França: 200 candidatos desistem de eleições para barrar extrema direita
Após o fim do prazo para a inscrição das candidaturas nesta terça-feira (02), às 18h de Paris (13h de Brasília), um panorama do segundo turno das eleições legislativas começa a ser vislumbrado, ainda que os resultados ainda não possam ser previstos. Quem vai ter a maioria na Assembleia Nacional, quem será o novo primeiro-ministro e como serão os últimos anos de governo de Emmanuel Macron são perguntas que só serão respondidas após os resultados, no próximo domingo, 7 de julho.
Segundo o jornal Le Monde, 131 candidatos de esquerda decidiram deixar a disputa. Do lado macronista e do centro, o jornal registrou 82 desistências. Dois candidatos dos Republicanos (direita) e outros dois do Reunião Nacional (RN, extrema direita) também estão fora do segundo turno.
Muitas vezes sem entusiasmo, as desistências de candidatos macronistas ou de esquerda ocorrem na esmagadora maioria das zonas eleitorais onde pelo menos três candidatos foram qualificados e aonde o partido de Marine Le Pen tem as maiores chances de vencer. Um exemplo são as regiões de Haute-Garonne e Hérault, onde a ministra Dominique Faure (Coletividades territoriais e Agricultura) e Patricia Mirallès (secretária de Estado) acabaram desistindo.
"As retiradas não significam uma coligação", repetiu o primeiro-ministro Gabriel Attal, reafirmando que não se tratava de "uma coalizão, uma aliança" com a França Insubmissa (LFI), partido de esquerda radical.
Ao limitar o triangular e o quadrangular, o objetivo é evitar que o RN obtenha a maioria absoluta de 289 deputados. Se isso for alcançado, os oponentes do partido de extrema direita vão enfrentar a dura tarefa de formar uma maioria ou um governo alternativo capaz de liderar a França.
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Por outro lado, Jordan Bardella (RN), pronto para assumir o cargo de primeiro-ministro, denunciou "alianças de desonra" e apelou aos eleitores que lhe concedessem maioria absoluta "face à ameaça existencial à nação francesa" que, segundo ele, é a Nova Frente Popular (NFP), a união da esquerda.
Um caso específico ilustra bem os "esforços". Em Calvados, o candidato da LFI, se retirou para favorecer a reeleição de Élisabeth Borne, que foi primeira-ministra de Macron, contra quem a esquerda, no entanto, lutou vigorosamente nas reformas das previdência e da imigração.
Na outra direção, apesar do "nem RN, nem LFI" defendido por Édouard Philippe, antigo primeiro-ministro e candidato do Horizons em Seine-Maritime, Laurent Bonnaterre, retirou-se, oferecendo assim a possibilidade a Alma Dufour, deputada da LFI, de manter o seu lugar.
E algumas particularidades estão surgindo, como em Paris, onde a candidata da NFP, Théa Foudrinier, se retirou a favor da macronista Astrid Panosyan-Bouvet, que enfrentará uma candidata dos Republicanos, de direita.
"Vencer a extrema direita"
Emmanuel Macron disse aos seus ministros que "nenhum voto" deveria "ir para a extrema direita", lembrando que a esquerda se mobilizou contra o RN em 2017 e em 2022, permitindo a sua própria chegada ao Palácio do Eliseu.
Uma forma de responder àqueles que, como Bruno Le Maire, ministro da Economia, colocam o RN e a França Insubmissa lado a lado, acusados ??de terem flertado com o antissemitismo durante a campanha europeia.
Do lado da sociedade civil, diversos sindicatos se uniram para pedir voto nos candidatos "mais bem colocados para vencer a extrema direita", tal como defende um coletivo de mais de mil historiadores em um artigo do Le Monde.
Já o Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF) permaneceu na sua linha "nem RN, nem LFI".
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No domingo (30), a onda de extrema direita varreu com mais de 10,6 milhões de votos, 33,1% dos votos, um nível histórico - ultrapassando o segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
No primeiro turno, o RN elegeu 39 deputados, começando por Marine Le Pen em Pas-de-Calais. O partido, aliado de Éric Ciotti, classificou-se em 443 dos 577 círculos eleitorais e lidera em 296 deles.
Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, a extrema direita pode governar a França. E poucas opções estão disponíveis para outras forças políticas para evitá-lo. Jordan Bardella já disse que recusaria o cargo de primeiro-ministro se não tivesse maioria absoluta, ou seja, 289 deputados.
Mas, se o RN se aproximar, com "por exemplo 270 deputados", Marine Le Pen indicou que o seu partido procuraria atrair "deputados de direita e de esquerda, que manifestaram, no passado, uma proximidade conosco", disse ela.
Se o partido de Le Pen não conseguir governar, os macronistas, parte da esquerda e alguns republicanos poderiam tentar formar uma "grande coligação", comum nos países europeus, mas estranha às tradições políticas francesas.
(RFI com agências)
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