Topo

Terrorista do metrô de Bruxelas pediu seguro-desemprego 11 dias do atentado

30/03/2016 09h17

María Ruiz Nievas.

Bruxelas, 30 mar (EFE).- O homem que cometeu o atentado contra a estação de metrô de Maelbeek em Bruxelas, Khalid El Bakraoui, entrou com um pedido de seguro-desemprego 11 dias antes dos ataques sem que as autoridades da Bélgica percebessem, apesar de haver contra ele uma ordem de busca e captura internacional por terrorismo da Interpol emitida em dezembro do ano passado.

"A última vez que o recebi foi em 11 de março desde ano. Falei com ele uns cinco ou dez minutos. Veio perguntar quando seria seu pagamento (do seguro-desemprego)", afirmou à Agência Efe a pessoa que atendeu Khalid, que preferiu manter o anonimato.

Menos de duas semanas depois da conversa, na última terça-feira, Khalid El Bakraoui detonou o colete de explosivos que usava na estação de metrô, que fica a poucos metros das sedes dos principais órgãos da União Europeia.

Uma hora antes, no mesmo dia, seu irmão mais velho, Ibrahim El Bakraoui, e outro terrorista, Najim Laachraoui, suicidaram no aeroporto internacional de Zaventem, próximo a Bruxelas.

O duplo atentado provocou, por enquanto, a morte de 35 pessoas e mais de 300 feridos.

O fato de Khalid ter pedido seguro-desemprego 11 dias antes de se explodir na estação de metrô reforça a hipótese de que os ataques foram antecipados após a prisão de Salah Abdeslam, suposto responsável logístico dos atentados de 13 de novembro do ano passado em Paris, que mataram 130 pessoas.

Segundo a fonte consultada pela Efe, ela própria e outros funcionários do sindicato tinham lidado com os irmãos El Bakraoui "em diversas ocasiões entre 2013 e o início de 2015", época em que eles eram, pelo menos oficialmente, criminosos com um longo histórico de roubos, mas sem vínculos com o terrorismo.

A Bélgica emitiu uma ordem de prisão europeia contra Khalid por seu envolvimento nos atentados de Paris em 11 de dezembro de 2015. Seu nome então passou a constar na base de criminosos procurados da Interpol, que pode ser facilmente acessada por qualquer país.

Khalid tinha alugado, com uma identidade falsa de Ibrahim Maaroufi, mesmo nome de um ex-jogador belga que atuou pela Inter de Milão, a casa na cidade de Charleroi, na província de Hainaut, usada pela célula terrorista responsável pelos ataques em Paris.

"No início ele foi amável, mas quando disse que ele não tinha direito de receber o seguro, me pareceu que ele ficou mais agressivo", afirmou a fonte consultada pela Efe, que garantiu ter reconhecido o terrorista ao ver seu nome e foto nos jornais.

Os sindicatos administram os pagamentos do seguro-desemprego na Bélgica. Por isso, possuem dados importantes de seus filiados, como o número nacional de identidade, endereço e estado civil.

Perguntado sobre como o nome de Khalid não chamou a atenção das autoridades, o funcionário do sindicato disse que, infelizmente, não existe um "código de alerta para essas pessoas". "Não podemos estar cientes de quem é um terrorista ou não", completou.

Khalid e Ibrahim, ambos belgas de origem marroquina, viviam no bairro de Laeken, no noroeste de Bruxelas, e tinham 27 e 30 anos, respectivamente. Eles tinham diversas passagens na polícia por assaltos à mão armada e por um sequestro, crime pelo qual foram condenados a dez (Ibrahim) e cinco (Khalid) anos de prisão.

As autoridades também suspeitavam que Khalid tinha alugado um apartamento no distrito de Forest, também em Bruxelas, onde foi morto pela polícia, no último dia 15, o argelino Mohammed Belkaïd, um dos responsáveis pelos atentados de Paris.

Durante a operação no imóvel, no qual foram encontradas as impressões digitais de Abdeslam, dois suspeitos fugiram. Os agentes acreditam que eles podem ser os irmãos El Bakraoui.

O incidente do seguro-desemprego é só mais uma falha dentro da crescente lista de erros cometidos pelo governo da Bélgica.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, revelou após os atentados que tinha informado à Bélgica sobre a prisão de Ibrahim na fronteira com a Síria em junho do ano passado. Pouco depois, ele foi extraditado à Holanda sem que as autoridades tomassem alguma medida.

O anúncio de Erdogan causou uma crise no governo belga. Os ministros do Interior, Jan Jambon, e de Justiça, Koen Geens, chegaram a apresentar suas renúncias, que acabaram não sendo aceitas pelo primeiro-ministro do país, Charles Michel.