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Rússia exumará restos mortais do último czar para comprovar sua identidade

Nicolau 2º com seu uniforme militar - AP
Nicolau 2º com seu uniforme militar Imagem: AP

Em Moscou

23/09/2015 15h05

A Rússia exumará os restos mortais do último czar, Nicolau 2º, assassinado pelos bolcheviques junto com toda sua família em 1918, e que foi enterrado com todas as honras em 1998 em São Petersburgo.

O Comitê de Instrução da Rússia (CIR), que encerrou o caso em janeiro de 2011, decidiu nesta quarta-feira (23) reabrir a investigação para realizar novas pesquisas sobre a autenticidade dos restos mortais, como exigem os descendentes e a Igreja Ortodoxa Russa (IOR).

"Para isso é necessário exumar os restos do imperador Nicolau 2º e da imperatriz, Alexandra Fiodorovna na catedral de Pedro e Pablo, em São Petersburgo", informou o porta-voz do Comitê de Instrução, Vladimir Markin.

O CIR tomou esta decisão após a criação de um grupo de trabalho interministerial para o enterro do herdeiro de Nicolau 2º, o Tzarevich Alexei, e sua irmã, a Grande Princesa Maria, cujos restos mortais foram encontrados em 2007.

Esse grupo de trabalho propôs investigar os restos da irmã da imperatriz (Elizabeta Fiodorovna), enterrada em Jerusalém, e extrair amostras de sangue do avô do último czar, o imperador Alexandre 2º, o que exige a exumação de Nicolau I2º e de sua esposa.

Outras fontes informaram à agência "Interfax" que especialistas genéticos já tomaram hoje, na presença do representantes do CIR e da IOR, amostras do esqueleto de Nicolau 2º e da roupa de seu avô, assassinado em 1881 em um atentado a bomba.

A Casa Imperial russa, que sempre questionou a autenticidade dos restos encontrados e pediu novas provas genéticas, aplaudiu a decisão das autoridades russas.

"Se é necessário alguma exumação, deve ser feita. Isto é um assunto importante demais", disse o representante da Casa Imperial Russa, Aleksandr Zakatov.

A chefe da Casa Imperial Russa, María Romanova, que vive em Madri, qualificou de "acertada e muito importante a reabertura do caso, pois é preciso responder a perguntas que preocupam muita gente".

"O processo de investigação deve ser transparente. Estamos a favor que durante todas as fases estejam presentes representantes da Igreja. Então haverá oportunidade de esclarecer a verdade: se estes são restos dos czares mártires ou se pertencem a outras pessoas", acrescentou Zakatov.

Os restos atribuídos ao czar, sua mulher e a três de seus filhos foram exumados em 1991 e sepultados na fortaleza de São Pedro e São Paulo em 1998, na presença do então presidente russo, Boris Yeltsin, e de representantes de casas reais.

Após o encerramento do caso, especialistas russos encontraram em 2007 em uma floresta perto de Yekaterimburgo (Urais) outros restos ósseos que testes genéticos feitos nos EUA confirmaram pertencer a Alexei e a Maria, o que obrigou a reabrir a investigação.

Em outubro de 2008 a Suprema Corte da Rússia reabilitou a família imperial ao opinar que o czar, sua mulher Alexandra e seus cinco filhos -- as princesas Olga, Tatiana, Maria e Anastasia e o herdeiro da coroa, o Tzarevich Alexei -- foram vítimas da repressão política bolchevique.

O CIR deu por concluído o caso em 2011 ao considerar que o Supremo tinha fechado essa página da história do país ao opinar que a família imperial foi assassinada "por motivos de classe, sociais e religiosos, já que seus assassinos aconteceram porque representavam um perigo para o estado soviético e a ordem política" vigente em 1918.

Nicolau 2º, sua mulher e seus cinco filhos foram executados em 17 de julho de 1918, no meio da guerra civil que explodiu na Rússia após a Revolução de Outubro de 1917, em um porão da casa Ipatiev de Yekaterimburgo.