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Vítimas individuais de ex-líder congolês receberão compensação simbólica

24/03/2017 11h28

Haia, 24 mar (EFE).- O Tribunal Penal Internacional (TPI) decidiu nesta sexta-feira que as 297 vítimas individuais do ex-líder militar congolês Germain Katanga, condenado em 2014 por crimes de guerra e contra a humanidade, deverão receber uma compensação simbólica de pouco mais de 231 euros (US$ 250) cada uma.

Além disso, a corte opinou que centenas de milhares de euros sejam destinados a reparações coletivas em Bogoro, aldeia que sofreu o ataque das tropas de Katanga.

Trata-se da primeira vez que o TPI emite uma ordem pela qual vítimas diretas ou parentes de vítimas de condenados por este tribunal internacional devem receber uma compensação econômica individual.

No entanto, a quantidade de dinheiro para as 297 vítimas individuais será "simbólica", segundo disse o juiz francês Marc Perrin de Brichambaut, que quantificou em 231,41 euros o valor que corresponde a cada uma delas.

Na mesma ordem, o TPI quantificou em 3,4 milhões de euros, (US$ 3,7 milhões) os danos produzidos pelas tropas de Katanga, que atacaram e saquearam em 24 de fevereiro de 2003 a aldeia de Bogoro, na República Democrática do Congo, e assassinaram cerca de 200 pessoas.

Essa quantidade de dinheiro teria que ser destinada tanto a reparações individuais, ou seja, às 297 vítimas diretas, como a consertos coletivos.

Estes últimas consistiriam na construção de novas casas, projetos a longo prazo para o bem-estar da comunidade e a educação das gerações mais jovens, apoio psicológico e memoriais em Bogoro em lembrança às vítimas.

Dos quase 3 milhões e meio de euros quantificados pelo tribunal, os juízes calcularam que Katanga é obrigado a pagar 926,6 mil euros (US$ 1 milhão) por sua responsabilidade penal.

No entanto, os juízes consideram que o ex-líder militar congolês, que seguiu a decisão por videoconferência desde uma prisão em Kinshasa, não tem recursos para pagar, por isso que pediu ao Fundo Fiduciário de Vítimas, uma organização independente do TPI, que distribua a quantia que deveria ser paga por Katanga.

Esta instituição deverá apresentar antes de 27 de junho um plano que estabeleça como pode implementar os consertos, tanto individuais como coletivos, para os moradores de Bongoro.

Os representantes legais das vítimas e suas defesas poderão apresentar um mês depois suas observações ao plano apresentado pelo Fundo Fiduciário de Vítimas.

A quantidade restante de dinheiro, 2,5 milhões de euros (US$ 2,7 milhões), só será recebida pelas vítimas em forma de consertos caso o TPI condene no futuro outras pessoas que compartilharam responsabilidade penal com Katanga pelo ataque à aldeia congolesa.

Katanga foi sentenciado em maio de 2014 a 12 anos de prisão por quatro crimes de guerra e um contra a humanidade. Os juízes consideraram provado que o antigo chefe militar congolês foi o intermediário entre os provedores de armas e as tropas que cometeram o ataque de Bogoro, que teve cerca de 200 vítimas mortais.

Em novembro de 2015, os juízes decidiram reduzir sua sentença em três anos e oito meses menos ao levar em conta vários fatores, entre eles a vontade de Katanga de "cooperar" com o tribunal nas investigações, seu comportamento na prisão e seus "probabilidades de reinserção bem-sucedida".

Graças a essa redução, o ex-líder deveria ter saído de prisão em janeiro de 2016, mas a Justiça da República Democrática do Congo, em cuja capital Katanga cumpria pena, decidiu não dar a liberdade porque a Procuradoria deste país ainda investiga seu envolvimento em outros crimes.

O caso de Katanga se inscreve na Segunda Guerra do Congo, que se desenvolveu entre 1998 e 2003 e que teve como vítimas centenas de milhares de pessoas.