Chineses são resgatados em obras de montadora na Bahia
Obras de construção de uma fábrica da montadora chinesa de carros BYD foram parcialmente interditadas nesta segunda-feira (23/12) após autoridades federais resgatarem 163 trabalhadores vindos do exterior e mantidos pela empresa em condições análogas à escravidão, informou o Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA).
O embargo parcial da obra em Camaçari, na região metropolitana de Salvador (BA), foi comunicado à empresa e ao Jinjiang Group, uma das empreiteiras contratadas para a empreitada, informou o MPT-BA. Foram interditados pelo MPT alojamentos e trechos do canteiro de obras da fábrica de automóveis.
A unidade, que abrigará a produção de carros elétricos e híbridos, está sendo instalada na área da antiga fábrica da Ford. As obras começaram em março deste ano, com investimento superior a R$ 5,5 bilhões e apoio do governo da Bahia, e devem ser concluídas no final de 2025.
A força-tarefa de órgãos envolvidos na fiscalização da montadora é integrada por Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF).
Em nota reproduzida pelo jornal Folha de S.Paulo, a BYD Auto do Brasil afirmou não tolerar desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana, e prometeu rescindir imediatamente o contrato com a Jinjiang e assegurar os direitos trabalhistas dos operários terceirizados.
Alojamentos insalubres
Os órgãos fiscalizadores falam em "quadro alarmante de precariedade" e "problemas graves de infraestrutura e higiene". Em um dos alojamentos, trabalhadores dormiam em camas sem colchões e tinham que dividir um único banheiro entre 31 pessoas. Também foram encontrados alimentos armazenados próximos a "banheiros em condições insalubres" e a materiais de construção.
No canteiro de obras, aproximadamente 600 trabalhadores dividiam oito banheiros químicos "em estado deplorável, sem papel higiênico, água ou manutenção adequada".
Os operários também ficavam "expostos a intensa radiação solar, apresentando sinais visíveis de danos à pele". "Foram registrados diversos acidentes de trabalho, incluindo um caso em que o trabalhador, devido à privação de sono causada pelas condições inadequadas de alojamento e longas jornadas, sofreu um acidente", afirmou o MPT-BA.
Descontos salariais e dívidas em caso de rescisão contratual
O órgão alega ainda que os trabalhadores tinham jornada de dez horas diárias, sem folgas regulares, "eram obrigados a pagar caução, tinham 60% de seus salários retidos (recebendo apenas 40% em moeda chinesa), enfrentavam ônus excessivo para rescisão contratual e tinham seus passaportes retidos pela empresa". Caso se demitissem, perderiam o valor da caução e a parte retida do salário, e teriam ainda que arcar com os custos da passagem de ida e volta.
"Para se ter uma ideia, caso um trabalhador tentasse rescindir o contrato de trabalho após seis meses, deixaria o país sem receber efetivamente nada pelo seu trabalho, já que o desconto da caução, da passagem de vinda ao Brasil e o pagamento da passagem de retorno, na prática, configuraria confisco total dos valores recebidos pelos trabalhadores ao longo da relação de trabalho", afirma o órgão.
Segundo o MPT-BA, os alojamentos e canteiros de obras embargados serão liberados apenas mediante regularização junto aos órgãos da força-tarefa.
Uma audiência do Ministério Público e Ministério do Trabalho com a BYD e a Jinjiang foi marcada para esta quinta-feira (26/12), quando as empresas poderão negociar as condições para regularizar a obra.
ra (ots)
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