Julgamento de Trump aborda práticas da imprensa sensacionalista para beneficiar magnata

O ex-presidente dos EUA Donald Trump voltou, nesta sexta-feira (26), ao tribunal penal em Nova York onde é julgado por falsificar documentos contábeis para ocultar notícias comprometedoras, ao término de uma semana em que foram dissecadas as práticas pouco escrupulosas da imprensa sensacionalista. 

A promotoria acusa Trump de incorrer em "fraude eleitoral" após o pagamento feito por seu então advogado pessoal, Michael Cohen, de 130 mil dólares (671 mil reais em valores atuais) à ex-atriz de cinema pornô Stormy Daniels para comprar seu silêncio na reta final das eleições nas quais ele derrotou a democrata Hillary Clinton. 

Primeira testemunha da promotoria, o ex-editor do jornal sensacionalista National Enquirer, David Pecker, de 72 anos, descreveu ao longo da semana as práticas de um dos tabloides mais populares do país para publicar apenas coisas positivas sobre Trump e negativas sobre seus rivais políticos. 

Segundo ele, seu objetivo era "proteger" o republicano para que esse tipo de notícia negativa não interferisse em sua campanha eleitoral, o que beneficiava tanto o candidato quanto o tabloide, que aumentava suas vendas.

Os seguidores do magnata imobiliário nova-iorquino, assim como os leitores da publicação, "adoravam ler coisas positivas sobre Donald Trump", então apresentador do 'reality show' "O Aprendiz", disse Pecker. "E quando anunciou que se candidataria à Presidência (...) nossas vendas aumentaram", acrescentou.

- "Pegar e matar" -

Pecker contou que esteve envolvido no pagamento a um porteiro da Trump Tower que vendia uma informação aparentemente falsa de que Trump teria um filho fora do casamento, e em outro a Karen McDougal, uma modelo de Playboy que afirmava ter tido um caso de um ano com ele.

Em uma prática que a imprensa anglo-saxã denomina de "pegar e matar", Pecker revelou o pagamento de 150 mil dólares (775 mil reais em valores atuais) por parte da editora do National Enquirer a McDougal para que não revelasse a suposta relação.

"Compramos a história para que não fosse publicada em nenhum outro meio", reconheceu Pecker à promotoria. "Não queríamos que prejudicasse Trump ou causasse danos à sua campanha", afirmou. 

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À medida que os possíveis escândalos se acumulavam no período que antecedeu a eleição de 2016, Pecker teria sugerido ao advogado do magnata que ele realizasse o pagamento a Stormy Daniels. "Não sou um banco", disse ele a Cohen.

Encoberto como gastos legais do advogado, esse pagamento levou o magnata para o banco dos réus, em plena campanha eleitoral para sua provável revanche contra o presidente democrata Joe Biden nas eleições de 5 de novembro. 

Diante dos 12 jurados e seis suplentes que selarão o destino do republicano, o advogado de defesa procurou desmascarar a noção da acusação de que foi um esquema orquestrado para ajudar Trump, dizendo que é uma prática padrão dos tabloides. 

A promotoria acusa o ex-presidente de 34 falsificações de documentos para encobrir o pagamento a Daniels por uma suposta relação que teriam mantido em 2006 e que Trump sempre negou.

- Aniversário de Melania -

Após Pecker, outras duas pessoas depuseram: Rhona Graff, braço direito de Trump por décadas, que confirmou que os números de telefone de McDougal e Daniels estavam registrados entre seus contatos; e Gary Farro, que havia ajudado Cohen a enviar o dinheiro a Daniels. 

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O depoimento de Farro continuará na terça-feira, já que na segunda não há audiência.

Ao chegar ao tribunal, o ex-presidente republicano parabenizou sua esposa Melania pelo aniversário dela e disse que a encontraria à noite, no final da audiência desse julgamento "horrível e inconstitucional".

O magnata reclama que enquanto ele é obrigado a passar o dia inteiro no tribunal, seu adversário Biden está fazendo campanha.

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© Agence France-Presse

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