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Governo irlandês pede ampla vitória para evitar "instabilidade" no país

25/02/2016 14h40

Javier Aja

Dublin, 25 fev (EFE).- O governo da República da Irlanda, de coalizão entre conservadores e trabalhistas, alertou nesta quinta-feira sobre a "confusão" política e "instabilidade" econômica que pode suscitar no país se as eleições gerais de amanhã não definirem uma maioria "clara".

O primeiro-ministro irlandês, o democrata-cristão Enda Kenny, fez essa chamada em um ato de final de campanha de seu partido, o Fine Gael, no qual esteve acompanhado pela vice-primeira-ministra e líder trabalhista, Joan Burton.

"O que eu gostaria que ocorresse amanhã é que o eleitorado, através das urnas, emita uma mensagem clara e tome uma decisão firme sobre quem deve governar a Irlanda", disse o dirigente conservador no centro de Dublin.

Pouco mais de três milhões de irlandeses têm direito ao voto neste pleito, no qual o FG e o Partido Trabalhista (LB) estão longe de obter suficientes votos para alcançar juntos a maioria absoluta, segundo indicam todas as pesquisas.

Os especialistas duvidam que algum dos possíveis pactos que constituem um resultado com votos altamente desintegrados conduziria à formação de um Executivo estável, por isso que não descarta a possibilidade de novas eleições dentro de seis meses.

Kenny e Burton advertiram durante a campanha que a falta de um Executivo durante um período prolongado frearia a recuperação econômica experimentada desde que a Irlanda abandonou em 2013 o resgate solicitado pelo Executivo do centrista Fianna Fáil em 2010 à União Europeia (UE) e ao FMI de 85 bilhões de euros.

"Uma das maneiras que pode evitar a confusão, a instabilidade e os perigos que isso acarreta é apoiar o governo que esteve no poder durante os últimos cinco anos", disse hoje o "Taoiseach" (primeiro-ministro).

Por sua vez, Burton recomendou ao eleitorado que "pense duas vezes antes de votar" em quem elegerá, pois "uma pequena variação", apontou, pode representar uma "ascensão significativa" no número de deputados que teriam na câmara Baixa (Dáil), composta por 158 cadeiras.

As pesquisas, que costumam ser bastante precisas na Irlanda, variaram muito pouco desde o começo da campanha e, embora sigam dando a vitória ao FG, preveem uma queda grande em seu número de cadeiras e o colapso dos trabalhistas.

O partido de Kenny obteria em torno de 30% dos votos de primeira preferência, o que lhe daria, depois da transferência de sufrágios permitida pelo sistema eleitoral irlandês, entre 55 e 60 deputados, enquanto o LB rondaria entre 7% e 9 % e perderia mais da metade dos 37 parlamentares que alcançou há cinco anos com 19,5% dos sufrágios, quando o Dáil contava com 166 assentos.

O FF pode recuperar parte dos 57 cadeiras que perdeu no pleito de fevereiro de 2011 e somar agora até 13 novos deputados aos 20 que teve nesta legislatura, se for confirmado que sua intenções de voto ronda 20%.

O esquerdista Sinn Féin de Gerry Adams -antigo braço político do já inativo Exército Republicano Irlandês (IRA)- se afiançaria como terceira força nacional, muito perto do FF, ao obter entre 17% e 19% de votos, quase 10% a mais que nas últimas eleições, quando passou de 10 a 14 deputados.

Atrás se situariam com quase 30% dos votos várias formações minoritárias da esquerda radical e conservadoras e candidatos independente.

Apesar de os indicadores macroeconômicos estarem a favor do governo, o líder do FF, Micheál Martin, insistiu hoje que existem alternativas para essa coalizão, como a que ele dirigiria com outras formações, apesar de não dar detalhes sobre sua composição.

Martin voltou a reconhecer os erros cometidos no passado pelo FF, o partido que mais vezes governou a Irlanda, mas recalcou que "é necessário um revezamento" e que "a recuperação econômica" pode gerar uma "sociedade decente", depois das grandes diferenças que provocou a austeridade da década passada.

Em sua mensagem final, Gerry Adams pediu à juventude que lidere a mudança com "uma insurreição pacífica", coincidindo com o ano em que o centenário da Revolta da Páscoa é celebrado, a sangrenta revolta liderada pelo IRA que acelerou a independência da Irlanda do Reino Unido.

"Neste pleito há uma batalha de ideias. A escolha é entre enormes reduções tributárias para os mais ricos ou justiça para todos. As elites contra o povo. A República deve ser propriedade do povo", concluiu Adams.