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São Francisco vive explosão de cores após legalização do casamento gay

27/06/2015 04h15

São Francisco, a cidade que há uma década assentou o caminho para a aprovação dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos, explodiu em festa nesta sexta-feira após a decisão da Suprema Corte que legaliza as uniões entre homossexuais em todo o país.

Pouco depois da decisão, uma enorme bandeira com o arco-íris que simboliza o movimento pelos direitos dos homossexuais foi hasteada na entrada da prefeitura da cidade.

Foi precisamente ali que, no início de 2004, com a bênção do então prefeito Gavin Newson e o olhar atento do resto dos americanos, 4 mil casais do mesmo sexo se casaram.

As pioneiras foram Phyllis Lyon e Del Martin, um casal de lésbicas que já estava junto há 51 anos.

A Suprema Corte da Califórnia declararia aquelas uniões como ilegais apenas alguns meses depois, mas o exemplo de São Francisco impulsionou iniciativas similares em outros estados e conduziu, eventualmente, e depois de uma árdua batalha nos tribunais, à histórica decisão de hoje da instância máxima da Justiça americana.

"O movimento (pela igualdade matrimonial) começou aqui há uma década", disse hoje o prefeito de São Francisco, Edwin Lee.

"Aqui, em São Francisco, não toleramos apenas a diversidade, mas a celebramos", destacou hoje Lee em cerimônia na prefeitura da cidade por causa do aniversário da Carta das Nações Unidas, o tratado internacional que fundou a organização e foi ratificado há 70 anos nessa cidade californiana.

O entusiasmo no bairro de Castro, o símbolo por excelência do movimento gay em São Francisco, era evidente, com o eco incessante de buzinas e eufóricos gritos de "Yes!" (Sim!), pouco depois que a notícia sobre a decisão do Supremo se tornou pública.

Troy Burnet, um morador de Castro de 50 anos de idade, foi um dos que expressou aos quatro ventos sua emoção, ao se postar em uma esquina lotada do bairro, onde se dedicou a abraçar os passantes enquanto tremulava a bandeira do arco-íris.

Pat Thompson e Barbara Brass, um casal de lésbicas já aposentadas, mostraram sua satisfação com a decisão em um vídeo gravado pelo jornal "São Francisco Gate", ao afirmarem que agora poderão contar com o respeito que tanto esperaram.

Pat, uma ex-enfermeira militar, disse que não compartilhou sua orientação sexual com sua família até o ano passado, quando completou 80 anos, enquanto Barbara lembrou como ambas tiveram que esconder a relação, inclusive na privacidade de sua própria casa.

"Mas agora acabou. O nosso relacionamento é público e temos orgulho disso", afirmou Barbara.

As reações de algumas das autoridades públicas mais notórias do país também não demoraram a chegar.

O governador da Califórnia, Jerry Brown, disse hoje que se sente "esperançoso" com o fato de que o casamento gay tenha se transformado em "uma realidade" em todo o país.

"Quem diria há apenas cinco anos que isto iria acontecer? Porém, aconteceu", ressaltou Brown durante o ato comemorativo do aniversário da ONU. Além disso, o governador do estado mais populoso do país insistiu que o ocorrido demonstra que as pessoas não devem se render ao cinismo e a decisão da Suprema Corte é uma prova de que as coisas "podem mudar".

A líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, destacou, por sua vez, que a decisão da Justiça confirma, nas palavras de Martin Luther King, que "o braço do universo moral é longo, mas se dobra para a justiça".

Quem também expressou seu apoio à decisão judicial foi o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que opinou que a decisão representa "um grande passo à frente para os direitos humanos".

O casamento entre pessoas do mesmo sexo é, a partir de hoje, um direito constitucional nos Estados Unidos, obrigando os 13 estados do país que ainda o proibiam a permitir que os casais de homossexuais possam formalizar legalmente sua união.

A decisão na Suprema Corte foi apertada, já que dos nove juízes que integram o tribunal, cinco se decidiram pela legalização do casamento gay, enquanto os outros quatro foram contra.

Espera-se que as comemorações pela decisão do Supremo continuem durante todo o fim de semana em São Francisco, que realizará neste fim de semana a tradicional passeata anual do orgulho gay.