Colômbia deixa para a história meio século de conflito armado com as Farc
Jaime Ortega Carrascal.
Bogotá, 23 set (EFE).- As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a guerrilha mais poderosa da América Latina, assinarão um acordo de paz após várias tentativas fracassadas de negociação com diferentes governos colombianos para pôr fim a um conflito armado de 52 anos, que marcou o país na última metade do século XX e no início do XXI.
O capítulo final desta história acontecerá na próxima segunda-feira, na cidade de Cartagena das Índias, quando o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño, conhecido como "Timochenko", assinarão o "Acordo final para o término do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura", que foi negociado em Cuba durante 45 meses e cinco dias.
O acordo põe fim ao conflito armado com as Farc, uma guerrilha de inspiração marxista-leninista que semeou o terror no país durante décadas e se transformará em um movimento político que disputará o voto popular com os outros partidos da esquerda colombiana.
A paz que os colombianos saboreiam agora surgiu pela primeira vez no horizonte durante o governo do presidente conservador Belisario Betancur (1982-1986), o primeiro a propor uma negociação que resultou nos "Acordos de La Uribe" (1984), que incluiu uma trégua que durou alguns meses.
Um acordo de paz também foi tentado, mas sem sucesso, pelo liberal César Gaviria (1990-1994) e pelo conservador Andrés Pastrana (1998-2002). No entanto, foi apenas o governo de Santos que capitalizou os duros golpes militares sofridos pelas Farc durante o governo de seu antecessor, Álvaro Uribe, para convencer a guerrilha sobre a viabilidade de uma negociação.
"Álvaro Uribe em seus dois governos e o presidente Santos (então ministro da Defesa) desenvolveram uma ofensiva militar contra as Farc que resultou em golpes muito duros, que efetivamente mudaram o cenário estratégico do conflito", disse à Agência Efe o diretor do Centro de Pensamento e Acompanhamento do Diálogo de Paz da Universidade Nacional, Alejo Vargas.
Antes de chegar a esse ponto de inflexão, as Farc tinham fortalecido sua máquina de guerra com a injeção de grandes quantias de dinheiro oriundo de ações criminosas como narcotráfico, extorsão e sequestros, e que, em algumas regiões, colocou o exército contra a parede com violentos ataques durante os governos de Ernesto Samper (1994-1998) e de Pastrana, em pleno período de negociação de paz.
"As ações militares que as Farc realizaram contra a polícia nos anos 1990 levaram o Estado à convicção de que era necessária uma grande reforma militar, que efetivamente foi conseguida através do Plano Colômbia, no governo do presidente Andrés Pastrana", acrescentou Vargas.
O Plano Colômbia, uma iniciativa na qual os Estados Unidos destinaram mais de US$ 9 bilhões em ajuda militar ao país entre 2001 e 2016, foi decisivo para inclinar a balança militar para o lado do governo colombiano.
Na opinião de Vargas, a negociação de paz durante o governo de Pastrana foi "uma distração das duas partes", pois "nem Pastrana, nem as Farc, estavam negociando a sério", mas ganhando tempo, "um para a reforma militar (que deu frutos com Uribe) e o outro para fazer a reorganização de suas frentes, para uma nova fase do confronto".
Santos, ministro da Defesa de Uribe entre 2006 e 2009, os anos em que as Farc sofrerem seus maiores golpes, assumiu a presidência em 2010 e considerou que a mudança na correlação de forças marcava o tempo propício para uma negociação de paz, que inicialmente levaria alguns poucos meses, mas que, por sua complexidade, acabou durando quase quatro anos.
Já as Farc pensam diferente, pois, para a guerrilha, "não existem vencedores nem vencidos", e, segundo "Timochenko", se o Estado e suas forças armadas "querem afirmar que ganharam a guerra, que seja".
O acordo de 297 páginas que será assinado na próxima segunda-feira em Cartagena encerra o conflito armado com as Farc, mas ainda restará todo o trabalho, bastante complexo, de aplicação do acordado para poder caminhar rumo à paz definitiva.
Isto seria a passagem daquilo que o professor norueguês Johan Galtung, especialista em paz e conflitos sociais, chama de "paz negativa" para "paz positiva", teoria segundo a qual a primeira é a ausência de conflito violento, e a segunda, um estado no qual existe justiça, igualdade e harmonia social, algo que ainda parece distante para os colombianos.
Bogotá, 23 set (EFE).- As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a guerrilha mais poderosa da América Latina, assinarão um acordo de paz após várias tentativas fracassadas de negociação com diferentes governos colombianos para pôr fim a um conflito armado de 52 anos, que marcou o país na última metade do século XX e no início do XXI.
O capítulo final desta história acontecerá na próxima segunda-feira, na cidade de Cartagena das Índias, quando o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño, conhecido como "Timochenko", assinarão o "Acordo final para o término do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura", que foi negociado em Cuba durante 45 meses e cinco dias.
O acordo põe fim ao conflito armado com as Farc, uma guerrilha de inspiração marxista-leninista que semeou o terror no país durante décadas e se transformará em um movimento político que disputará o voto popular com os outros partidos da esquerda colombiana.
A paz que os colombianos saboreiam agora surgiu pela primeira vez no horizonte durante o governo do presidente conservador Belisario Betancur (1982-1986), o primeiro a propor uma negociação que resultou nos "Acordos de La Uribe" (1984), que incluiu uma trégua que durou alguns meses.
Um acordo de paz também foi tentado, mas sem sucesso, pelo liberal César Gaviria (1990-1994) e pelo conservador Andrés Pastrana (1998-2002). No entanto, foi apenas o governo de Santos que capitalizou os duros golpes militares sofridos pelas Farc durante o governo de seu antecessor, Álvaro Uribe, para convencer a guerrilha sobre a viabilidade de uma negociação.
"Álvaro Uribe em seus dois governos e o presidente Santos (então ministro da Defesa) desenvolveram uma ofensiva militar contra as Farc que resultou em golpes muito duros, que efetivamente mudaram o cenário estratégico do conflito", disse à Agência Efe o diretor do Centro de Pensamento e Acompanhamento do Diálogo de Paz da Universidade Nacional, Alejo Vargas.
Antes de chegar a esse ponto de inflexão, as Farc tinham fortalecido sua máquina de guerra com a injeção de grandes quantias de dinheiro oriundo de ações criminosas como narcotráfico, extorsão e sequestros, e que, em algumas regiões, colocou o exército contra a parede com violentos ataques durante os governos de Ernesto Samper (1994-1998) e de Pastrana, em pleno período de negociação de paz.
"As ações militares que as Farc realizaram contra a polícia nos anos 1990 levaram o Estado à convicção de que era necessária uma grande reforma militar, que efetivamente foi conseguida através do Plano Colômbia, no governo do presidente Andrés Pastrana", acrescentou Vargas.
O Plano Colômbia, uma iniciativa na qual os Estados Unidos destinaram mais de US$ 9 bilhões em ajuda militar ao país entre 2001 e 2016, foi decisivo para inclinar a balança militar para o lado do governo colombiano.
Na opinião de Vargas, a negociação de paz durante o governo de Pastrana foi "uma distração das duas partes", pois "nem Pastrana, nem as Farc, estavam negociando a sério", mas ganhando tempo, "um para a reforma militar (que deu frutos com Uribe) e o outro para fazer a reorganização de suas frentes, para uma nova fase do confronto".
Santos, ministro da Defesa de Uribe entre 2006 e 2009, os anos em que as Farc sofrerem seus maiores golpes, assumiu a presidência em 2010 e considerou que a mudança na correlação de forças marcava o tempo propício para uma negociação de paz, que inicialmente levaria alguns poucos meses, mas que, por sua complexidade, acabou durando quase quatro anos.
Já as Farc pensam diferente, pois, para a guerrilha, "não existem vencedores nem vencidos", e, segundo "Timochenko", se o Estado e suas forças armadas "querem afirmar que ganharam a guerra, que seja".
O acordo de 297 páginas que será assinado na próxima segunda-feira em Cartagena encerra o conflito armado com as Farc, mas ainda restará todo o trabalho, bastante complexo, de aplicação do acordado para poder caminhar rumo à paz definitiva.
Isto seria a passagem daquilo que o professor norueguês Johan Galtung, especialista em paz e conflitos sociais, chama de "paz negativa" para "paz positiva", teoria segundo a qual a primeira é a ausência de conflito violento, e a segunda, um estado no qual existe justiça, igualdade e harmonia social, algo que ainda parece distante para os colombianos.
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