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Muçulmanos de Bruxelas dizem a radicais que eles também são vítimas

31/03/2016 12h21

María Ruiz Nievas.

Bruxelas, 31 mar (EFE).- Os atentados de Bruxelas deixaram 32 mortos, mais de 300 feridos e uma fratura na confiança da população, que alguns radicais aproveitaram para arremeter contra estrangeiros e muçulmanos, que rebateram afirmando que eles também são vítimas do horror do aeroporto de Zaventem e da estação de metrô de Maelbeek.

"Somos tão vítimas como qualquer outra. Os atentados não fizeram nenhuma distinção de religião, raça ou nacionalidade", afirmou Nabila Rhafour, muçulmana, vizinha do multicultural distrito de Schaerbeek, de onde partiram os três terroristas do aeroporto na manhã do atentado.

Eles tinham alugado um apartamento no bairro, onde a polícia encontrou 15 quilos de explosivos e uma bandeira do grupo terrorista Estado Islâmico.

Nabila admitiu ter sentido medo por sua família e sua filha, e confessou que desde os atentados limitou seus deslocamentos por temer que alguém a hostilize por ser muçulmana.

Os atentados da semana passada reavivaram o medo da comunidade muçulmana de possíveis represálias, como contou esta semana um estudante da cidade de Louvière à "RTBF" após ser espancado ao sair da escola.

Os pais de Idriss, de 15 anos e origem argelina, apresentaram uma queixa contra os agressores.

"Os que cometeram o atentado são árabes, mas não são muçulmanos. É diferente. O islã é paz. Se não conhece a religião e a forma como vivem os muçulmanos, pode se confundir", destacou Nino Etina, professor e também morador de Schaerbeek.

Nino disse entender que as pessoas estejam assustadas, porque não há segurança e qualquer um pode disparar ou explodir uma bomba, mas reiterou que "o islã é uma religião de paz".

No domingo, um grupo de extrema direita invadiu a praça da Bolsa de Bruxelas, onde era realizada uma homenagem às vítimas dos atentados, que ficou manchada pelos cânticos xenófobos e as agressões a alguns dos presentes.

A polícia antidistúrbios interveio com canhões de água para afastar os radicais, e alguns deles foram detidos.

Tera Ginting, um trabalhador muçulmano de Liège, disse que o que aconteceu na Bolsa foi "desrespeitoso" com o momento de luto nacional.

"Reforça a estigmatização, é uma pena", afirmou, ressaltando que "não se deve confundir, as motivações dos terroristas não são religiosas".

"Só porque alguém é muçulmano não quer dizer que seja terrorista, nem que concorde com os terroristas. Devemos nos manter unidos", afirmou.

Khalid Abroum, muçulmano praticante e morador do distrito bruxelense de Molenbeek, de onde saíram os autores dos atentados de 13 de novembro em Paris, considerou que "se instalou o clima do medo, e o racismo aumentou vertiginosamente".

"Infelizmente alguns loucos cometem atos horríveis que querem fazer crer que é religião. É falso", ao enfatizar que espera que os responsáveis paguem por suas ações.

Para este sábado, o movimento francês de extrema direita "Génération Identitaire" (Geração Identitária) planejava uma manifestação em Molenbeek para exigir que "os islamitas saiam da Europa", mas as autoridades proibiram a passeata.

Khalid insistiu que "estes atentados não têm nada a ver com o islã", mas admitiu que cada vez se sente menos seguro na Bélgica.

"Algumas pessoas me olham diferente. Sinto como se fosse o culpado. É triste, mas quando pego o metrô ou ando pela rua vejo esses olhares de medo. Mais frequentemente após o terrível ataque", contou.

Perguntado sobre o que estamos fazendo mal, este jovem de Molenbeek respondeu que a Europa e Bélgica participam de guerras em todo o mundo por objetivos geopolíticos.

"No Iraque, na Líbia, na Síria todas estas guerras infelizmente têm um único e mesmo objetivo: dinheiro, e tudo isto em troca da vida de inocentes", declarou.

Na sua opinião, a Europa "faz crer que sua meta é instalar uma democracia em países onde reinam ditaduras, mas nos demos conta que só tentam camuflar sua pilhagem e sua colonização".