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Sem ameaças e com terras caras, chineses dão novas funções a bunkers de guerra

Li Tian posa na entrada de um bunker que se tornou o estabelecimento T-Cellar, em Xangai - Paula Escalada/ Efe
Li Tian posa na entrada de um bunker que se tornou o estabelecimento T-Cellar, em Xangai Imagem: Paula Escalada/ Efe

Paula Escalada Medrano

Em Xangai (China)

14/01/2018 04h00

Após décadas abandonados à espera de ameaças externas, os bunkers de guerra construídos na China ganharam nova função, sendo transformado nos últimos anos em adegas, restaurantes e até salões de jogos para crianças.

Em cidades como Xangai, uma das mais povoadas do planeta com cerca de 24 milhões de habitantes, a terra é um bem cada vez mais valorizado. Por isso, os governos locais estão criando políticas para dar um melhor uso para esses espaços.

"Xangai é uma cidade que busca terra. Já que temos tudo ocupado na superfície, precisamos ir para baixo", afirmou Tong Songyan, diretor do Departamento Aéreo Civil de Xuhui, uma das áreas mais populares da considerada capital financeira da China.

Esse órgão é o responsável pela política implementada nos últimos anos. Centenas de refúgios de civis foram recondicionados para diferentes usos. A maioria desses bunkers tinha sido construída nos anos 1960 e 1970, na época da Guerra Fria. Desde então, eles não vinham sendo utilizados.

"Seria muito desperdício se não os usássemos para diferentes usos", afirmou Songyan.

Um desses locais é o T-Cellar, um estabelecimento dedicado à apreciação de vinhos gerenciado por Li Tian, que, depois de se mudar para a Espanha para estudar, decidiu tornar sua paixão pela bebida em profissão. Neste "buraco" ele encontrou o lugar perfeito para transformar seu sonho em realidade.

"Como estamos debaixo da terra, as condições para que o vinho seja conservado são ideais", contou Li.

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Sala de jogos em um dos bunkers de Xangai
Imagem: Paula Escalada/ Efe

Esse refúgio, construído em 1973, agora está perfeitamente condicionado para conservar as garrafas da bebida e dispõe de salas onde os clientes de Li podem prová-las. As marcas que buscam mercado na China também podem utilizar o espaço para eventos.

Apesar de a decoração ter sido feita por Li, todo o restante - obras de infraestrutura como a de adequação elétrica e de encanamentos - foi feito pelo governo local.

Segundo Songyan, apenas em Xangai há 50 milhões de metros quadrados de refúgios para civis. Em Xuhui há construídos quatro milhões de metros quadrados em cerca de dois mil bunkers. Do total, 1,7 mil são utilizados para outro propósito além do original.

No entanto, em caso de ameaça, eles seriam readaptados com facilidade.

"Eles são projetados para tempos de guerra, portanto, definitivamente, têm funcionalidades para emergências. Queremos explorar outras opções, mas eles são projetados para a defesa civil. Se algo ocorrer no futuro, é possível fazer rápidas transformações para que eles se tornem novamente um refúgio", explicou.

Manter os espaços ocupados também é uma estratégia de garantir que os trabalhos de reparos sejam feitos constantemente.

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Li Tian exibe uma garrafa de vinho em T-Cellar, estabelecimento que é um antigo bunker
Imagem: Paula Escalada/ Efe

A maioria dos espaços foi convertida em armazéns, estacionamentos, lojas ou salas para estudantes. Um colégio do distrito, por exemplo, utiliza um refúgio para atividades extraclasse. Quando chove e não é possível realizar aulas de educação física ao ar livre, os alunos são levados para o bunker, onde praticam tênis de mesa.

O refúgio, que fica embaixo da quadra de basquete do colégio, conta com uma porta de segurança máxima que o isola do exterior. O local está protegido até de ataques aéreos.