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Holanda investigará os últimos 30 anos de abusos sexuais entre esportistas

Imane Rachidi

Em Haia

25/12/2016 06h01

O Comitê Olímpico Holandês (NOC) iniciou uma grande investigação sobre os abusos sexuais entre os atletas que ocorreram durante os últimos 30 anos, após a revelação de que em 2016 surgiram mais 215 novos casos.

"Trata-se de uma investigação para tentar saber quantos casos de abusos e de quais tipos houve nos Países Baixos durante os últimos anos", disse à Agência Efe a investigadora esportiva Marjan Olfers.

Esta holandesa, professora de Direito Esportivo na Universidade de Amsterdam, investiga há uma década os abusos sexuais que ocorreram entre os esportistas do país.

Olfers advertiu que as investigações podem revelar "coisas que as pessoas não irão gostar" e lamenta que tenha alertado há anos sobre "a existência de múltiplos" casos.

"Segundo meus próprios estudos, quando alguém começa a denunciar, e outro começa a investigar, ocorre um efeito dominó no qual as vítimas se sentem mais seguras e denunciam", acrescentou esta especialista.

Abusos sexuais

Os atletas podem denunciar ao Comitê qualquer atuação que considerem incorreta, como os abusos de poder, doping e subornos.

No entanto, durante este ano, dos 269 relatórios recebidos, 215 são por assédio sexual entre os esportistas ou seus superiores.

"Todos esses casos de abuso sexual são muitos", disse a ministra holandesa de Esportes, Edith Schippers, em entrevista coletiva.

Schippers se refere aos últimos dados da Federação Holandesa de Esportes, também conhecida como NOC, que confirmam que 80% das denúncias por "comportamento inaceitável" entre os esportistas são de caráter sexual.

Segundo um porta-voz da NOC, o número de abusos sexuais pode ser muito maior do que o reportado porque nem todo mundo se atreve a denunciar, nem todos consideram que sua denúncia chegará a algum lugar.

Esta investigação ocorre especialmente depois do caso de Barry Bennel, ex-treinador britânico do time de futebol Crewe Alexandra, que foi acusado de abusos sexuais contra diferentes esportistas quando começavam suas carreiras profissionais.

"As crianças são as mais vulneráveis porque dependem do treinador para tudo e o veem como uma autoridade. Além disso, há muitos voluntários e me consta que há casos na Holanda que não foram denunciados por medo", afirmou Olfers.

"A Federação começou uma investigação que abrangerá todas as queixas recebidas nos últimos 30 anos para determinar quantos, quem e quais tipos de abusos foram registrados", acrescentou o porta-voz à Efe.

O objetivo é investigar se há vítimas de abusos sexuais ou de qualquer outro tipo nos Países Baixos que continuam escondidas após anos e, especialmente, levar à justiça os culpados.

Ciclista conta história

Há pouco tempo, a ex-ciclista holandesa Petra de Bruin revelou publicamente que tinha sofrido abusos sexuais durante sua carreira.

Quatro vezes campeã na Holanda, De Bruin reconheceu em entrevista à televisão holandesa "NOS" que, agora, com 54 anos, se "atreve" a reconhecer os abusos sexuais que sofreu quando era menor de idade.

"Todos os dias dói relembrar", afirmou a atleta, contando que a primeira vez tinha apenas dez anos quando um de seus técnicos a obrigou a tocá-lo.

De Bruin disse que levou "anos e anos para denunciar" o que confessou recentemente porque "dói muito".

Antes, outra ciclista havia reconhecido que o mecânico de sua equipe abusou sexualmente dela em várias ocasiões. Trata-se de Marijn de Vries.

"Olha que já tinha 30 anos, mas não queria causar nenhuma confusão, portanto não disse nada", resumiu a esportista, também à "NOS".

Por todos estes casos, a ministra Schippers anunciou que apoia a investigação e explicou que é "importante que isto seja estudado adequadamente, que as vítimas possam denunciar e sobretudo que tenham a ajuda adequada disponível".

No entanto, Olfers considera que esta investigação "começa um pouco tarde" para as vítimas porque foi deixado "caminho aberto" aos agressores por "não se tomar medidas sobre o assunto" anteriormente.

Agora, ela pede "independência e profissionalismo" na investigação, se houver realmente vontade de chegar a bons resultados.