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Visita de Francisco à Letônia alimenta ecumenismo e gera certa controvérsia

21/09/2018 06h03

Juris Kaza.

Riga, 21 set (EFE).- A visita do papa Francisco à Letônia na próxima segunda-feira, na primeira em 25 anos de um chefe da Igreja aos países bálticos, vai ser motivo de celebração e de um pouco de controvérsia nesta pequena nação de dois milhões de habitantes, na qual apenas cerca de 400 mil são católicos.

O papa passa antes pela Lituânia, país de maioria católica, após dois dias repletos de cerimônias religiosas, reuniões com políticos e encontros com o público nas cidades de Vilnius e Kaunas, em uma nação que espera esta visita de forma muito diferente à de João Paulo II em 1993.

"Aquilo foi algo extraordinário para nós, que acabávamos de deixar o regime soviético e seus ataques à religião. João Paulo II era alguém que também tinha crescido em um país comunista, a Polônia, e sua experiência vital era similar à da maioria de letões de então, independentemente que fossem católicos ou não", lembrou à Agência Efe Maruta Latkovska, escritora e ex-redatora-chefe de um jornal católico local.

O arcebispo de Riga, Zbignevs Stankevics, reconheceu que a situação atual é diferente daquela de um quarto de século atrás, mas considerou que a visita do papa é igualmente necessária, tanto para os católicos como para os demais letões.

"O papa não está só visitando os católicos, mas todos os letões. Ele não vai falar apenas da mensagem de Jesus, mas também sobre respeito humano, solidariedade, desenvolvimento e comunidade. Espero que a visita ajude os cidadãos da Letônia a serem conscientes de suas raízes espirituais e de sua herança cristã", afirmou Stankevics, em declarações à Efe.

Pelo menos 32 mil pessoas já se cadastraram para assistir na tarde de segunda-feira, a missa que será celebrada pelo papa na Basílica da Assunção, na cidade de Aglona, embora os organizadores prevejam cerca de 50 mil, segundo Ingrida Lisenkova, responsável do Centro de Informação da Igreja Católica letã.

A Basílica de Aglona é um centro de peregrinação nacional no qual todo dia 15 de agosto, principalmente desde a recuperação da independência em 1991, se concentram grandes massas de fiéis.

Francisco vai participar também de vários atos ecumênicos, reconhecendo o vigor que tem neste país báltico a tendência de buscar a restauração da unidade dos cristãos, algo ligado curiosamente a seu passado soviético de repressão religiosa, que uniu os fiéis.

Espera-se, além disso, que o papa se refira ao bispo Boleslavs Sloskans, que está em processo de santificação e que é o sacerdote católico letão mais conhecido, perseguido por sua fé pelo regime soviético.

A visita foi criticada porque o Saeima (Câmara Baixa) aprovou uma lei extraordinária tornando feriado nacional a segunda-feira da visita de Francisco, algo que os críticos desta medida percebem como uma afronta à separação obrigatória entre igreja e estado, além de um prejuízo econômico para as empresas, que têm que dar um dia extra de folga a seus funcionários.

O governo também foi criticado devido ao custo dos eventos, que vão representar para as cofres públicos uma despesa de um milhão de euros.

A viagem de Francisco também serve para reavivar um caso recente de exploração sexual de um incapacitado, no qual estava supostamente envolvido um sacerdote católico letão, fatos esses que se misturam com a polêmica internacional por causa dos vários escândalos de abusos sexuais no seio da Igreja Católica.

Após sua visita à Letônia, está previsto que Francisco viaje para Tallinn, capital da Estônia, outro país majoritariamente protestante, onde terá encontros com membros do governo e da sociedade civil, e realizará uma missa ao ar livre na praça da Liberdade.