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Novo papa enfrentou os Kirchner e é acusado de cumplicidade com ditadura

13/03/2013 22h56

Buenos Aires, 13 mar (EFE).- Jorge Mario Bergoglio, eleito nesta quarta-feira primeiro papa latino-americano e jesuíta, manteve, como chefe da Igreja Católica argentina, duros enfrentamentos com os governos dos Kirchner e prestou depoimento como testemunha por denúncias de grupos de direitos humanos sobre seu papel na ditadura.

O primeiro papa argentino foi líder da Companhia de Jesus no país e ocupou a presidência da Conferência Episcopal entre 2001 e 2011, durante dois mandatos consecutivos, até que abandonou o cargo porque os estatutos lhe impediam de continuar.

Como máxima autoridade da Igreja Católica no país e, embora considerado um homem moderado e dialogante, manteve famosos confrontos com o falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e com sua esposa e sucessora, Cristina Kirchner, por temas como o casamento gay e o aborto.

Kirchner, falecido em outubro de 2010, chegou a qualificá-lo como o "verdadeiro representante da oposição", embora suas diferenças não tenham impedido que, após a morte do ex-mandatário, Bergoglio reagisse com rapidez e rezasse uma missa na catedral.

"O povo tem que esquecer todo tipo de posição antagônica diante da morte de um homem ungido pelo povo para conduzi-lo e todo o país deve rezar por ele", disse então.

Durante o mandato de Cristina Kirchner, tentou manter uma relação distante, mas chegou a promover uma "guerra de Deus" contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Em 2008, Bergoglio pediu a Cristina um "gesto de grandeza" com as patronais agrárias, denunciou a "homogeneização" do pensamento e a "crispação social" durante uma grave crise entre o governo e os produtores rurais.

Em 2010, tentou por todos os meios evitar a aprovação da lei que reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mobilizou os sacerdotes em defesa da "unidade familiar" e convocou vigílias na frente do Parlamento.

"Não sejamos ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é a pretensão destrutiva do plano de Deus", escreveu Bergoglio às vésperas da aprovação do projeto no Congresso.

Embora tenha perdido esta batalha, pouco depois conseguiu frear a divulgação de uma guia médica que repassava os casos de aborto admitidos pela lei argentina: estupro e perigo para a vida ou a saúde da mãe.

O impulso que os Kirchner deram aos julgamentos pelos crimes de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura militar (1976-1983) atingiu a Igreja Católica e Bergoglio depôs como testemunha em dois processos ligados ao período.

A organização Avós da Praça de Maio lembrou hoje em comunicado que Bergoglio depôs no caso de Elena de la Cuadra, desaparecida quando estava grávida, e cuja família o procurou em busca de ajuda.

As Avós reproduziram um fragmento da declaração do então cardeal na qual admitia que teve conhecimento da apropriação de crianças durante a ditadura apenas pouco antes dos anos 1990.

Também declarou no processo pelo sequestro de dois jesuítas que, segundo a acusação, foram detidos porque perderam a proteção de sua ordem religiosa, como assinala o livro "El silencio" do jornalista Horacio Verbitsky, presidente do Centro de Estudos Legais e Sociais (Cels).

Seguidores de Bergoglio asseguram, pelo contrário, que o novo papa mantém uma clara aposta no trabalho pastoral em áreas desfavorecidas e ajudou a muitos durante o regime ditatorial.