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Aldeia tenta se reerguer após vivenciar front do conflito em Nagorno Karabakh

24/02/2017 06h01

Farid Grajamanov.

Joyug Marjanli (Azerbaijão), 24 fev (EFE).- Oktay Haziev, um camponês do Azerbaijão que viveu mais de 20 anos com sua família na linha de frente do conflito em Nagorno Karabakh, sonha agora com o retorno de seus conterrâneos após o começo da reconstrução de sua aldeia natal.

"Mal nossos soldados libertaram a aldeia dos ocupantes armênios, retornamos e reconstruímos nossas casas. Isso faz mais de 20 anos e sempre estivemos sós", disse à Agência Efe Haziev, de 49 anos.

Sua família foi a única das 283 que viviam na aldeia que voltou a Joyug Marjanli em 1994, quando esta foi recuperada pelo exército do Azerbaijão após três meses de ocupação armênia, que a deixaram completamente em ruínas.

O temor dos cidadãos de Haziev estava mais que justificado: após deixar Joyug Marjanli, as tropas armênias se fortaleceram em Lele Tepe, uma colina próxima, da qual foram desalojadas apenas em abril do ano passado.

"Agora a situação está muito mais tranquila", garantiu o camponês, que presencia esperançoso os trabalhos de remoção das minas que começaram no princípio do mês na aldeia e anseiam seu renascimento em breve.

Como é habitual no Azerbaijão, Haziev vive com seu irmão mais novo, Arif, e suas respectivas esposas, formando um núcleo de oito pessoas: os dois casais, cada um com dois filhos.

Algum de seus antigos moradores já se aproximam de Joyug Marjanli para apreciar os avanços dos trabalhos.

"Voltaremos assim que for possível. Nossa casa ficou totalmente destruída", disse à Efe Muhammed Mirzaliyev, um dos deslocados pela guerra, que atualmente vive na região vizinha de Fizuli, onde nasceu há 14 anos seu filho Azadhan, que o acompanha em sua visita a sua aldeia natal.

Segundo a Agência Nacional Azerbaijana de Remoção de Minas (ANAMA, sigla em azerbaijano), a primeira etapa dos trabalhos em Joyug Marjanli contempla a remoção das minas de uma área de 100 mil metros quadrados, onde serão construídas 50 casas.

Os especialistas da ANAMA já elaboraram um plano de desminagem para uma área de quase 3 quilômetros quadrados, que inclui terrenos de cultivo.

"A reconstrução de Joyug Marjanli será uma espécie de projeto piloto para o retorno dos deslocados", disse à Efe o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores do Azerbaijão, Hikmet Hajiyev, que ressaltou que a iniciativa conta com o respaldo de diversas organizações internacionais.

De acordo com o Comitê Estatal do Azerbaijão para Assuntos dos Refugiados e Deslocados, os programas governamentais permitiram levantar 95 povoados e dar moradia a cerca de 250 mil pessoas que viviam em territórios atualmente ocupados pelos armênios e em áreas divisórias à linha de separação de forças.

Para o subdiretor dessa organização, Fouad Huseynov, a recuperação de Joyug Marjanli é a "melhor resposta" aos que têm uma atitude cética frente ao conceito do "Grande Retorno".

"Alguns representantes de organizações internacionais duvidavam que, após tanto tempo e do apoio que o Estado lhes proporcionou, os deslocados quisessem retornar ao seu cantinho de terra", disse à Efe Huseynov.

O subdiretor dessa organização acrescentou que mais de 200 famílias oriundas de Joyug Marjanli já pediram às autoridades que criassem condições necessárias para poderem retornar a sua aldeia.

Joyug Marjanli se encontra a apenas 35 quilômetros da cidade de Jabrail, capital da região homônima, ocupada por tropas armênias desde agosto de 1994.

O conflito armênio-azerbaijano remonta a tempos da União Soviética, quando, no fim da década de 1980, o território azerbaijano de Nagorno Karabakh, povoado majoritariamente por armênios, pediu sua incorporação à vizinha Armênia, após o qual explodiu uma guerra que causou cerca de 25 mil mortos.

Ao término dos combates, as forças armênias assumiram o controle de Karabakh e também ocuparam vastos territórios azerbaijanos, que chamam de "faixa de segurança", para uní-lo à Armênia.

As autoridades do Azerbaijão alegam que a solução para o conflito com a Armênia passa necessariamente pela libertação dos territórios ocupados, uma reivindicação que foi respaldada por várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU.