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Testemunha diz que PMs acusados de matar juíza no Rio são "meninos que não fazem mal a ninguém"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

29/01/2013 15h29

A advogada Ana Cláudia Abreu Lourenço, testemunha no processo sobre a morte da juíza Patrícia Acioli, afirmou que os três PMs que são julgados nesta terça-feira (29), na 3ª Câmara Criminal de Niterói, são "meninos que não fazem mal a ninguém".

"Pode soltar eles (sic)" , disse a depoente ao juiz, argumentando que o seu principal "temor" se dava em relação ao coronel Cláudio Oliveira, ex-comandante do batalhão de São Gonçalo (7º BPM), apontado como mandante do atentado.

Os três réus que enfrentam o júri popular hoje são Jéfferson de Araújo Miranda, com quem a advogada teve um relacionamento amoroso, Junior Cezar de Medeiros e Jovanis Falcão Júnior. Segundo Lourenço, "não fosse a determinação do comandante, nenhum deles [PMs] teria cometido o crime".

"O senhor [referindo-se ao juiz da 3ª Câmara Criminal, Peterson Barroso Simão] conhece ele [coronel Oliveira] como eu conheço", disse, dando a entender de que Simão teria conhecimento prévio quanto a uma suposta natureza violenta do oficial.

O CASO EM NÚMEROS

  • 11

    PMs

    Foram denunciados pelo crime, dos quais dez por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha.

  • 1

    PM

    Foi denunciado apenas por homicídio, já que, segundo o MP, ele atuou como informante do grupo, o que não configuraria formação de quadrilha.

  • 3

    PMs

    Serão julgados no dia 29 de janeiro de 2013. São eles: Junior Cezar de Medeiros, Jefferson de Araújo Miranda e Jovanis Falcão Junior.

  • 7

    PMs

    Ainda esperam resultados de recursos.

  • 21

    tiros

    Foram disparados contra a juíza Patrícia Acioli na noite do dia 11 de agosto de 2011.

    "Ele é caveira", argumentou ela em outro momento do interrogatório, citando o fato de que o policial já foi do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM).

    Questionada pelos advogados de defesa sobre o seu relacionamento com o réu Jéfferson de Araújo Miranda, a advogada afirmou que apenas "beijava na boca" do acusado, e afirmou que ele seria um "anjo da guarda", pois teria impedido que ela fosse sequestrada em 2007.

    O suposto namoro teria terminado no momento em que ela conheceu outra pessoa, de acordo com a própria testemunha.

    Delação premiada

    Ana Cláudia afirmou também que Miranda deveria aceitar a oferta de delação premiada --ele havia confessado o crime e revelado detalhes sobre o mesmo, em juízo, mas voltou atrás durante o curso do processo.

    Na visão da depoente, o policial militar só mudou sua versão por conta de supostas ameaças do coronel apontado como mandante do crime, Cláudio Oliveira, ex-comandante do batalhão de São Gonçalo (7º BPM).

    "Eu falei para o Jéfferson: faça a delação premiada, pois impunes vocês não vão sair disso. Você vai perder o seu posto de policial, e absolvido não vai ser. (...) Você corre o risco de sair daqui com uma pena maior do que o Sérgio, que atirou nela [referindo-se a Sérgio Costa Júnior, condenado a 21 anos de prisão]", disse.

    "É inacreditável que um ser humano com a idade dele volte atrás, porque ele me disse [que teria participado do crime]. Voltar atrás por causa de um comandante. Há boato de que o Cláudio ameaçou ele e toda a família de morte", disse.

    Ana Cláudia afirmou ainda ter temor em relação a possíveis represálias. "Para ele [coronel Oliveira] me fazer peneira ou me fazer uma nova Patrícia Amieiro pouco custa. Eu não estou lidando com um réu qualquer. Estou lidando com o comandante do batalhão", disse.

    "Com isso eu até me coloquei na linha de tiro. Partindo da delação, o que se fala por aí é que eles tão presos por minha causa", finalizou.

    Entenda o caso

    De acordo com a investigação da Divisão de Homicídios, dois PMs foram responsáveis pelos 21 disparos que mataram Patrícia Acioli: o cabo Sérgio Costa Júnior e o tenente Daniel Santos Benitez Lopez, que seria o mentor intelectual do crime, a mando do tenente-coronel Cláudio Oliveira.

    Outros oito policiais militares teriam realizado funções operacionais no planejamento do assassinato e responderão por formação de quadrilha e homicídio. Apenas Handerson Lents Henriques da Silva, que seria o suposto informante do grupo, não foi denunciado por formação de quadrilha.

    O assassinato de Patrícia Acioli se deu por volta de 23h55 do dia 11 de agosto de 2011, quando ela se preparava para estacionar o carro na garagem de casa, situada na rua dos Corais, em Piratininga, na região oceânica de Niterói. Benitez e Costa Júnior utilizaram uma motocicleta para seguir o veículo da vítima.

    Algumas horas antes de morrer, a magistrada havia expedido três mandados de prisão contra os dois PMs, réus em um processo sobre a morte de um morador do Morro do Salgueiro, em São Gonçalo.

    A juíza era conhecida no município por adotar uma postura combativa contra maus policiais. Segundo a denúncia do MP, o grupo seria responsável por um esquema de corrupção no qual ele e os agentes do GAT recebiam dinheiro de traficantes de drogas das favelas de São Gonçalo.