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"Herói do Concordia" estava fora do cruzeiro

Carmen Postigo

Em Roma

18/01/2012 11h30

A discussão furiosa e indignada entre o comandante Gregorio De Falco, da Capitania dos Portos de Livorno, e o capitão do Costa Concordia, Francesco Schettino, que deixou o navio antes da retirada de milhares de pessoas, foi escutada na terça-feira por toda a Itália, que elevou o primeiro à categoria de herói.

O diálogo entre o capitão, de 52 anos, que fugia do acidente por volta das 23h30 local em um bote salva-vidas e o comandante de Livorno, de 46 anos, que, imperiosa e taxativamente, ordenava seu retorno ao navio para socorrer milhares de homens, mulheres e crianças ocorreu à 1h46.

No entanto, Schettino, que afirmava o tempo todo estar no comando da embarcação, embora depoimentos de um cozinheiro o situavam em um bar esperando uma bebida ao lado de uma mulher, não voltou ao cruzeiro, onde até as 3h da madrugada houve passageiros sendo resgatados.

"Escute, Schettino", disse De Falco, "há pessoas presas a bordo. Dirija-se com seu barco abaixo da proa do navio pelo lado direito. Suba a bordo pela escada de corda e me diga quantas pessoas há lá. Está claro?".

O diálogo, que foi reproduzido por todos os meios de comunicação durante a terça, não deixou os italianos indiferentes e as redes sociais estão saturadas nesta quarta-feira com o nome do herói que nunca quis sê-lo.

De fato, na noite da sexta-feira De Falco chorou de raiva quando ficou claro que no interior do navio haviam ficado presos homens, mulheres, portadores de deficiência física e talvez algumas crianças, 300 pessoas que foram abandonadas a bordo por Schettino, segundo a acusação.

Chorou de raiva, segundo contaram seus subordinados aos meios de comunicação, ao pensar no caráter "desumano" do capitão.

No entanto, De Falco pediu aos jornalistas que se esqueçam dele. Sua missão é e foi a de "socorrer". Por outro lado, o comandante considera que o verdadeiro herói é seu subcomandante, Alessandro Tosi, que às 22h07 local lhe disse: "Comandante, aquele cruzeiro está indo devagar demais, 6 nós (aproximadamente 11 km/h). O que faz a 6 nós em uma rota invertida? Há um problema".

De Livorno ligaram para a ponte de comando do Costa Concordia para esclarecer as razões da lenta navegação da embarcação: "É só um problema técnico", respondeu o capitão.

Já na conversa da madrugada, o comandante De Falco, segundo explicou, percebeu pela voz de Schettino que estava mentindo e escutou os gritos distantes das pessoas que pediam socorro.

"Abandonar é mais do que desertar, é trair o Código Marítimo", disse De Falco.

Cruzeiro naufraga na itália

  • Arte/UOL

"Não queria fugir, caí em um barco de salvamento", argumentou Schettino, acrescentando que "tentou salvar todos". "Nem sequer coloquei o colete salva-vidas porque serviria para outras pessoas", alegou.

Tanto o capitão do navio, natural de Meta di Sorrento, como De Falco, nascido em Nápoles, são marinheiros da região da Campânia, ao sul da Itália.

"Para nós é a ofensa mais dura porque há tantos marinheiros campanos que são como De Falco dos quais ninguém fala, tantos marinheiros valentes que não se comportam como o comandante Schettino e não merecem esse rótulo", disse Raffaella, esposa do comandante "herói" ao jornal "Corriere della Sera".

Tudo indica que a frase "Suba a b-o-r-d-o!" entrará para a história do acidente, uma tragédia na qual os italianos encontraram um gesto que neutraliza a péssima atuação de seu compatriota, o capitão napolitano.

O lema já está impresso em camisetas divulgadas nas redes sociais.

"De Falco for president", dizem frases postadas no Twitter, "Santo Subito", "Eu o quero como presidente do Conselho", "Vá à minha casa, a porta para o senhor estará sempre aberta" são algumas das mensagens que circulam pela internet sobre o novo herói, que jamais pisou no Concordia.