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Custódia de crianças ciganas gera polêmica na Irlanda

Javier Aja

Em Dublin (Irlanda)

23/10/2013 17h20

O governo irlandês defendeu nesta quarta-feira sua decisão de retirar a custódia de dois menores de famílias ciganas por dúvidas sobre sua identidade, enquanto organizações de imigrantes alertaram sobre os riscos de discriminação racial.

  • Polícia grega/AP

    Polícia divulga foto do casal cigano Christos Salis e Eleftheria Dimopoulou, acusados de terem sequestrado garota na Grécia

Em três dias, o surgimento de dois casos similares ao da menina de traços escandinavos encontrada em um acampamento de ciganos na Grécia na semana passada gerou um intenso debate na Irlanda sobre a atuação das autoridades e os supostos preconceitos raciais deste país.

A ministra da Infância e da Juventude irlandesa, Frances FitzGerald, afirmou hoje que, quando a polícia ou os órgãos sociais tomam a decisão de pôr a crianças sob a tutela do Estado, o fazem sempre querendo o "seu bem-estar e proteção" e em concordância com a legislação vigente.

Frances deu essas explicações depois que nesta segunda-feira a Polícia irlandesa (Garda) retirou de um casal cigano em Dublin a custódia de uma menina de sete anos, loira e de olhos azuis, que permanece sob controle do Serviço de Saúde irlandês (HSE).

Um dia depois, a polícia voltou a visitar um casal cigano na cidade de Athlone, no centro da ilha, e tirou a custódia de um menino de dois anos, também loiro, que após passar uma noite em um centro do HSE foi hoje devolvido aos seus pais.

Nenhum dos quatro pais foi detido e, em ambos os casos, os casais se submeteram a testes de DNA para confirmar a identidade dos menores. Os resultados ainda não foram divulgados.

Nas duas situações as visitas dos agentes da Garda foram realizadas após denúncias feitas por vizinhos, o que, para alguns, demonstra um excesso de zelo.

Essa é a opinião do diretor-executivo do Centro Europeu de Direitos Roma (subgrupo de ciganos Romani), Dezideriu Gergely, que disse que está preocupado com a repercussão dos casos na Grécia e na Irlanda, o que levou, em sua opinião, a generalizações e associações perigosas.

Em entrevista à rede de televisão "IRTE", Gergely assegurou nesta quarta-feira que as notícias jornalísticas devem se ater aos "fatos" e não em "presunções" sobre a comunidade cigana. Ressaltou ainda que a ênfase recai frequentemente sobre supostas criminalidades.

O diretor lembrou ainda que não se pode esquecer que alguns membros desta etnia têm a pele clara e o cabelo loiro.

"A preocupação é que, de uma maneira ou de outra, não são abordados todos os ângulos possíveis. Logo, podem cair na armadilha de culpar toda a comunidade por algo", destacou Gergely.

Por sua vez, o Conselho de Imigrantes da Irlanda pediu hoje ao governo detalhes de quais são as medidas adotadas para que as autoridades não caiam no erro da discriminação racial.

Para sua diretora-executiva, Denise Charlton, os dois casos ocorridos na Irlanda sugerem que a Garda talvez dê atenção excessiva a certos grupos minoritários.

"A Irlanda já foi advertida em um relatório do Conselho da Europa sobre a necessidade de prevenir a discriminação racial e os eventos da semana passada não tranquilizaram os imigrantes", disse Charlton.

A ativista lamentou que estes dois casos tenham acontecido "uma semana depois" do Executivo informar que os "estrangeiros" eram responsáveis por mais de 50% das fraudes cometidas contra a seguridade social.

"Na minha posição, eu encorajo as pessoas a denunciar se estão preocupadas com a situação de algum menor", declarou Frances FitzGerald.

A ministra fez referência ao grande número de menores que chegou à Irlanda sem a companhia de adultos nos últimos dez anos, classificado como "alarmante".

"Isso é reflexo de um problema global. O tráfico de mulheres e crianças é uma questão muito séria e a Irlanda não é imune a isso. Obviamente, se deve fazer todo o possível para investigar todas as circunstâncias quando surgem casos assim", finalizou.