz israelense Be'eri, uma comunidade agrícola próxima de Gaza e um dos primeiros locais invadidos pelos terroristas no sábado. Também foram encontrados dezenas de corpos no kibutz vizinho de Kfar Aza. O jornal israelense Haaretz descreveu o que aconteceu no local como "o maior massacre de judeus desde o Holocausto". Autoridades israelenses também expressaram comparações similares.

"Durante minha infância, ouvi falar dos pogroms na Europa, do Holocausto, é claro. Toda a minha família veio da Europa, eles são sobreviventes. Mas nunca pensei que meus olhos acabariam vendo imagens e coisas assim", disse o major-general israelense Itai Veruv à rede americana CNN. "Mães, pais, bebês, famílias mortas em suas camas, em abrigos, na sala de jantar, em seus jardins. Não é uma guerra, não é um campo de batalha. É um massacre."

Entre os civis assassinados em Israel estão cidadãos dos EUA, Brasil e França. Várias vítimas participavam de um festival de música que ocorria a poucos quilômetros da fronteira com Gaza e que foi alvo de um ataque de homens armados do Hamas. No local, foram encontrados pelo menos 260 corpos. Dois brasileiros que participavam do festival foram assassinados pelo Hamas.

Mais de uma centena de israelenses e estrangeiros, incluindo mulheres e idosos, também foram sequestrados pelo Hamas e levados para Gaza como reféns. Na terça-feira, o embaixador israelense nas Nações Unidas estimou o número de reféns entre 100 e 150.

O Hamas ameaçou matar os reféns caso Israel não cesse seus bombardeios a Gaza, mas até o momento não há indicações de que algum sequestrado tenha sido executado.

Cerco a Gaza

Além de concentrar tropas, Israel ordenou um "cerco total" a Gaza, cortando o fornecimento de eletricidade, água, combustível e comida para o enclave, espremido entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo e habitado por pouco mais de 2 milhões de palestinos.

Dois terços da eletricidade consumida em Gaza dependiam de fornecimento israelense. Com o corte, o enclave passou a depender exclusivamente de uma termoelétrica local, mas esta também deve ficar sem combustível na tarde desta quarta-feira, segundo autoridades palestinas locais. Há temor de que o corte total de eletricidade afete duramente os hospitais locais, já superlotados de pessoas que ficaram feridas nos ataques aéreos.

Falando à rede Al Jazeera, o repórter Nedal Samir Hamdouna, baseado em Gaza, disse que as condições no enclave sitiado se assemelham a um inferno. "Não tenho palavras para descrever como é terrível a situação aqui", disse.

Em reposta ao cerco, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu na terça-feira a abertura de um corredor humanitário até Gaza. "É necessário um corredor humanitário para fornecer suprimentos médicos essenciais às populações", disse o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic.

Na terça-feira, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, afirmou que a maioria absoluta dos países do bloco é contrária ao "cerco total" imposto a Gaza e à suspensão da ajuda humanitária ao enclave.

"Israel tem certamente o direito de se defender, mas isso deve ocorrer de acordo com os princípios das leis humanitárias internacionais. Pedimos também a libertação dos reféns, assim como o acesso a água, alimentos e remédios, que devem também estar de acordo com as leis", disse Borrell.

EUA enviam munições para Israel

Em apoio a Israel, os EUA enviaram carregamentos de munições para as Forças Armadas do país. O primeiro avião com o material aterrissou na base aérea israelense de Nevatim na terça-feira.

No mesmo dia, o presidente americano, Joe Biden, fez mais um discurso de apoio aos israelenses. "Temos de ser claros: nós apoiamos Israel", disse Biden, prometendo que o seu país dará a Israel todo o apoio necessário para responder ao ataque do Hamas.

Em seu discurso, Biden disse que entre os que mortos na ofensiva do Hamas estão bebês e que há registo de mulheres "estupradas, agredidas e exibidas como troféus".

O presidente dos EUA afirmou ainda que o Hamas não defende os direitos do povo palestino, mas o utiliza como "escudo humano". O ataque do Hamas a Israel também resultou em pelo menos 14 cidadãos americanos.

"A brutalidade da sede de sangue do Hamas traz à mente os piores ataques do Isis. Isso é terrorismo", disse, em referência ao grupo Estado Islâmico, que nos anos 2010 se notabilizou por lançar uma campanha de terror sem precedentes na Síria e no Iraque, chegando a declarar a instalação de um "califado" na região.

Choques na fronteira com o Líbano

Paralelamente ao cerco de Gaza, tropas israelenses também entraram em choque com o grupo terrorista Hisbolá, na fronteira norte de Israel. O grupo xiita baseado no Líbano tem lançado foguetes contra o território israelense.

As tropas de Israel afirmaram ter matado três homens do Hisbolá em confrontos. Três militares israelenses também morreram na segunda-feira num ataque reivindicado pelo grupo Movimento da Jihad Islâmica na Palestina, que também opera a partir do Líbano.

Riscos envolvidos em invasão por terra

No fim de semana, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, que prometeu "vingar" os massacres do fim de semana, advertiu aos palestinos que deixem áreas de Gaza onde o Hamas opera. Mas, com Gaza isolada e cercada, moradores dizem que não têm para onde fugir.

A última operação israelense em Gaza a incluir uma invasão terrestre ocorreu em 2014 e deixou um saldo de mais de 2 mil mortos na faixa, a maioria civis, segundo as Nações Unidas. No longo prazo, a operação também falhou em acabar com o Hamas, que continuou a atuar e a se preparar para novos ataques, como o registrado no último fim de semana.

Desde 2014, Israel vinha preferindo realizar apenas operações aéreas contra o Hamas, também como uma forma de limitar potenciais baixas de tropas terrestres israelenses. Mas, após o massacre de sábado, diferentes setores políticos e militares israelenses passaram a pressionar pela tomada de medidas mais drásticas contra o Hamas.

"Qualquer coisa menos do que uma invasão será um grave erro. Precisamos conquistar Gaza, ou pelo menos a maior parte dela, e destruir o Hamas. Não podemos continuar a fazer as mesmas coisas que fizemos antes e que não estão funcionando", disse Amir Avivi, ex-vice-comandante da Divisão de Gaza das Forças Armadas de Israel.

As tropas israelenses ocuparam Gaza por quase quatro décadas, entre os anos 1960 e 2000. Em 2005, Israel promoveu uma retirada unilateral do enclave. No entanto pouco depois a área caiu sob domínio completo do Hamas, que expulsou políticos palestinos moderados e impôs um regime fundamentalista, passando ainda a promover ataques regulares a Israel. Desde 2007, Israel e Egito - que também se opõe ao Hamas - impõem um severo bloqueio econômico e de circulação ao enclave, que ficou ainda mais empobrecido no período.

Mas tomada de reféns israelenses pelo Hamas, incluindo mulheres e idosos, que foram levados pela Gaza, devem complicar potenciais planos de invasão terrestre. Uma nova invasão por terra também levanta o temor de mais um banho de sangue. As áreas urbanas de Gaza estão entre as mais densamente povoadas do planeta.

AP, dpa, Reuters, Lusa, ots, DW

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