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Vladimir Putin e o ano em que vivemos perigosamente

Vladimir Putin, presidente da Rússia - Alexei Druzhinin/Pool/AFP
Vladimir Putin, presidente da Rússia Imagem: Alexei Druzhinin/Pool/AFP

Virgínia Hebrero

Em Moscou (Rússia)

10/12/2014 17h41

O ano de 2014 disparou a tensão entre a Rússia e o Ocidente até o nível mais alto dos 15 anos da "era Vladimir Putin" pela crise ucraniana e a anexação da Crimeia, e transformou o presidente russo no novo "vilão" da cena internacional.

O chefe do Kremlin tinha começado o ano ainda saboreando as bem-sucedidas gestões diplomáticas exercidas por Moscou no final de 2013 para neutralizar as intenções do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de intervir na Síria.

Seu "rating" internacional estava alto. Os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em fevereiro, foram impecáveis, apesar dos prognósticos de muitos, e da campanha midiática desenvolvida por vários meios de comunicação ocidentais sobre a homofobia que supostamente acabaria com esse evento.

Tudo ia bem, exceto em Kiev, capital da Ucrânia, onde os protestos aumentavam em intensidade e magnitude, até que em 22 de fevereiro o presidente do país, Viktor Yanukovich, foi derrubado, no que a Rússia classifica ainda agora como "um golpe de Estado inconstitucional".

A partir daí começou a ascensão da popularidade do presidente russo aos olhos de seus concidadãos na mesma proporção em que iam se deteriorando as relações com os Estados Unidos e a União Europeia, os principais apoios das novas autoridades de Kiev.

A anexação da Crimeia, em março, após um referendo em que a majoritária população dessa península, em meio a uma intensa movimentação militar russa, respaldou a "reunificação" com a Rússia, fez disparar o apoio popular a Putin a níveis sem precedentes, da mesma forma que o confronto com o Ocidente.

O G8, grupo das maiores economias do planeta, que devia realizar sua cúpula anual no balneário de Sochi, expulsou a Rússia pouco depois, alegando que a lei internacional proíbe a integração do território de outro país mediante coerção e força.

E chegaram as sanções e as contrassanções, além da queda do preço do petróleo, fatores que começaram a fazer estrago na economia russa.


À medida que aumentava o tom das acusações das chancelarias ocidentais contra Moscou pelo suposto apoio prestado à rebelião separatista pró-russa do leste da Ucrânia, também era elevada a exigência da Rússia de ser tratada como uma grande potência, com seus próprios e respeitáveis interesses.

"Os russos não vão pedir permissão a ninguém", exclamou Putin em discurso no fórum de debate de Valdai, onde exigiu uma nova ordem mundial sem o ditame dos EUA e pediu uma lista de agravos contra as intervenções dos aliados em zonas de influência russa e, sobretudo, a ampliação da Otan rumo ao leste da Europa.

"Devemos seguir desenvolvendo tranquilamente nossa própria agenda... Só porque a Rússia diz que quer proteger seus cidadãos e seus interesses, tentam transformar o país em criminoso", disse recentemente Putin em uma entrevista à agência "Tass", coincidindo com as críticas sofridas pelo presidente russo na cúpula do G20 em Brisbane (Austrália).

Fora das considerações geopolíticas, o fato é que a Rússia acaba o ano próxima da recessão econômica, lastrada pelos efeitos prejudiciais das sanções internacionais e a queda dos preços do petróleo, sua principal fonte de divisas, que levou o rublo a perder quase 50% de seu valor desde janeiro.

"Neste ano, passamos juntos por provas que só são capazes de suportar as nações maduras e consolidadas, os Estados verdadeiramente fortes e soberanos", ressaltou Putin no dia 4 de dezembro durante seu discurso sobre o Estado da Nação, no qual dedicou uma grande atenção à "sagrada" reunificação da Crimeia.

No entanto, alguns analistas já advertiram que a enorme popularidade interna de Putin começa a decair, com a alta dos preços dos produtos, a redução dos salários e a ausência de um acontecimento capaz de gerar outra explosão emocional como o retorno da península à pátria-mãe.