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Centro-americanos que fugiram da violência sofrem com preconceito no México

28/04/2018 06h01

Tijuana (México), 28 abr (EFE).- Os moradores da área fronteiriça do México com os Estados Unidos mostraram pouca empatia aos primeiros centro-americanos que chegaram à região em uma caravana, sobretudo nas redes sociais, onde é possível ver muitos comentários depreciativos.

Desde a formação da caravana com cidadãos de El Salvador, Honduras e Guatemala, principalmente, figuras políticas, incluindo o presidente americano, Donald Trump, criticaram o movimento migratório.

Depois, foi a vez de alguns políticos mexicanos manifestarem opiniões negativas e dos cidadãos, que qualificaram os migrantes de "aproveitadores", "ladrões", "vagabundos" e "membros de gangues".

Ao contrário da percepção, os migrantes saíram dos seus países de origem em busca de uma vida melhor. Em quase todos os casos, a narrativa é a mesma: fugiram dos seus países por conta da violência.

Andrés Rodríguez Hernández tem 50 anos de idade e é de El Salvador, de onde saiu para proteger seu filho e seu sobrinho, que eram constantemente perseguidos por grupos criminosos.

"Nosso governo perdeu o controle de tudo e já não se pode viver", lamentou Hernández, que explica que não migrou por capricho, mas porque se tornou insustentável a situação de ter que pagar às gangues para que tivesse permissão para trabalhar, sob ameaça de morte.

Sua esperança é ter asilo concedido nos EUA. Caso não consiga, gostaria de ficar no México.

"Sei que no México o povo é bom e trabalhador, e eu trabalho para eles no que quiserem", declarou.

Em situação similar está Josué, de 39 anos, que também fugiu de El Salvador com sua esposa grávida devido às ameaças de morte que recebeu de membros de gangues.

O homem relatou que durante o trajeto sua mulher teve duas indisposições e em uma ocasião teve que ser hospitalizada, mas se recuperou sem nenhuma complicação, e agora só querem descansar para depois começar os trâmites de asilo nos próximos dias.

Josué diz que quer "poder viver sem medo". Por isso, se não receber asilo nos EUA, irá atrás de um lugar onde possa ter paz e tranquilidade, pois "não se pode viver em um lugar onde estão te ameaçando de morte diariamente".

O hondurenho Carlos Antonio Guerrero, de 37 anos, concordou que a violência foi um dos fatores que o fizeram embarcar nesta travessia com sua esposa e quatro filhos, já que o crime organizado tem se tornado incontrolável e as autoridades não protegem a população devido ao alto nível de corrupção.

Guerrero comentou que se não for aceito nos EUA buscará alguma maneira de viver no México, já que encontrou apoio no país.

"Não queremos roubar nem fazer coisas ruins, como muitos dizem. Quero trabalhar e apoiar minha família", ressaltou.

"O México é o melhor país que conheci e seu povo é abençoado por Deus. Espero poder ficar, se me deixarem", acrescentou.

Mais de 130 dos quase 1.500 migrantes da caravana que iniciaram a viagem em Tapachula (estado de Chiapas), chegaram no dia 24 de abril em dois ônibus a Tijuana, na Baja California, enquanto um grupo de cerca de 200 pessoas parou em Hermosillo, no estado vizinho de Sonora.

O resto da caravana se dispersou de forma paulatina desde a sua chegada a Puebla e à capital mexicana, na região central do país, tanto pelos planos dos próprios migrantes como pelas ofertas das autoridades mexicanas de analisar um potencial asilo.

Alguns dos migrantes que permanecem em Sonora iniciaram trâmites no Instituto Nacional de Migração (INM) para solicitar ao governo mexicano permissão para ficar.

"Saí do meu país por falta de emprego; a criminalidade está bárbara. Então tomei a decisão de migrar e ficar aqui no México", disse Sonia Lizeth Cáceres Beltrán, procedente de Honduras.

Sonia disse ter deixado seus pais e filhos porque pediam comida e ela não tinha nada para dar.

"É assim porque não há oportunidades, nem se formos estudados, nem para trabalhar sem estudos, para nada", contou a hondurenha.

"Pensava em atravessar até o norte, mas a verdade é que está difícil porque o presidente dos EUA, Trump, não nos quer. Na realidade, não nos dá a oportunidade de atravessar a fronteira. Então tomei a decisão de ficar no México porque a verdade é que aqui, sim, nos dão amor e nos tratam muito bem", disse Sonia, de 27 anos.

Benjamín Moreno Galindo, diretor de Atendimento a Grupos Prioritários e Migrantes do Governo de Sonora, lembrou que, junto a grupos de voluntários e ativistas sociais, deram apoio à caravana.

"Nós temos nos encarregado da segurança, tanto dos migrantes que vieram no trem como de ônibus. Coordenamos com os albergues que trabalhamos na direção; nos coordenamos com dependências estaduais, federais e municipais. Estiveram junto a Cruz Vermelha e a Comissão Nacional dos Direitos Humanos", explicou.