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Papa pode beatificar padres vítimas da violência política na Colômbia

08/07/2017 06h02

Bogotá, 8 jul (EFE). - A nomeação como mártires de dois religiosos colombianos vítimas da violência política, anunciada ontem pelo Vaticano, mostra o desejo do papa Francisco de colocar às vítimas no centro da visita que fará à Colômbia em setembro.

Um é Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, que era bispo de Arauca e foi assassinado pela guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), em 2 de outubro de 1989. O outro é o padre Pedro María Ramírez Ramos, conhecido como o "Mártir de Armero", em Tolima, no centro do país, onde foi morto em 10 de abril de 1948, em meio a uma onde de violência política gerada pelo assassinato do caudilho liberal Jorge Eliécer Gaitán no dia anterior, em Bogotá.

"A decisão do papa de tornar o monsenhor Monsalve e nosso mártir Armero como beatos mostram o desejo de colocar as vítimas no centro de um processo tão doloroso como o vivido na Colômbia com os conflitos e as rupturas da nossa sociedade", disse à Agência Efe o padre jesuíta Francisco de Roux.

Entre os dias 6 e 10 de setembro, o papa visitará a Colômbia e, segundo fontes do Vaticano, a beatificação dos dois mártires acontecerá no dia 8, em Villavicencio, na segunda parte da viagem.

Para Roux, profundo conhecedor do conflito armado colombiano, o assassinato de Monsalve mostra as "contradições" do ELN, uma guerrilha que teve religiosos entre os seus fundadores e líderes.

Nascido em 14 de fevereiro de 1916, na cidade de Santo Domingo, no departamento de Antioquia, Jaramillo foi sequestrado e assassinado em Arauquita, no departamento de Arauca, pela Frente Domingo Laín do ELN, que deve o seu nome a um sacerdote espanhol que se incorporou à guerrilha seguindo os passos do seu fundador, o padre Camilo Torres, e morreu em combate em 1974.

"Monsenhor Jaramillo foi assassinado por membros da Frente Domingo Laín, o que mostra as contradições profundas em que o país estava. Foi assassinado por uma guerrilha movida por ideais cristãos", explicou Roux, que acredita que este crime exemplifica "a degradação da guerra na Colômbia".

Padre José María Bolívar, que foi colaborador de Jaramillo até o fim, disse à Efe que o religioso era um homem "simples e abnegado" e com uma visão da Igreja baseada nos valores missionários.

"Todo o povo de Arauca lembra desse bispo missionário. Era um homem muito eloquente. Suas homilias e escritos tinham uma profundidade teológica muito grande", lembrou Bolívar.

O departamento de Arauca, onde o bispo exerceu o seu apostolado, é rico em petróleo e essa é a razão pela qual o ELN, na guerra contra as multinacionais que exploram os recursos minerais, se fez forte a partir do final dos anos 70.

"Arauca foi um dos lugares que mais vivenciou o conflito e é o reflexo da violência que todo o país viveu por décadas", resumiu Bolívar, atualmente pároco da Catedral de Santa Barbara de Arauca, na capital regional.

Ramos, por sua vez, nasceu no final do século XIX, mais especificamente em 23 de outubro de 1899, em uma família tradicional de La Plata, no departamento do Huila, no sul do país. Morreu na principal praça de Armero, quando tentava acalmar uma multidão exaltada no meio da espiral de violência do dia 9 de abril de 1948 provocada pelo assassinato de Gaitán, que gerou o conflito entre liberais e conservadores.

Segundo relatos da época, o padre Ramos foi assassinado por uma multidão de liberais que o atacou com facões e que ainda assim foi perdoada por ele com a exclamação: "Pai, perdoa-os. Tudo por Cristo".

A população de Armero foi destruída 37 anos depois, em 13 de novembro de 1985, após a erupção do vulcão Nevado del Ruiz, que deixou, aproximadamente, 25 mil mortos e é considerada a maior tragédia natural da Colômbia.

Houve quem dissesse que a catástrofe era um castigo divino pelo martírio do sacerdote. A Igreja Católica negou categoricamente a proposição e atribui a ideia ao imaginário popular.

"A impressão que tenho é de que o padre Ramos era um homem realmente muito bom, muito querido pela sua comunidade e que o que levou a essa onda de violência foi o assassinato de Gaitán. Foi visto como parte do catolicismo conservador e, nessa animosidade, o assassinaram", afirmou Roux.