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Cuba mantém nas cúpulas ibero-americanas o mistério que rodeava Fidel

13/11/2018 18h45

Lorena Cantó.

Havana, 13 nov (EFE).- Presidentes de Cuba não participam de uma Cúpula Ibero-Americana desde a edição de 2000, no Panamá, e ainda é uma incógnita se o atual mandatário estará no evento realizado nesta semana em Antigua, na Guatemala.

Miguel Díaz-Canel, que assumiu a presidência em abril, sucedendo Raúl Castro, tem a oportunidade de reaproximar o país da cúpula, uma semana antes de receber em Havana uma visita do presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez.

A presença de Díaz-Canel na reunião seria vista como um gesto de cortesia diplomática em relação ao país europeu, que dá grande importância à cúpula.

A especulação sobre a presença ou não de Fidel Castro em cada cúpula sempre foi destaque nos bastidores. Como disse um diplomata encarregado da organização do evento em 2003, na Bolívia, "até um dia antes, nunca se sabe se ele virá".

O "cisma" entre os presidentes cubanos e essas reuniões começou no ano 2000, durante a Cúpula do Panamá, quando Fidel denunciou ser alvo de um possível atentado que contaria com a participação do ex-agente da CIA Luis Posada Carriles (que morreu em maio deste ano). O então líder cubano, que tinha sido fiel à reunião desde que foi criada, em 1991, nunca mais voltou a comparecer.

Nas ocasiões em que justificou a ausência, Fidel alegou motivos como "razões de trabalho" em 2002, a recuperação das lesões sofridas durante uma queda em 2004, e o desejo de negociar pessoalmente a ajuda cubana após o terremoto no Paquistão em 2005.

A representação cubana neste fórum diminuiu desde então. O país, que era um grande protagonista das cúpulas pela expectativa - e questões de segurança e protocolo - causada pela possível presença de Fidel, se tornou um eterno ausente em nível de chefe de Estado.

Outro que nunca marcou presença foi Raúl Castro, que em 2006 sucedeu o irmão como presidente, primeiro temporariamente, devido à grave doença do antigo comandante, e foi efetivado a partir de 2008.

Para as cúpulas de 2001 a 2007, Cuba enviou o vice-presidente, Carlos Lage. A exceção foi em 2005, em Salamanca, quando o chanceler Felipe Pérez Roque representou o país.

Em 2008, quando a reunião ocorreu em San Salvador, capital de El Salvador, e reuniu 18 chefes de Estado, a delegação cubana foi liderada pelo embaixador no Brasil, Pedro Núñez Mosquera.

O diplomata voltou a representar Cuba na Cúpula Ibero-Americana do Panamá, em 2013, como diretor de Assuntos Multilaterais da Chancelaria, um perfil com menos destaque, talvez uma tentativa de diminuir o brilho no cenário em que, segundo o governo cubano, a vida de Castro correu riscos 13 anos antes.

Em 2008, surpreendeu a ausência de Lage, que tinha comparecido nos anos anteriores, pois nada indicava que o louvado e poderoso vice-presidente seria fulminantemente deposto quatro meses depois tarde, junto com o chanceler Pérez Roque.

O substituto de Pérez Roque como chefe da diplomacia cubana foi Bruno Rodríguez, que ainda está no cargo e estreou como líder da delegação do país na Cúpula de Estoril, em Portugal, em 2009.

Rodríguez foi a presença cubana mais constante desde esse ano, pois representou Cuba em Mar del Plata (Argentina, 2009), Assunção (Paraguai, 2011), Cádiz (Espanha, 2012) e Cartagena das Índias (Colômbia, 2016).

Caso Miguel Díaz-Canel decida comparecer a Antigua, não será sua primeira vez neste tipo de reunião: ele esteve na de Vera Cruz (México) em 2014, ainda como primeiro vice-presidente de Cuba. Lá, quando seu nome já soava como possível sucessor de Raúl Castro, defendeu o papel da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) como fórum natural dos países da região.

Duas semanas antes da 26ª Cúpula Ibero-Americana, Cuba ainda não anunciou quem enviará a Antigua. Embora Fidel já tenha morrido há dois anos, foi mantido o costume de não anunciar as viagens do presidente cubano com antecedência.