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Justiça russa acusa 4 por assassinato de líder opositor Boris Nemtsov

Flores, velas e cartazes são mantidos no local onde Boris Nemtsov, líder da oposição russa e forte crítico ao presidente Vladimir Putin, foi morto a tiros em 27 de fevereiro, perto do Kremlin, em Moscou - Pavel Golovkin/AP
Flores, velas e cartazes são mantidos no local onde Boris Nemtsov, líder da oposição russa e forte crítico ao presidente Vladimir Putin, foi morto a tiros em 27 de fevereiro, perto do Kremlin, em Moscou Imagem: Pavel Golovkin/AP

Em Moscou

29/12/2015 08h52

A Justiça da Rússia apresentou nesta terça-feira (29) acusação formal de assassinato contra quatro dos cinco homens detidos pelo envolvimento na morte do líder opositor Boris Nemtsov, baleado a poucos metros do Kremlin em fevereiro deste ano.

"Neste momento estamos lendo a acusação", anunciou Shamsudin Tsakaev, advogado do principal acusado, o checheno Zaur Dadaev.

O Comitê de Instrução (CI) da Rússia, órgão judicial semelhante à promotoria, também acusou Shadid Gubashev, Temirlan Eskerjanov e Jamzat Bakhaev, todos eles, assim como Dadaev, do Cáucaso Norte.

A defesa do quinto detido, Anzor Gubashev, irmão de Shadid, não pôde comparecer hoje ao CI, por isso a acusação contra seu cliente será apresentada formalmente no início de janeiro.

A acusação formal "não apresenta nenhuma novidade" da instrução do caso, explicou Tsakaev, exceto pela data em que o assassinato começou a ser planejado, que os investigadores do CI estimaram em setembro de 2014.

"O envolvimento de todos os acusados foi comprovado por mais de 70 relatórios periciais, interrogatórios de testemunhas, acareações, provas apreendidas no domicílio dos detidos e gravações realizadas pelas câmaras de vigilância, incluídas as que estavam no local do assassinato", disse hoje o porta-voz do CI, Vladimir Markin.

Por outro lado, Markin anunciou que a justiça separará em uma causa independente a investigação sobre a autoria intelectual e a organização do assassinato de Nemtsov, atribuída ao checheno Ruslan Mujudinov, alvo de um mandado de busca e captura internacional desde novembro.

O advogado da família do político opositor assassinado, Vadim Prokhorov, pôs hoje em dúvida que Mujudinov, ex-membro do batalhão checheno "Sever", seja o autor intelectual do crime.

"Pode ser que seja organizador em um elo inferior. Mas os que encomendaram (o assassinato) são altos cargos ", disse Prokhorov a "Interfax".

A investigação, denunciou Prokhorov, acusa Mujudinov para "proteger o entorno próximo de (Ramzan) Kadyrov", presidente da república da Chechênia, que qualificou outro dos acusados, o também membro das forças especiais chechenas Dadaev, de "autêntico patriota russo".

Dadaev, o homem que segundo a justiça efetuou os disparos, inicialmente admitiu sua culpa durante os interrogatórios, mas depois se desdisse, garantiu ter um álibi e denunciou que a polícia tinha arrancado sua confissão à força.

Embora os familiares e correligionários de Nemtsov insistam que sua morte foi politicamente motivada, um tribunal de Moscou se negou recentemente a requalificar o crime como "assassinato de um cargo do Estado ou de personalidade civil".

O juiz deu por válidos os argumentos do Comitê de Instrução, que não acredita que o assassinato tenha sido motivado pela atividade profissional do político opositor, e decidiu que os cinco acusados cometeram o crime motivados pela recompensa que receberam das mãos de Mujudinov.

Segundo uma fonte da investigação, o suposto organizador teria prometido 25 milhões de rublos (R$ 2 milhões) aos matadores de aluguel.

Ao mesmo tempo, segundo fontes da "Interfax", o sumário do caso não explica os motivos de Mujudinov, que está foragido, em paradeiro desconhecido.