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Venezuelanos vão decidir futuro econômico do país em eleições

Laura Barros

Em Caracas

11/04/2013 18h01

Com uma inflação galopante e o impacto de uma desvalorização de quase 32% da moeda local, o novo presidente que os venezuelanos vão escolher nas eleições do próximo domingo terá que decidir entre dar continuidade ao modelo adotado pelo falecido governante Hugo Chávez ou mudar o rumo do governo.

Depois de 14 anos caminhando rumo ao chamado "socialismo do século XXI", promovido pelo presidente Hugo Chávez, o país forte produtor de petróleo realiza sua primeira eleição sem o líder da revolução bolivariana e terá como protagonistas o candidato governista Nicolás Maduro e o opositor Henrique Capriles.

Atual presidente encarregado, Maduro chega ao pleito como se fosse o "filho" de Chávez e com a garantia de dar continuidade ao modelo socialista que, 14 anos depois, exibe como suas principais conquistas uma melhora nos indicadores sociais, enquanto a economia continua sem controle da inflação e sem diminuir a dependência do petróleo.

"Estamos em uma luta com dois modelos: o modelo da pátria, chavista, revolucionário, nacionalista (...) ou o modelo transnacional de privatizações", afirmou Maduro, que prometeu completar o "plano de pátria" adotado por Chávez.

Nestes 14 anos, segundo estatísticas publicadas pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o chavismo traz como suas próprias conquistas a redução da pobreza, que passou de 49,4% (em 1999) para 29,5% (em 2011), enquanto o índice de miséria caiu de 21,7% para 11,7%, respectivamente.

A gestão de Chávez destaca, além disso, a queda da mortalidade infantil, que desceu de 20,3 para cada 1 mil nascidos vivos em 1998 para 12,9 em 2010, enquanto a taxa de matrícula no ensino fundamental subiu de 85,1% para 92,7% entre 1999 e 2011, sendo que o ensino médio passou de 48% para 72,8% no mesmo período.

Apesar dos índices favoráveis citados, a inflação continua em dois dígitos - 20,1%, em 2012 -, embora este resultado represente uma queda de 7,5 pontos em relação aos 27,6% registrados em 2011.

A receita do país também continua dependente em grande medida do petróleo, que, dos US$ 16 por barril, passou para mais de US$ 100 na atualidade. Esse é o contraste vivido na Venezuela, onde entidades patronais como a Fedecámaras advertem que nos últimos 10 anos 170 mil empresas, das 617 mil existentes, foram fechadas e outras 2,3 mil desapropriadas.

Capriles, por sua vez, manifestou a necessidade de captar o investimento estrangeiro, defendeu o modelo econômico brasileiro e afirmou com veemência que sua chegada ao poder não vai significar o fim dos programas sociais, conhecidos pelos venezuelanos como "missões".

Ao contrário da campanha eleitoral das eleições de outubro, nas quais foi derrotado por Chávez, Capriles não se mostrou contrário ao modelo do "socialismo do século XXI", sobre o qual já havia dito que tinha se esgotado.

Maduro assumiu o posto de presidente encarregado da Venezuela no dia 8 de março, três dias depois da morte de Chávez, mas estava à frente do governo desde 10 de dezembro.

De acordo com Capriles, durante esses 100 dias ocorreram "duas grandes desvalorizações", referindo-se à modificação do "padrão único" de venda de dólar, que, desde 8 de fevereiro, subiu de 4,3 para 6,3 bolívares, uma desvalorização de quase 31,7%.

Já a segunda desvalorização citada seria a que levou o governo a estabelecer o Sistema Complementar de Administração de Divisas (Sicad), um mecanismo de leilão para alocar dólares a empresas, a um preço ainda mais elevado que o estabelecido para a mudança convencional.

"Em 100 dias, Nicolás está acabando com os 14 anos do presidente da República (Chávez). Os senhores podem imaginar isso em 6 anos?", perguntou Capriles a seus seguidores em uma concentração, embora também não tenha apresentado propostas concretas para atenuar os problemas cambiais, de inflação e de abastecimento.

Neste aspecto, o economista César Aristimuño explicou à Agência Efe que o novo presidente receberá um país cujo produto interno não crescerá ao mesmo ritmo de 2012, quando fechou em 5,6%, e que neste ano a meta é de 6%.

Além disso, a Venezuela se encontra pressionada pela diminuição das importações, das quais depende em grande parte o abastecimento alimentar do país, que também possui problemas de distorções na oferta de outros bens.